sexta-feira, setembro 19, 2008

Parece mentira, mas é mesmo verdade!

Quando foi construído o Estádio do Dragão,em toda a zona onde se implantou, foram criadas diversas infra-estruturas. Designadamente, arruamentos de acesso ao recinto desportivo, mas também para servirem as urbanizações projectadas para aqueles espaços.
Assim, na zona onde se situava o velho Estádio das Antas, os pavilhôes e as piscinas, abriram-se duas ruas.
Com passeios, árvores, rampas, iluminação e tudo.
Pois agora, espante-se quem ainda tem a capacidade de se espantar, estão a erguer um prédio, que tem implantada uma das pontas, nem mais nem menos que em cima da entrada de uma dessas ruas. Mesmo em cima de uma passagem para peões.
Ou seja, a rua que o era, deixou de o ser.
Duvidam?
Ora vejam as imagens:



Agora expliquem-me lá como é que se aprovam coisas destas.
Agora expliquem-me lá se Portugal é um país pobre, já que se gasta dinheiro a fazer coisas que depois se desfazem.
Agora expliquem-me lá...
Não!Não me expliquem nada, que já não vale a pena...

quinta-feira, setembro 18, 2008

Deficiente mental?





No parque de estacionamento de uma bomba de abastecimento de combustíveis, estaciona, num local reservado a cidadãos com deficiência (não gosto deste termo, mas ele é mesmo usado oficialmente...), um "todo-o-terreno".
Da viatura sai um sujeito, alto, bronzeado, desembaraçado, passo ágil, de calção e sapatilhas.
Como sempre me incomodam as demonstrações de desrespeito dos direitos dos outros, olhei de lado o indivíduo, algo irritado com a desfaçatez.
No entanto, rapidamente a minha ira acalmou. De facto, o expedito automobilista seria mesmo deficiente. Deficiente mental, com um QI comparável ao do Bush. Portanto, tinha mesmo direito a parar ali.

Mas é curioso que, ao preparar este post e ao procurar uma ilustração condizente, acabei por encontrar a que vos mostro e que me fez concluir que, afinal, a minha reflexão sobre o tal cidadão oportunista não era assim tão original como isso.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Vibro mais com os Jogos Paraolímpicos

foto Peciscas Como apreciador de desporto, em diversas modalidades, é claro que, de quatro em quatro anos, sigo os Jogos Olímpicos com alguma atenção.
Mas, confesso que, se calhar, vibro ainda mais com os Jogos Paraolímpicos. Com as façanhas dos atletas, com as suas medalhas, com o seu entusiasmo.
E isto, certamente porque, ao longo da minha carreira de árbitro de natação, tive o privilégio de participar em eventos desportivos em que competiam nadadores desta área do Desporto Adaptado.
No meu cantinho de recordações dessa actividade que desempenhei, com gosto, durante uma dúzia de anos, guardo, com particular carinho,estas duas medalhas relativas à minha actuação em dois campeonatos nacionais.
E, nessas alturas, sentia-me contagiado pela dedicação, vibração e entrega destes atletas. E também dos seus treinadores e dirigentes.
Uma das nadadoras que conheci, então, é Leila Marques (hoje médica de Clínica Geral e Familiar), que acaba de participar nos Jogos Paraolímpicos 2008, em Pequim.
No entanto, devo dizer que, muitos dos meus colegas do corpo de arbitragem, encaravam estas provas, com algum desdém. Chamavam-lhe, depreciativamente, "as provas dos deficientes". E, deste modo, poucos compareciam, quando convocados. Num Campeonato Nacional realizado em Famalicão, num júri que é, normalmente composto por mais de uma vintena de elementos, estivemos presentes, apenas...4.
Desdobrámo-nos e, com muito esforço e também com a ajuda de técnicos e dirigentes dos clubes, lá conseguimos fazer a prova.
Mas este episódio mostra bem como a sociedade, em geral, ainda tem um olhar descriminador sobre os cidadãos portadores de necessidades especiais.Que bem mereciam um apoio e uma atenção muito mais visíveis e significativas..
Na foto, Leila Marques

terça-feira, setembro 16, 2008

CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES

Porque representa, em grande medida, aquilo que sinto no início de mais um ano lectivo em que já não tenho de comparecer na escola; porque este sentimento é comum, actualmente, a milhares de colegas;porque é mais um documento que espelha o estado de desânimo, desespero e frustração a que chegou a classe docente.
Por tudo isto, aqui transcrevo uma carta aberta que um colega, no dia 1 de Setembro, foi afixar na Sala de Professores da escola onde trabalhou durante 37 anos.

CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES

Pela primeira vez em muitos anos não retomo a actividade docente no
início do ano lectivo. Mas não o lamento e é isso que me dói. Sempre
disse que queria ficar na escola mais alguns anos para além do tempo da
reforma, desde que tivesse condições de saúde para tal. Contudo, vi-me
'obrigado' a sair mais cedo, inclusive aceitando uma penalização de 4,5%
sobre o vencimento.
Não sou protagonista de nada: o meu caso é apenas mais um no meio de
milhares de professores a quem este Governo afrontou. Só quem não
conhece as escolas e tem uma ideia errada da função docente é que não
entende isto.
É doloroso ouvir pessoas que sempre deram o máximo pela sua profissão,
que amam o ensino e têm uma ligação profunda com os alunos, a dizerem
que estão exaustas e que lamentam não serem mais velhas para poderem
reformar-se já. Vejo com enorme tristeza estes colegas a entrarem no ano
lectivo como quem vai para um exílio. Compreendo-os bem…
Este estado de coisas tem responsáveis: são a equipa do Ministério da
Educação e o Primeiro-ministro. A eles se deve a criação de um enorme
factor de desestabilização e conflito nas escolas que é a divisão
artificial da carreira docente entre 'professores titulares' e os outros
que o não são. Todos fazem o mesmo, a todos são pedidas as mesmas
responsabilidades, mas estão em patamares diferentes, definidos segundo
critérios arbitrários. A eles se deve um sistema de avaliação de
desempenho que não é mais do que a extensão administrativa daquele erro
colossal. A eles se deve a legislação que não reforça a autoridade dos
professores na escola, antes os transforma em burocratas ao serviço de
encarregados de educação a quem não se pedem responsabilidades e de
alunos a quem não se exige que estudem e tenham sucesso por mérito próprio.
No ano passado 100 000 mil professores na rua mostraram que não se
conformavam com este estado de coisas. O Governo tremeu. Mas os
Sindicatos de professores não souberam gerir esta revolta legítima.
Ocupados por gente que não dá aulas, funcionalizados e alienados pelo
sistema, apressaram-se a assinar um acordo que nada resolveu, antes
adiou um problema que vai inquinar o ano lectivo que hoje começa.
Todos os que podem estão a vir-se embora das escolas, é a debandada
geral. Gente com a experiência e a formação profissional de muitos anos,
que ainda podiam dar tanto ao ensino, retiram-se desgostosos,
desiludidos, magoados. Deixaram de acreditar que a sua presença era
importante e bateram com a porta. O Governo não se importa, nada faz
para os segurar: eram gente que tinha espírito crítico e resistia. «Que
se vão embora, não fazem cá falta nenhuma!»
Não, não tenho pena de não voltar à escola. Pelo contrário: entro em
Setembro com um enorme alívio. Mas não me sinto bem. Estou profundamente
solidário comos meus colegas de profissão e tenho a estranha sensação de
que os abandono, embora saiba quanto isso é pretensioso da minha parte.
Vejo com apreensão e desgosto que, trinta e sete anos depois de começar
a ser professor, a escola não está melhor. Sim, regressarei hoje à
escola. Mas só para dar um imenso abraço àqueles que, corajosamente,
como professores no activo, enfrentam um novo ano lectivo.
Torres Vedras, 1 de Setembro de 2008
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