sexta-feira, outubro 13, 2006

quinta-feira, outubro 12, 2006


Certo dia apareceu lá por Dili, um jovem militar que se imaginou empresário de espectáculos.
Ele não seria lá muito criativo, mas era, inegavelmente, empreendedor.
Assim, organizou "A grande noite do fado", uma coisa chamada "Trap-Trap" no formato do inesquecível "Zip-Zip" e o "Primeiro Festival da Canção de Timor". Primeiro e creio que último.
Quando se anunciou o evento, desafiei o meu amigo Manel, um lisboeta bastante dado a fadistices, para concorrermos ao festival.
E lá fizemos duas cantigas. Ele compôs a música, eu escrevi as letras.
Mas punha-se a questão dos intérpretes, problema que deixei ao encargo do meu parceiro.
Para uma delas, que se chamava "Catuas Maubere", arranjou-se um conjunto local, que fez uma interpretação mais ou menos modernista do tema. Assisti a um ensaio e a coisa até não estava muito mal.
Mas, para a outra composição,bastante mais melodiosa, "Menina Timor", o Manel convidou um furriel, que ele dizia que "foi o melhor que se pode arranjar", mas que eu nem sabia quem era.
Na noite do festival, quando chegámos à casa de espectáculos (a única que havia em Dili), o Manel, finalmente, apresentou-me o artista.
Mas, azares uns atrás dos outros: o homem estava rouco e ainda por cima,tinha vindo já vestido de casa com as calças brancas com que iria actuar e,ao tomar um café, derramou parte sobre a indumentária, ficando com uma ridícula nódoa castanha, na alvura das pantalonas de cerimónia.
Eu e o Manel, lá fomos para os nossos lugares, enfiando-nos pela cadeira abaixo.
Quando chegou a vez do nosso cantor, lá do palco saíam uns guinchos, acompanhados de desesperados gestos a apontar a garganta, enquanto na sala, ecoavam risos, com dedos apontados à nódoa de café.E não era só a rouquidão (relativa) do homem a justificação de tal desconcerto. É que ele, afinal, cantava mesmo mal tendo-me o Manel confessado que, verdadeiramente, nunca o ouvira cantar.
Com essa cantiga, ficámos em penúltimo lugar, pois ainda houve outra prestação pior.
Vá lá que, com a outra, ficámos a meio da tabela.
Para rematar, um outro pormenor delicioso: do júri que apreciou e votou as canções, fazia parte um sargento que tocava trompete e acompanhou um dos cantores que actuou no festival.
"Por acaso" até foi essa a canção que ganhou...

quarta-feira, outubro 11, 2006

Os meus "bonecos"

Vi isto na Lucy, achei piada, e segui-lhe o exemplo.
Eis alguns dos "bonecos" que publiquei neste recanto onde se cultivam peciscas.

terça-feira, outubro 10, 2006

Cavalos-marinhos ?

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A natureza dotou-me com uma acentuada falta de habilidade para o desenho.
Por mais que me esforçe, a minha mão recusa-se a traçar no papel, com um mínimo de qualidade, aquilo que o meu cérebro lhe pretende ordenar.
Quando entrei para o 1º ano do Liceu, a minha professora de Desenho, casada com o grande escritor Vergílio Ferreira, e de nacionalidade polaca, era conhecida pela sua forma algo desabrida como tratava os alunos.
Pois, o primeiro trabalho que a senhora nos mandou fazer foi desenhar uma capoeira com a respectiva criação.
Tentei fazer o meu melhor, embora, olhando de soslaio para os desenhos dos meus colegas, não ficasse muito animado com o produto do meu labor.
Quando acabei de desenhar, a lápis, "a minha capoeira", fui mostrá-la à mestra.
Comentário, seco e definitivo da professora:
-Ouve lá menino! O que é isto que puseste dentro da capoeira? São cavalos-marinhos?
Fiquei destroçado.Eram galinhas, mas, pelos vistos, só para mim...
Já sabia que não era propriamente o Miguel Ãngelo, mas, daí até ser tratado como um analfabeto gráfico, ia uma grande distância.
Cabisbaixo, lá fui para o lugar, acabar, a guache, "aquilo".
A partir daí, depois daquela sentença, interiorizei, ainda mais profundamente, a minha incapacidade para o desenho.
No entanto, ainda hoje penso, que, se a mulher do Vergílio não tivesse disparado aquele impropério, talvez pudesse ter, com muito esforço e empenhamento, conseguido alguma evolução nesse domínio.
Mas, do mal, o menos.
Deste episódio, que nunca esqueci, tentei retirar algo que me pode ter ajudado na minha profissão. Ou seja, a necessidade de tentar não ser impiedosamente destrutivo nas críticas aos trabalhos dos meus alunos.