sexta-feira, março 02, 2007

Zeca Afonso 3

O Zeca, após uma estada em Moçambique, regressou em 1967 ao então chamado "Continente".
Inicialmente, vai dar aulas em Setúbal, mas por pouco tempo. Foi expulso do ensino oficial em 1968. Viverá, por isso, de explicações e da venda de discos e livros.
O primeiro desses livros, "Cantares de José Afonso", foi editado pela Nova Realidade, reunindo letras de algumas das suas canções.É claro que a publicação acabou por ser apreendida pelas autoridades policiais de então( vulgo pide).
Nessa altura, o Zeca dava, de vez em quando, pequenos concertos para as associações de estudantes , elas também, perseguidas, já que o regime desconfiava (e, diga-se, com razão) que por ali se acoitavam muitos opositores.
Eram convívios emocionantes em que o cator surgia com uma modéstia tocante, com uma simplicidade a raiar a timidez, que era uma das facetas da sua personalidade.
Quando cantava a morte da Catarina ("Chamava-se Catarina, o Alentejo a viu nascer, ..."), que fazia questão de interpretar com as luzes apagadas, a todos contagiava com a emoção que se desprendia da sua voz un tanto rouca, mas repleta de cambiantes dramáticos.
Ficaríamos ali, a noite inteira a ouvi-lo. Mas havia a determinação oficial de aqueles espectáculos terminarem antes da meia noite.
De modo que o Zeca rematava as suas actuações dizendo "Por causa dessas coisas do papel selado, vamos ter de cantar a última"
Zeca Afonso foi sempre bastante desprendido de bens materiais, parecendo, por vezes, que tinha até uma certa vergonha de ganhar dinheiro com a sua arte.
Pouco depois de ter sido lançado o livro atrás referido, o cantor veio ao Porto e passou pela cooperativa livreira estudantil de que eu, na altura fazia parte. Tinha uns dinheiros a receber, da vendas que conseguimos, ainda assim, fazer dos "Cantares".
O Zeca entrou, acompanhado da segunda mulher, Zélia, refugiando-se, na observação das estantes. Foi a companheira que tratou das contas e dos papéis.
Era assim o Zeca.

Venham mais cinco ...

quinta-feira, março 01, 2007

Zeca Afonso 2


Continuo, hoje, a falar do Zeca Afonso, para evocar um episódio que guardo na memória, relacionado com o genial artista.

Colaborava eu num programa que era emitido pela Rádio Renascença do Porto, quando a editora Arnaldo Trindade, através da etiqueta Orfeu, lançou, em 1970, o álbum "Traz Outro Amigo Também". Deve, entretanto referir-se, que esta editora manifestava uma certa dose de coragem pois, editar Zeca Afonso, nessa altura, era arrostar com a evetualidade de complicações diversas. Honra, portanto, lhe seja feita.

Então, fizemos, no referido programa, o lançamento do disco, passando algumas faixas e dando a oportunidade aos ouvintes de participarem , através de telefonemas que eram postos no ar.

Na altura, escrevi um pequeno texto em que dizia, nomeadamente, que um novo disco do Zeca devia ser celebrado com "festa, foguetes, vinho novo".

Passados uns dias, ao passar por um quiosque onde estavam expostos alguns jornais, dei com a primeira página de um jornaleco que, para além da sua fraca qualidade devia a existência ao facto de louvar diariamente o regime vigente na altura.

Metiam-se connosco, começando o articulista por dizer algo como "estava eu calmamente a jantar, com a rádio ligada, quando me caiu, na sopa, um foguete". E, a partir de aí, desancava o Zeca, tratando de traidor para cima.

Como se confirma, o cantor incomodava (incomoda) mesmo.

Menino do bairro n...

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Zeca Afonso 1


Nos últimos tempos , tem-se falado bastante do Zeca Afonso, a propósito do 20º aniversário da sua morte. Estranha e mórbida forma, esta de comemorar um artista, lembrando a sua morte.

Mas adiante, que aquilo que me faz hoje falar do Zeca não resulta de uma associação à onda comemorativa em curso, pois penso que, uma pessoa, em particular um artista, se for caso disso, deve ser homenageado todos os dias.

O que eu quero dizer, e há dias, um comentador na Antena 1, muito bem o afirmou, é que se nota por aí uma estranha consonância no louvar da vida e obra do artista. Uma consonância que ao próprio Zeca, se ainda fosse vivo, haveria de parecer muito estranha.

Porque ele, com a sua verticalidade, estava muito longe de querer gerar consensos.

Um homem que cantou contra a guerra colonial (que ainda hoje é alvo de defesa incondicional por parte de algumas franjas , designadamente, o que ainda é mais estranho, de jovens que já nasceram depois do conflito ter terminado), um cantor que evocou o assassinato de Catarina Eufémia ou Dias Coelho, militantes comunistas (e o Zeca raramente esteve próximo do PC, muito antes pelo contrário), um artista que, como disse numa das suas obras "era a formiga que vinha em sentido contrário" e denunciava vigorosamente "os vampiros", incomodava(incomoda) gente de mais, para poder gerar unanimidades.

O Zeca foi, em vida, ostracisado (por acção ou omissão), ignorado, ou mesmo perseguido, por muitos daqueles que aparecem ,agora, a aplaudir e a louvaminhar.

Tive o privilégio de me cruzar com o Zeca, algumas vezes.

Por isso, nesta semana, ainda virei falar um pouco mais da sua personalidade e do seu exemplo.

Mesmo que isso possa doer um pouco.


Os Vampiros - Zeca...

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Casa, descasa, fecha, não fecha...

O humorista brasileiro Jô Soares, num dos seus programas, que em tempos passou na nossa televisão, criou uma personagem que era um padre que atendia casais que pretendiam contrair matrimónio.
Invariavelmente, quando o sacristão lhe apresentava o par, o abade, fazia algumas perguntas aos nubentes, acabando sempre por concluir que não os casava, pois estavam à vista separações por incompatibilidades que só ele descortinava. E o episódio terminava sempre com a frase:
-Para evitar o casa, descasa, casa, descasa, casa, descasa, eu não caso!
Vem isto a propósito do que se está a passar com o fecho das urgências hospitalares.
Num dia diz-se que fecham não sei quantas, no outro já não fecham, para logo a seguir afirmarem que não fecham agora, mas fecharão mais tarde, quando estiverem criadas outras condições (designadamente de vias de comunicação, ...).
Perante toda esta novela do "fecha, não fecha", teremos de dizer, das duas uma: ou a comunicação social anda a passar informação deturpada para a opinião pública, ou, então, houve uma insuficiência no estudo que antecedeu o anúncio das medidas a tomar nesta área.
É claro que o Ministério da Saúde nunca admitirá que teve de recuar face às reacções das populações atingidas.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Se calhar, estou a ser exagerado...

Cada vez mais encontro, nos blogues que visito e comento,

A moderação de comentários foi ativada. Todos os comentários devem ser aprovados pelo autor do blog.

E, após deixar o comentário,

Seu comentário foi salvo e será exibido após a aprovação do proprietário do blog.

São opções que eu tenho de respeitar e que têm, provavelmente, muito a ver com o lixo que vai na cabeça de alguns passageiros destas viagens na blogosfera e que, atrás do anonimato, escondem a cobardia de uns quantos insultos irresponsáveis.
No entanto, perdoem-me a franqueza, os amigos e amigas que têm esse dispositivo em funcionamento: quando escrevo os meus comentários e os deixo nessas caixas, fico sempre com aquela sensação que se tem quando se toca à campainha de uma casa e a gente sente que está a ser observada através do porteiro-vídeo para ver se nos abrem a porta ou não.
Se calhar estou a ser exagerado...