sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Por aqui passaram vidas

Quando passo por edifícios em processo de demolição ou por casas em ruínas,dou por mim a pensar que tudo aquilo tem um significado para quem lá morou.
Imagino e adivinho. Ali era a sala, ali um quarto, o quarto de banho.
Quantos sonhos ali se albergaram?
Quantas angústias?Quantas esperanças.
Quantos amores e desamores?
Quantas festas? Quantos lutos?
Agora são apenas escombros, restos degradados.
Daqui por algum tempo, porque tudo se renova, irão surgir por ali novas construções. Mais ou menos modernas, mais ou menos imponentes.
Depois,porque o tempo tudo apaga, já poucos se lembrarão daquilo que ali existiu.
Talvez apenas aquelas vidas que por ali passaram ainda conservem a memória que ficou agarrada às paredes que ali se ergueram.

foto Peciscas
foto Peciscas
foto Peciscas
foto Peciscas

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Ai, a língua portuguesa...

Nos meus tempos de estudante universitário, eu e alguns colegas, dávamos as chamadas "explicações", como forma de arranjarmos uns cobres para o tabaco e para o cinema.
Certo dia, a um desses colegas, aconteceu ter chamado à atenção de um aluno, que não tinha feito os "deveres" que lhe tinha marcado para casa.
E disse-lhe:
-Sabes o que tu és? Um grande comodista!
Má hora em que o disse.
Ao outro dia, a mâe do menino foi-lhe bater à porta.
-Ouça lá: olhe que eu não admito que trate mal o meu filho. Até lhe pode dar uns apertões, mas insultá-lo é que não!
E o meu amigo, que era particularmente polido e delicado:
-Mas, minha senhora, eu nunca insultei o seu filho!
-Ai não? Então ontem não lhe chamou comunista?
Isso é que eu não lhe desculpo.
É que, naqueles tempos, essa palavra era maldita e , para a população corrente, uma designação que etiquetava um criminoso da pior espécie.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Pobres ou mal geridos?

foto Peciscas

Há poucos meses atrás, neste largo que fica ao lado da estação ferroviária de Rio Tinto, foram feitas obras, no âmbito da requalificação dessa mesma estrutura.
Neste recanto que vos mostro, foi feito um pequeno jardim, com bancos, canteiros de relva, um posto telefónico.
Pois, neste momento, já estão a destruir parte do que foi recentemente feito, porque estão a fazer obras para criarem um novo processo de circulação rodoviária nesse largo.Estas obras já estavam, certamente, previstas, quando se efectuou o arranjo da estação.
Perante isto, fica a convicção de que, para além das tão propaladas dificuldades que o país atravessa, ainda continuamos a ter uma apreciável capacidade para atirar dinheiro à rua.
Ou seja, parece que, afinal, mais do que ser pobre, Portugal é uma pátria mal gerida.

foto Peciscas

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O Borda d´Água 2007


O Borda d´Água é um almanaque centenário, que já o meu avô comprava.

Tem de tudo um pouco. Desde informações e ensinamentos sobre agricultura, jadinagem e animais, passando pela astrologia e astronomia, conselhos de índole religiosa, provérbios ou, até, considerações de ordem filosófica e política. Contém, mesmo, um manual de sobrevivência.

Antigamente, era muito considerado no que toca a previsões meteorológicas.

Os redactores de agora, sabendo que as alterações climáticas são uma constante, já não arriscam muito nessa área.

Por outro lado, "modernização oblige", já dispõe de uma listagem de "alguns sítios da internet" considerados de interesse.

Transcrevo da nota de apresentação do almanaque 2007:

"Trabalhar para uma certa auto-subsistência, produzir e consumir alimentos sãos, naturais, biológicos (mesmo em pequenos quintais ou varandas), ligar os eflúvios do Céu à fecundidade da terra, cheirar o húmus e os perfumes das flores e árvores, mergulhar no ritmo das estações, comungar com os penedos, as montanhas, os rios e a força divina do sol, são alimentos espirituais que valem bem todos os esforços e isolamentos."

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Diz que é uma espécie de país

O ministro diz na China que somos uma terra de mão de obra barata.
Depois afirma que, quem reagiu fê-lo por ignorância e má fé.
Explica que se vierem para cá os chineses, cria-se mais riqueza e... os salários aumentam.
Um chefe de um governo regional, entretanto, grita que os chineses não são bem-vindos.
Eu, que sou ignorante, digo que, se os salários, como diz o ministro, aumentarem, os chineses vão-se embora, porque dizem que os enganaram.
Um senhor conhecido, que defende o não no referendo, diz que, para além de querer derrotar a pergunta que vai a votos, quer mesmo aniquilar a lei que já está em vigor. Esclarece que, por exemplo, nos casos de violação, a mulher deve ter o filho e depois dá-lo para adopção.
Eu, que sou ignorante, digo que, deste modo, considera-se a mulher como um utensílio de procriação.
Uma ministra diz que ganhou uma população, embora perdendo os professores (que, parece, não fazem parte da população).
Digo eu, que sou ignorante, que nenhuma batalha se ganha, contra a vontade dos que a travam.
Há um homem que dá um lar, amor e protecção a uma criança, e obrigam-no a estar preso por isso.
Digo eu, que sou ignorante, que há por aí muita gente à solta, a rir-se nas nossas barbas, a apitar-nos (douradamente) basófias aos ouvidos, em enredos intermináveis.
Ou seja, roubando o título aos Gatos, só poderemos dizer:
"Diz que é uma espécie de país...este em que vivemos"!