segunda-feira, dezembro 31, 2007

3 anos...

Para mim, 31 de Dezembro tem uma dupla vertente.
Por um lado, marca a despedida de 2007 e a entrada em 2008.
Facto que, de tão simbólico como arbitrário (basta que o calendário seja outro e tudo será diferente), vale o que vale...
Por outro lado, marca o fim do 3º ano e a entrada no 4º ano, deste Peciscas, que lá se vai mantendo por aqui.

Facto que, igualmente, vale o que vale. Um obrigado a todo o pessoal que ainda vai tendo paciência para aturar as arengas e parvoices que aqui vou despejando, ao sabor do humor e da disposição do momento.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Nos meus tempos de Timor, eu e os colegas que morávamos na casa que alugámos para escapar ao ambiente militar, fora das horas de serviço, resolvemos criar uma sala de estudo.
Mais para entreter do que para ganhar dinheiro.
Preparávamos, para exame de auto-propostos, adultos que queriam ampliar as suas qualificações académicas (para usar a designação agora em moda...).
De referir que os programas em vigor naquele território, como, aliás, nas restantes parcelas "ultramarinas" eram os programas criados para os alunos do então designado "Portugal Continental".
Assim, por exemplo, em Timor, os estudantes aprendiam as serras e rios do Minho ao Algarve, sem que fosse obrigatório referir um único rio ou uma serra timorense.
Até as linhas férreas tinham de conhecer quando, ali, nunca houve nem haveria, qualquer comboio...
Mas adiante...
O C. tinha a seu cargo as aulas de Inglês.
Certo dia, quando falava sobre peças de vestuário, ao chegar ao chapéu, disse algo como:
-My hat is black.
Reacção imediata das alunas (eram só mulheres): gargalhadas abafadas, cotoveladas umas nas outras e baixar de olhos.
E o colega, sem entender:
- Mas o que é que foi? Eu disse "My hat..."
Nova risada, agora mais franca e clara.
E o C. , por mais que insistisse, não conseguia entender o que se passava.
Até chegar à suspeita de que aquela expressão teria algum significado muito particular, em tétum, que era o dialecto local dominante.
Deste modo, depois de acabada a aula, veio falar comigo, perguntando-me se eu sabia o significado do som "My hat" em tétum.
Não sabia.
Mas o nosso empregado João, timorense, teria a resposta.
De modo que o fomos consultar.
-João, o que quer dizer "Mai het" (seria mais ou menos esta a grafia no dialecto)?
E o João, que era um homenzarrão, casado , com 6 filhos, fora os ameaços extra-conjugais. embaraçado, desviou o olhar.
Insistimos.
-João, diga lá o que é!
Só após a terceira tentativa, o bom do nosso amigo, de olhos pousados no chão disse, quase num susurro.
-Quer dizer "vem f...azer amor..." (é claro que o vocabulário português do João, era muito mais directo, sem recurso ao habitual eufemismo).
E pronto! Estava encontrada a explicação dos risinhos das alunas.
É caso para dizer: olha que o tétum também é uma língua muito traiçoeira!

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Há coisas que não aceito



Há dias, cerca de meia centena de jornalistas e figuras da vida política e intelectual, pode visitar a Cartuxa de Évora, onde vivem doze monges, em reclusão total e quase em silêncio.
Esse acontecimento, foi considerado como excepcional, já que aqueles religiosos não querem ver perturbado o seu recolhimento.
No entanto, esta notícia, que apenas me despertou, inicialmente, uma breve curiosidade trazia, em nota marginal, um aspecto que me fez tocar campainhas de alarme.
É que, ao chegar à porta do convento, e de acordo com a reportagem, "o grupo foi obrigado a uma pequena cisão, já que os elementos femininos teriam de ficar à porta"." Se a entrada de um leigo na Cartuxa é já por si uma acto extraordinário, seria um colosso uma mulher franquear aqueles portões".
Assim mesmo.
Se o facto de uma comunidade se afastar do mundo é, no meu ponto de vista, um acto que denota algum egoísmo (pois, no fundo, é uma fuga à realidade que, a ser generalizada traria a paralisia da sociedade) a marginalização liminar e sem remissão, das mulheres, é algo que me surpreende ter sido tão placidamente acatada.
Pessoas, como António Barreto, Bagão Félix ou José Manuel Fernandes, tantas vezes a erguerem vozes pela igualdade de direitos das mulheres, aceitaram de bom grado que as suas companheiras de viagem ficassem à porta, em nome de uma visão doutrinária que ainda as considera como "tentações pecaminosas".
Sinceramente, há coisas que não entendo
Ou entendo, mas não aceito.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Transformismo fotográfico...

Este post foi inspirado por um outro, que o Manel publicou no dia 5 de Dezembro.
De facto, as fotografias, transcendem, a maior parte das vezes, a realidade que pretendem retratar.
E, assim, elas são o reflexo da criatividade do fotógrafo e da sua sensibilidade, que o levam a "ver", para lá dessa própria realidade.
E, actualmente, com os programas de edição de imagem, disponíveis nos nossos computadores, a "manipulação" só parece ter os limites da própria imaginação.

Aqui vos trago um exemplo.
Há tempos, publiquei algumas fotos obtidas junto da "Torre das Antas", numa manhã em que o Porto acordou com nevoeiro, com o sol a tentar furar a cortina...
Pequei numa dessas fotos:

foto Peciscas E trabalhei-a com um programa (Corel Painter). E os resultados, por vezes bem estranhos, e a sugerirem outras interpretações, foram (entre outros) estes:

foto Peciscas
foto Peciscas
foto Peciscas

quinta-feira, dezembro 20, 2007

A metáfora da lareira.

foto Peciscas Nestes dias em que o frio aperta e acendo a lareira em busca de algum conforto, dou por mim a fazer uma analogia.

O processo começa com o riscar de um fósforo, que inicia uma débil chama.
Que se propaga a uma pequena acendalha, ainda frágil e incipiente.
Logo a seguir, leves farripas de madeira, contribuem para que essa chama ganhe um pouco mais de intensidade.
Em seguida, acrescentam-se pedaços de lenha um pouco maiores.
E as labaredas vão aumentando.
Quando atingiram um grau mais consistente, já se poderão colocar achas, cada vez maiores e mais pesadas.
E, aquilo que começou por ser um pequeno clarão, já tem a dimensão de uma fogueira.
Mas, se por acaso não se seguirem estas etapas, e precipitarmos os acontecimentos, colocando , na parte inicial,as achas mais pesadas, o fogo vai-se extinguir e, o mais que provoca, é fumarada estéril.

O mesmo se passa com a chama das ideias.
Quantas vezes, nascendo no mais recôndito de uma mente, a ideia se fica por ali.
Mas, se quem a gerou, a fizer sair, ao encontro de outras mentes, ela pode germinar, propagar-se, ganhar relevo, galgar fronteiras. E, em breve, irá ter a dimensão universal de uma campanha, de uma doutrina, de uma teoria, de uma moda, de um credo.
No entanto, quantas ideias, que poderiam mudar o mundo, terão morrido quase à nascença, sufocadas pelo peso das convenções, dos interesses, das conveniências, dos mitos?
Deixando, quando muito, um rasto de fumo, que em breve se desvanecerá no esquecimento da história?

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Um bicho estranho...


A professora disse aos alunos para pegarem no livro "Bichos" de Miguel Torga, seleccionarem um dos contos e redigirem um pequeno trabalho sobre ele.
Passado algum tempo, a professora, recolheu os trabalhos, perguntando a cada um, qual o conto que tinha escolhido.
Quando chegou a vez do M., a professora:
-Então, M., diz lá o nome do conto que escolheste.

- Prefácio, setora!

Nota- não é anedota. Aconteceu mesmo, durante o 1º Período escolar que agora acabou, na escola onde trabalhei. De realçar que, como o prefácio desta inesquecível obra do Torga só tinha uma ou duas páginas, o M. pensou que seria a opção que lhe daria menos trabalho.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Boas acções ?

Há dias, pelas razões que então expliquei, fiz aqui eco de um apelo que consistia em, nesta época natalícia, procurar praticar acções de solidariedade para com o próximo.
Depois, ainda de acordo com o promotor da ideia, dever-se-ia, no respectivo blog, descrever o que se fez, ou, muito simplesmete, afirmar "eu cumpri".
Por mim, considero que este tipo de apelos, partem, sem dúvida, de pessoas bem intencionadas e generosas.
Mas, sobre eles, tenho algumas questões.
Em primeiro lugar, a da relatividade das chamadas "boas acções". Aquilo que eu posso considerar que é positivo, altruista, pode, afinal, visto por outro ângulo, ser classificado como uma acto egoísta e exibicionista.
Por outro lado, o facto de, em certas épocas ou conjunturas, se querer inventariar "boas acções" poderá significar que elas andam cada vez mais arredias do nosso quotidiano.
Cá por mim, tento viver com os outros do modo mais leal possível e, sempre que alguém precisar dos meus fracos préstimos, tanto materiais como, como, sobretudo, de ordem afectiva, procuro "estar lá". Sem que encare essas atitudes como "obrigação social".
No momento presente, infelizmente, um dos membros da família, está a viver uma situação em que esse apoio e essa solidariedade são particularmente necessárias.
Estou a acompanhá-lo, com o apoio possível.
No entanto, nunca direi que "cumpri" qualquer obrigação ou promessa.
Porque, em primeiro lugar, não foi essa a minha preocupação.
E, depois, quem sabe se, verdadeiramente, cumpri alguma coisa?

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Hoje, post colectivo pela Flavia



clique na imagem para aceder ao blogue da Flavia

Hoje estou a participar num movimento colectivo, que tem por fim divulgar a história de uma menina brasileira, que, atingida por um tão estúpido como trágico acidente, vive em coma, há cerca de dez anos.
Aqui, também, se faz eco, dos incompreensíveis meandros de uma justiça, que se enreda em peias burocráticas, que impedem que, de algum modo, seja ressarcida esta inocente vítima da incúria e da negligência.
É claro que não há indemnização, que compense a perda de uma juventude e de um sorriso tão belo como o era o desta menina.
Mas, no mínimo, há a reparação que é devida e que tem de assumir uma dimensão que esteja minimamente correlacionada com a perda que atingiu esta família.
Aqui deixo também, na solidariedade do dia de hoje, uma menção muito especial, para a coragem, a dedicação e o amor, da mãe Odele, que não desiste na sua luta, persistente e empenhada.
Um beijinho muito carinhoso para as duas.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

"Casa do americano" versão 2007

Desde há três anos que vos mostro esta casa que, na altura do Natal, assume foros de vedeta...

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Recomendo


Tem um nome incomum e bastante divertido.
Mas, para além disso, tem boa comida.
Para quem privilegiar este aspecto em detrimento do requinte das instalações, pois é, mais ou menos, um restaurante/tasca, só tem a lucrar em abancar por esses lados.
Estive lá há dias e recomendo, por exemplo, o naco de vitela assado na brasa.
Carne tenra, suculenta, saborosa.
A pinga, verde ou madura, também, não é de desprezar.
Palavra que não sou pescador, nem caçador e não estou a mentir...

terça-feira, dezembro 11, 2007

Missão de acção para um mundo melhor ...

Este movimento começou aqui e chegou-me, conforme ontem disse, através da Isabel Filipe, que me nomeou e que também pertence ao núcleo algo restito de amigos e amigas a quem sou incapaz de não corresponder...

Transcrevo:
Vou pedir um gesto de boa vontade, propondo um pequeno desafio, dado o período natalício que atravessamos, (melhor seria que fosse alargado a todo o ano). Pretende-se evitar em especial nesta quadra a hipocrisia e encontrarmos um gesto de amor para com o próximo.
- A proposta consiste em efectuar um pequeno gesto, uma palavra, uma acção, uma doação, o que entenderem para com outro ser.
- Deverá efectuar um a três gestos, e se possível solicitar ao outro para continuar a cadeia, (este pedido não é fundamental, e esta atitude só deverá ser tomada se as circunstancias o permitirem). Deverá solicitar o pedido para esta missão, num mínimo a 3 e num máximo a 7 blogues amigos
- Recomenda-se descrever no seu blogue a acção praticada como exemplo a seguir por outros, sendo opcional a narrativa curta ou longa, ou simplesmente EU CUMPRI,
- Deverá publicar no seu blogue na semana que antecede o Natal a descrição da missão realizada (se o entender-facultativo) e a frase:

Eu colaboro para um mundo melhor, e você?

... e assim ... eu nomeio para esta missão de boa vontade:

os três primeiros visitantes do Peciscas, que estejam, dispostos a continuar a cadeia.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Vamos participar num post colectivo, em prol da Flávia

Aqui faço eco do primeiro de dois movimentos, que me chegaram através da Isabel Filipe. Amanhã publicarei o segundo.





RALOS DE PISCINAS - EXIJA FISCALIZAÇÃO!

(clicar na imagem para ir ao Blog de Flávia)


Copie o selo acima e participe da blogagem colectiva programada para o dia 17.12.2007.

Palavras de Odele, mãe de Flávia:


Este blog existe, porque minha filha Flavia, que em poucos dias completará 20 anos de idade, está em coma vigil há quase 10 anos desde que um acidente com RALO DE PISCINA lhe interrompeu a infância saudável.
Este blog existe porque o acidente acontecido com Flavia já havia acontecido com outras crianças e continuou a acontecer, no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, Na França, na Rússia...E este blog existe porque apesar da ação devastadora dos acidentes causados por ralos de piscina, locais e empresas responsáveis pela venda, instalação e manutenção desses ralos que compõem os sistemas de sucção de piscinas, continuam indiferentes à sorte das vítimas, continuam na impunidade, mesmo muitos anos depois da ocorrência das tragédias.
É preciso urgência na fiscalização da venda, instalação e manutenção dos sistemas de sucção de piscinas. É preciso punição exemplar para quem cometeu ou venha a cometer negligências com a segurança dos sistemas de sucção de piscinas. É preciso cobrar agilidade da justiça na proteção das vítimas.
Como eu disse no post anterior, sozinhos fica difícil, mas juntos, somos poderosos.
Por isso, peço a adesão de vocês na blogagem coletiva que estará acontecendo no próximo dia 17 de Dezembro, para aumentar a visibilidade da história de Flavia que é apenas um exemplo, não só no Brasil mas no mundo, da negligência, da impunidade e do desrespeito aos direitos humanos de todos nós.
Muito obrigada.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Post sonoro 17

Hoje, falo de uma tentativa de sequestro em ...Singapura!



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essencial ligar as colunas e regular o som

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Bom tempo? Mau tempo?

Um destes dias, ouvi, no programa do provedor do Ouvinte (Antena 1) alguém que criticava o facto de os locutores, ao darem a previsão do tempo, falarem, frequentemente, em "bom tempo" ou "mau tempo", sem se aperceberem de como esses conceitos são relativos.
E dava um exemplo: para um agricultor ou um criador de gado, que vê as suas culturas estiolarem com falta de água, ou o seu gado morrer à fome por falta de pastagens, sol a brilhar é sinónimo de angústia. É mau tempo.
É claro que, que para vendedores de gelados, calor e sol, querem dizer bons negócios. È bom tempo.
Aliás, os próprios meteorologistas, acabam, com frequência, por embarcar nessa onda e falar em melhoria do estado do tempo, quando deixa de chover.
Estes dias que estão a passar, com temperaturas amenas, pouca chuva, céu azul, não são vulgares.
Podem ser agradáveis para nós, citadinos, mas não são desejáveis para muita gente, que depende da regularidade da Natureza.
Essa regularidade, está cada vez está mais alterada. As estações do ano, como bem sentimos, nós os mais velhos, já não são o que eram dantes.
E tudo isto tem a ver com o facto de, alegremente, estarmos a degradar, cada vez mais , a saúde do planeta.
E que vai pagar tudo isto, serão, sobretudo, as gerações mais novas.
Que terão, se as coisas não mudarem, um muito mau tempo.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

10 factos nunca aqui revelados

Esta senhora desafiou-me a revelar 10 factos anteriormente não revelados neste blog.
Como já disse, por norma sou um tanto avesso a responder a desafios.
Mas, à Fatyly, não sei dizer que não. Quem a conhece, compreende porquê.
Quem ainda a não conhece... por que espera?
Então, aí vão 10 coisas que nunca divulguei aqui:
1 - Já fui vítima de uma tentativa de sequestro em Singapura.
2 - Nunca comi sushi.
3 - Já fui (por duas vezes) nomeado "Árbitro do Ano" de natação pura.
4 - Nunca li , até ao fim, um livro do Lobo Antunes.
5 - Já comi fruta roubada (quando era puto, claro...).
6 - Nunca conduzi um Ferrari.
7 - Já concorri ao festival da canção da RTP (ninguém é perfeito...).
8 - Nunca subi ao alto da torre Eiffel (o que lamento...), apesar de já ter estado duas vezes por baixo .
9 - Já me livrei deste desafio.
10-Nunca tinha dito tantas verdades de uma vez só...
Apesar de ser das normas passar o desafio a outra gente, eu não o faço (desculpa lá Fatyly!).
Mas, se alguém quiser pegar na deixa, esteja à vontade...

sexta-feira, novembro 30, 2007

Poema para Galileu revisitado 5 - Post sonoro 16










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quinta-feira, novembro 29, 2007

Poema para Galileu revisitado 4

Galileu, foi julgado por heresia, por, entre outras coisas, afirmar que era a Terra que girava em volta do Sol e não o contrário, como afirmava, dogmaticamente, a "ciência oficial" de então. Mas, haveria, como se sabe, de se provar que era o sábio quem tinha razão.
Este acontecimento deveria ficar como lição para a subsequente história da Humanidade.
Mas, não ficou.
Por isso, continuamos a esbarrar, a cada passo, com situações em que aquilo que parece evidente, afinal não o é.
Não só na ciência (e as contradições entre as opiniões médicas são um exemplo), como na vida de todos os dias.
Vou relatar dois casos em que estive envolvido, na semana passada.

Num deles, ao procurar um medicamento que tomo há algum tempo, o farmacêutico, porque tinha uma dúvida acerca da legibilidade da receita, mostrou-me, de longe, uma embalagem, para eu confirmar se era aquele.Respondi que não era, pois havia lá um pormenor gráfico que não reconhecia. Como o homem insistia que talvez fosse aquele, fui dizendo que, então teriam alterado a embalagem.
Acabei por trazer o medicamento, já que no interior lá estava o produto a que já estava habituado, mas sempre a insistir, convictamente, que a embalagem não tinha o mesmo desenho.
Ao chegar a casa, fui logo verificar a embalagem que ainda tinha e logo vi que tinha "metido água". Era exactamente igual à que tinha acabado de comprar.
É claro que, no dia seguinte, fui à farmácia pedir desculpa ao paciente funcionário.

O outro caso passou-se numa bomba de gasolina.
Após liquidar a importância devida pelo consumo, estava a agurdar que se processasse no respectivo cartão magnético, os pontos que a Galp atribui aos seus clientes para ulterior aplicação em brindes e outras benesses (questões de marketing...).
Ouço então, atrás de mim, uma voz, bastante impaciente:
-Saia daí, que há mais gente à espera de ser atendido!
Ou seja, o indivíduo, estava convicto de que, eu estava ali parado, a olhar para o funcionário, porque me apetecia...
Depois de perceber que se tinha enganado, o homem, algo contrariado, lá foi pedindo "mil perdões".
Ou seja, mais uma vez, aquilo que parecia, não era o que realmente acontecia.
E nunca nos devemos sentir "dispensados de buscar a verdade".

quarta-feira, novembro 28, 2007

Poema para Galileu revisitado 3

Tenho para mim que há duas qualidades que assumem particular relevância na formação do carácter e personalidade individuais.
Essas qualidades podem parecer contraditórias, mas, em boa verdade, não o serão.
Uma é a perseverança na defesa das convicções em que sinceramente se acredita.
A outra é a humildade para, permanentemente, se porem em questão essas próprias convicções.
Durante a minha vida como professor, procurei, crescentemente, adoptar estes dois princípios, como base essencial do meu trabalho.
Assim, perante os alunos, tentei assumir a posição de alguém que ali está para abrir caminhos de crescimento, mas também, para ouvir e aprender.E quantas coisas fui aprendendo com as centenas de jovens que tive perante mim...
E posso dizer que sai da profissão com mais dúvidas do que certezas.
Mas encontrei muitos colegas cujo discurso passava por uma grande dose de auto-suficiência, como se fosse sinónimo de "fraqueza" o admitir insuficiências na sua própria actuação.
Assim, perante o insucesso dos alunos, a resposta era, por parte desses colegas, o recurso, quase invariável, a velhos chavões : "eles não estudam nada", "não sabem nada" "os pais não ligam nenhuma"...
É bem verdade que, muitas vezes, essas são razões a ter em conta.
Mas, um bom professor, é, sobretudo, aquele que é capaz de questionar a própria actuação, no sentido de descobrir os aspectos em que pode melhorar e, assim, contribuir para que os seus alunos também melhorem.
Era por isso, que, muitas vezes, em reuniões, em acções de formação, ou em simples conversas informais, recorria à frase que retirava do poema de Gedeão que me tem servido de referência para os posts desta semana: "é que a nenhum de nós Deus pode dispensar de procurar a verdade".

terça-feira, novembro 27, 2007

Poema para Galileu, revisitado 2


Conforme disse em post anterior, durante esta semana, revisito um dos "poemas da minha vida", o "Poema para Galileu", de António Gedeão.
D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas, é um prelado "a quem Deus não dispensou de procurar a verdade", conforme diz o poeta.
Numa longa entrevista concedida a Maria Flor Pedroso, emitida pela Antena 1 ( quem quiser ouvir a peça integral, pode encontrar aqui, a sua reprodução em formato podcast; em alternativa, pode-se ler aqui um resumo das suas declarações mais importantes).
Pois, este membro da hierarquia da igreja católica portuguesa, manifesta as suas preocupações a propósito de muitas situações, num espírito de procura da verdade que não se compadece com ideias feitas e inquestionáveis.
Por exemplo, interrogado sobre se considerava o uso do preservativo como "um pecado", o Bispo respondeu, sem hesitações "NÃO".
O que nos leva a concluir que a noção de pecado, na religião católica ou em outras religiões, tem a ver essencialmente com concepções humanas e, como tal, falíveis e discutíveis.
Faria falta, digo eu, haver muitos bispos como D. Januário.
Talvez assim a igreja católica se aproximasse mais da vida real dos homens e mulheres deste tempo.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Poema para Galileu, revisitado 1




António Gedão é um dos meus poetas preferidos.
E, dentro da sua obra, o "Poema para Galileu", é, para mim, um dos mais belos e mais fortes.
A quem, eventualmente não conheça este belo texto, recomendo, vivamente, a leitura pausada e integral (deixo aqui um link a partir do qual se pode encontrar o poema).
Por agora, transcrevo a parte final, que irá servir de mote, aos posts que irei publicar ao longo da semana:

Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andava a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.


Por isso, estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão direta dos quadrados dos tempos.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Letreiros 9

Aqui temos mais uma série de letreiros insólitos ou, no mínimo, curiosos, da minha já vasta colecção.



Começamos com um estabelecimento que eu não sei se pertence ao Scolari (esta só é acessível a quem costuma acompanhar notíciário desportivo)

Saia, agora, meio quilo de matemática, bem aviado, ou uma embalagem familiar de gramática

Para quem não está contente com a sua imagem, aqui está a solução

Embora com menos ambições, neste local também se trata do estilo
Esta firma, de acordo com o Ministro Mário Lino, só poderá estar sedeada a sul do Tejo

Finalmente, cada um, com a sua mania

quinta-feira, novembro 22, 2007

Uma ciência excta?

Quando se diz que a matemática é uma ciência exacta parece que se está a afirmar uma verdade indiscutível.
No entanto...
No entanto, as construções da linguagem matemática (que, essencialmente, pretende descrever o mundo e a vida), assentam em convenções arbitrárias. O que se pretende é que essas convenções funcionem de modo coerente, sem contradições.
Um exemplo: quando se diz "tão claro como dois e dois serem quatro", esquece-se que isso só é verdade se estivermos a utilizar o nosso habitual sistema de base dez. Porque, por exemplo no sistema de base dois (ou binário) utilizado, designdamente pelos computadores e outras gringonças, já não de pode falar nesses termos. Neste sistema, essa frase transformar-se-ia em 10+10 =100... (atenção que não se lê "dez mais dez ... mas sim "um zero mais um zero é igual a um zero zero... o que pode parecer estranho para quem está menos dentro desta área) .
E querem mais? Peguem na Estatística, que é um ramos mais interessantes da Matemática.
Pois aí, há que ter um particular cuidado com as "exactidões" .
Ainda agora, a propósito desse flagelo dos nossos dias que é a SIDA, apareceu uma rectificação operada pela ONU, que reviu "em baixa" (um esquisito chavão agora muito em voga...), o número mundial de infectados que passou de cerca de quarenta milhões, para pouco mais de trinta e três milhões.
Porque estão a dar resultado as políticas de combate à epidemia?
Nada disso. Este abaixamento significativo, acontece, apenas porque se mudaram os critéros estatísticos que conduzem à elaboração das estimativas.
Já agora, ficou também a saber-se que Portugal continua a ser o país da Europa Ocidental a registar maior número de casos declarados em termos proporcionais e o quarto em termos absolutos.
Ora aí está um dado estatístico que não vamos certamente ver referido nos discursos oficiais.
Ou seja, ouvimos falar na descida do défice, nas estatísticas que "ficam bem na fotografia", mas as outras...
Enfim, só é declarado exacto, o que convém.

quarta-feira, novembro 21, 2007

O melhor blog de espanha

Maria Amélia é uma simpática senhora galega, que acaba de ser distinguida com o prémio "O melhor blog espanhol" de 2007, na 4ª edição dos "The Best of Blogs".
Até aqui tudo pareceria um tanto trivial, pois, na blogosfera ou noutros meios de comunicação, a atribuição de galardões é algo de corrente.
No entanto, há, neste caso, um pormenor que faz toda a diferença: Maria Amélia tem 95 anos, o que faz dela a bloguista mais idosa de todo o mundo.
Há uma grande ternura que exala do seu espaço (criado, com a ajuda de um neto, no dia em que fez precisamente 95 anos), que, para quem ainda não conhece, vale a pena visitar.
Esta nossa colega, revela, com entusiasmo, que descobriu um mundo novo na internet.
E, perante aqueles que desdenham as novas tecnologias, afirma:

"Que mentes tão fechadas! A internet, ensina!"

Por todos os motivos e mais este, Maria Amélia merece uma montanha de parabéns e um besito muy grande.

terça-feira, novembro 20, 2007

Parabéns!

Uma montanha de parabéns, para a D. Olinda que, há uns anitos (não digo quantos, é claro) deu ao mundo uma menina que brincou, cresceu, andou por longe, até que, certo dia, apareceu na minha vida, para ficar.


Por isso, para ti, amor,neste dia 20, um beijo, igual ao de todos os dias. Só que um pouco mais demorado.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Meccano


Um dia destes, um post do Manel, touxe-me à memória um dos meus sonhos de menino: o Meccano.
Era um brinquedo que permitia fazer construções diversas, desde veículos a edifícios. Vendia-se em caixas que traziam os elementos soltos, permitindo ao utilizador, usar a sua criatividade para elaborar engenhocas que funcionavam.
Como eu desejei ter um Meccano!
No entanto, as possibilidades económicas da família, nunca me permitiram concretizar o sonho. Era um brinquedo um tanto caro...
Tinha de me contentar com coisas mais modestas ou mesmo de criar os meus próprios brinquedos: carrinhos de madeira com rolamentos usados a servirem de rodas, espadas e cavalos de pau, sticks feitos de troços de couve, guiadores de bicicleta feitos de arame, ...
Pelo que vi através do Google, o Meccano ainda existe e está mesmo mais sofisticado, com novas e mais modernas propostas.
Mas aquela caixinha mágica, povoou o meu imaginário juvenil e é com alguma saudade que relembro, numa imagem antiga, esse inesquecível brinquedo.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Post sonoro 15


Hoje, falo de Arsélio Martins e do Prémio Nacional de Professores.


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quinta-feira, novembro 15, 2007

Por que será?

Dos funcionários públicos que se aposentaram no presente ano, a maior parte (32,1%) pertence ao Ministério da Educação.

Por que será?

quarta-feira, novembro 14, 2007

A internet também serve para encontrar a "mulher dos sonhos"

Que a internet é um poderoso meio de informação e de comunicação, já sabemos.
Agora, que ela também serve para encontrar, em 48 horas, uma mulher que se vislumbrou no metro, de passagem, é que ainda estava para acontecer.
Mas aconteceu mesmo.
Patrick, um americano de 21 anos, criou um site, de propósito para ver se alguém lhe dizia quem era "a tal", a "mulher dos seus sonhos". No site, colocou descrições e desenhos da rapariga e de si próprio.
E a ideia resultou em cheio: passados dois dias, um amigo da Claire (é, afinal, o seu nome) enviou-lhe um e-mail e pronto! O primeiro passo para aquilo que poderá vir a ser o romance do século ou um insólito flop, estava dado.
O imaginativo apaixonado, promete ir actualizando o site, com os desenvolvimentos do caso.
Veremos o que vai dar.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Maus exemplos

Na semana passada, surgiu a notícia de um suposto "ajuste de contas" do treinador José Mourinho, com um jovem de 12 anos, aluno do Colégio St. Peter´s School, de Palmela, que a sua filha também frequenta.
A que parece, o miúdo teria feito alguns comentários sobre o pai da miúda e sobre a própria colega, de que esta não gostou. Segundo o "24 horas", teria dito algo como "O teu pai tem o rabo mais bonito do que o teu, que és muito feia".
Vai daí,a menina fez queixa ao pai que abordou o rapaz, de modo mais ou menos agressivo (as versões, como sempre, divergem), e exigiu-lhe o número de telefone dos pais.
Depois, acabou por pedir desculpas ao colégio e aos pais do miúdo, já que a própria direcção da escola, considerou que Mourinho se tinha excedido.
De notar que este é um colégio particular, evidentemente selectivo (se não o "special one" não teria lá os dois filhos). Por isso, o aluno em causa, não se presume que seja um "bardino" qualquer, a viver numa família marginal.
Este episódio merece alguma reflexão.
De facto, quem exerce a sua actividade numa escola, tal como o fiz durante quase mais de três décadas, sabe que, no dia a dia, se amontoam estes casos de "bocas" e graçolas.Que têm, no fundo, na maior parte dos casos, uma gravidade muito relativa e devem ser dirimidos entre os próprios alunos ou, se necessário, com a intervenção do pessoal da própria escola.
No entanto, com frequência, alguns alunos, acabam por meter os encarregados de educação "ao barulho", muitas vezes com consequências desastrosas.
Neste caso, o envolvimento de uma figura pública com a visibilidade social do treinador, torna o acto mais censurável.
Porque pode vir a servir de motivação para a multiplicação de atitudes de "ajuste de contas" do tipo "justiça popular" que, além de ser condenável, não é de todo educativo para os próprios alunos envolvidos.
PS - Já após ter escrito este texto, soube que Mourinho acabou por retirar os filhos desta escola particular.
Ou seja, depois de terem ido há dois anos, para uma escola inglesa, regressaram a Portugal e integraram-se numa nova escola (pelos vistos já a tinham anteriormente frequentado) de onde, passados cerca de dois meses, voltam a sair.
Será que isto não vai deixar marcas nas crianças?

sexta-feira, novembro 09, 2007

quarta-feira, novembro 07, 2007

O velho Spectrum


Em Abril deste ano, fez 25 anos que começou a ser comercializado na Inglaterra o Spectrum, que foi o mais famoso percursor dos modernos computadores pessoais.
Era uma máquina muito pequena e elegante, pouco mais do que um teclado.
Ligava-se a um mero aparelho receptor de televisão. Os programas e os jogos, eram carregados através de cassetes de fita magnética (usadas normalmente para gravações audio) com um simples leitor que se ligava ao computador.
Foi o primeiro computador que usei.
Aliás, a escola onde trabalhei em quase toda a minha vida profissional, foi uma das primeiras a adquirir uma destas máquinas.
Os meus conhecimentos sobre a informática eram, nessa altura, mais do que rudimentares. Mas nunca me esqueceu a "fórmula mágica" que fazia iniciar o Spectrum:
load, "" enter
Nessa altura, leccionava na minha escola, um colega de Inglês, cego (é este o termo que ele quer que se use para designar a sua falta de visão; "eu sou cego, não sou invisual" costuma dizer...)
Pois este professor, que é um homem reconhecidamente inteligente, sentiu, desde logo, que aquele utensílio poderia ser-lhe particularmente útil no seu trabalho docente, como forma de compensar as naturais dificuldades oriundas da sua deficiência física.
Assim, em breve, dominava já as potencialidades do micro-computador, sabendo programar e tudo.
Inclusivamente, construiu-me um software para leccionação de um conteúdo matemático que então se dava no 5º ano, que ficou espantosamente funcional. Eu só lhe expliquei o que queria e ele materializou a minha ideia em termos informáticos.
Aliás, este professor, tornou-se mesmo um especialista nesta área, tendo, designadamente, trabalhado muitos anos na DREN, como técnico informático, de onde foi obrigado a sair em tempos recentes.
No meu último ano de serviço, ainda trabalhei com este colega durante uns meses, numa disciplina chamada Estudo Acompanhado, leccionada, em simultâneo, por dois professores.
Pois o colega, dispõe de uma parafrenália de equipamentos informáticos e de projecção, incluindo teclados em braille, sintetizadores de voz que lhe permitem "ler" frases que estão escritas no monitor e por aí fora.
Quantas vezes, ao ajudá-lo, no fim das aulas, a guardar todo esse material, não recordámos aqueles tempos heróicos do velho Spectrum, que, apesar de hoje parecer um simples brinquedo, veio dar um gigantesco passo no caminho do progresso, em muitos sectores da nossa vida.

terça-feira, novembro 06, 2007

Brandos costumes ?

Normalmente, resisto à tentação de peciscar a quente sobre assuntos que a comunicação social nos vai trazendo, de forma mais ou menos dramatizada.
Prefiro deixar passar alguns dias, procurar recolher mais dados e decidir se vale mesmo a pena falar de coisas sobre as quais já tanta gente falou.

Uma dessas notícias, e sobre a qual tenho mesmo de falar, revelou-nos um abjecto crime de que foi vítima um indivíduo, em Borralheira de Orjais, perto da Covilhã, que foi atado a uma grade, encharcado em álcool e deixado à sua sorte, que não foi nenhuma. Morreu asfixiado, enregelado, intoxicado.
Passado um dia ou dois, o JN foi fazer uma reportagem à aldeia.
Aí vimos os pais do assassinado, a viver numa casa degradada, com parcos rendimentos e com uma resignada conformação perante o desaparecimento do filho, que era a trave essencial da sua sobrevivência.
Pelos vistos, a vítima era pessoa que facilmente cedia à tentação da bebida, e nessas circunstâncias, tornava-se uma espécie de bobo da aldeia.
Mas aquilo que mais me gelou na reportagem, foi a constatação do facto de, nesta terra, grande parte da população considerar que os rapazolas, também eles com "copos a mais", que cometeram o hediondo acto, "apenas" deveriam ter mais cuidado e não deixarem o homem só, depois de acabada a "brincadeira".
Ou seja, esses cidadãos consideravam perfeitamente normal, que se dispusesse do corpo de um homem, para se divertirem a seu belo prazer. Isso, em si, "não teria nada de mal". Eles próprios já tinham assistido, com gozo, a cenas similares.

Há uns anos, veio também nos jornais, a história de um aprendiz de mecânico a quem colegas mais velhos da oficina, injectaram ar nos intestinos com uma bomba de encher pneus, causando-lhe lesões gravíssimas, não sei mesmo se fatais.
Também "por brincadeira".
E muitos mais casos análogos se poderiam citar.

É perante este tipo de reacções e de mentalidades que eu tenho de considerar que essa história de se dizer que somos um "povo de brandos costumes" é uma ficção.
Somos, provavelmente, em grande medida, um povo que, muitas vezes, se acobarda e se conforma e por isso "deixa andar".
Mas basta que os contextos criem a oportunidade, que o grupo se empolgue, que a bebida liberte, e lá teremos um bando de compatriotas a humilhar, a achincalhar, a gargalhar boçalmente, a descarregar frustrações acumuladas, perante os mais fracos, os mais indefesos, os mais vulneráveis.

Brandos costumes?
Uma ova!

segunda-feira, novembro 05, 2007

Fábricas de sonhos...

Passando pelos corredores de um centro comercial da zona onde moro, deparei-me com uma espécie de estúdio fotográfico e uns painéis com fotografias de rapazes e raparigas muito jovens.
Atentando melhor naquilo, constatei, estupefacto, que se tratava de um convite para que crianças e adolescentes entre os 5 (!) e os 15 anos, se deixassem fotografar, tendo em vista um casting que as poderia fazer iniciar uma carreira de "jovem modelo/actor".

É claro que, tudo leva a crer que o objectivo fundamental seria o de levar os progenitores das crianças, a desembolsarem alguns euros para pagamentos das ditas fotografias e sabe-se lá o que mais.
Reparei, entretanto, que algumas das fotografias afixadas (com o nome e tudo) mostravam crianças que, pelo seu aspecto físico, muito dificilmente poderiam aspirar a uma carreira do tipo das propagandeadas, tendo em conta os cânones que as indústrias da moda e do espectáculo costumam exigir.
Fiquei banzado e a pensar que, se calhar, afinal, eu é que já não estou bem enquadrado no tempo em que vivemos.
Então, anda-se por aí a falar, um pouco por todo lado, em exploração do trabalho infantil, em anorexias e bulimias, em criação de ilusões que podem conduzir a frustrações depressivas complicadas ou mesmo à exposição a aproveitamentos inconfessáveis por parte de gente sem escrúpulos, e permite-se que circulem estas "fábricas de sonhos" completamente enganosas?

E o que é mais preocupante é que lá estavam mamãs, com as suas filhas e filhos, a preencherem os papéis e a marcarem vez para a fotografia.
No fundo, estes comércios, vão-se aproveitar da tendência que muitos pais vão tendo, em fazerem dos filhos os depositários das esperanças e anseios que nunca conseguiram concretizar.
Mas, ao embarcarem nestes perigosos comboios, nem se quer se dão conta do perigo de estarem a iniciar um complexo processo de agregação dos filhos a expectativas irrealizáveis que os poderá levar a caminhos nada recomendáveis.
Depois, quando um dia as situações inesperadas acontecem, pode já ser muito complicado remediar o erro...

sexta-feira, novembro 02, 2007

2


As escutas telefónicas estão na ordem do dia.
No entanto, o assunto não é novo.
Como se sabe, "nos tempos da outra senhora", a pide espiolhva a vida de muitos cidadãos, até ao mais ínfimo pormenor.Essa actividade incluia o controlo das conversas ao telefone.
Mas, como a tecnologia então disponível não tinha a sofisticação de hoje, para o efeito, usavam-se os chamados PBX, centrais telefónicas em que as linhas eram ligadas através de cavilhas (hoje conhecidas por jacks).Por isso, muitas vezes, quando se iniciava uma chamada, ouviam-se os ruídos da ligação das tais cavilhas, que eram a indicação inequívoca de que a conversa estava a ser escutada e gravada.
Conheci, nesses tempos, um velho resistente, que já tinha estado preso e que, por isso mesmo, era alvo de vigilância especial.
Como ele sabia que já tinha "a ficha queimada", e já não se importava muito com o que lhe poderia acontecer, quando sentia o tal barulho de intromissão na linha, bradava, em voz forte:
- Ó Zé! Mete a cavilha no cu!
O diligente funcionário policial que estava de serviço, lá tinha de engolir o insulto, pois não podia denunciar-se.
Até que um dia, repetindo o nosso amigo a expressão que tanto o apaziguava:
- Ó Zé! Mete a cavilha no cu!
ouviu, lá ao longe, uma voz cavernosa:
-Vê lá se não te caem os dentes com a piada.
Como o velho resistente sabia que esse "cair de dentes" não seria certamente devido a causas naturais, durante uns tempos, moderou as intervenções sarcásticas que usava nessas circunstâncias.
Mas, mais tarde, haveria de voltar ao mesmo.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Portáteis na escola, saiba para quê

O Ministério da Educação, está, como se sabe, a promover a distribuição de computadores portáteis para alunos do 10º ano.
Para exercitar competências na área da expressão escrita?
Para incrementar nos alunos o gosto pela investigação e a pesquisa?
Para desenvolver capacidades de raciocínio matemático?
Será para isso?
Talvez não!
Oram vejam um anúncio da TMN que tem passado nas televisões. Aí se explica, de forma bem objectiva aos jovens alunos, para que servirão os ditos portáteis...

segunda-feira, outubro 29, 2007

Dali no Porto

Fui há dias ao Palácio do Freixo, visitar a exposição "Dali no Porto" , que está prestes a encerrar.
Trata-se de uma mostra que reúne algumas centenas de trabalhos do célebre pintor catalão, com destaque para inúmeros trabalhos que ilustraram várias obras literárias e algumas esculturas.
Quando se fala em Dali, o que ressalta, com frequência, é a sua extravagância e teatrealidade de atitudes.
No entanto, é bem patente nesta exposição, que Dali é um artista fora-de-série, com uma técnica apurada. Em muitos dos seus trabalhos, até para um leigo como eu me confesso, é evidente a sua inegável capacidade para desenhar muito bem, designadamente no que se refere ao corpo humano.
Nesta exposição é também possível admirar o carácter multifacetado do seu talento, por vezes tocado por uma certa aura de loucura de que nunca se libertou. Mas sempre dando a ideia de que se tratava de uma "loucura controlada" ou mesmo procurada, talvez tendo em vista alguma intenção publicitária que contribuisse para uma maior procura das suas produções.
Uma outra nota que aqui gostaria de deixar, refere-se a excelente trabalho de recuperação do Palácio do Freixo, edifício que estava em ruínas e que surge agora restaurado, com aquilo que foi possível reaver deste monumento do século XVIII, com traça de Nicolau Nasoni.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Post sonoro 14

endereço para o envio de faixas gravadas:
peciscas@gmail.com

para eventual ajuda técnica, clicar na imagem "posts sonoros" ali na barra lateral

essencial ligar as colunas e regular o som

quinta-feira, outubro 25, 2007

Dois galos no poleiro?!...

Pode até parecer que começa bem...
Mas, mais tarde ou mais cedo, dará mal resultado...


E, quem se vai ficar a rir, é o galo que está fora desta capoeira...