quinta-feira, novembro 13, 2008

Desperdícios

Noticiou-se recentemente que há hospitais que prolongam artificialmente o internamento de doentes, como forma de garantirem os financiamentos previstos na lei.
Pude, um destes dias, constatar a veracidade desta notícia. Visitando um hospital onde um familiar próximo foi submetido a uma pequena intervenção cirúrgica, deparei-me com casos de internamento de um ou até dois dias, para casos como, extracção de um quisto sebáceo ou de alguns sinais na pele. Aliás, esse mesmo familiar provavelmente nem sequer requereria internamento, já que a intervenção decorreu apenas com anestesia local.
Estes casos mostram as contradições a que por vezes assistimos. Há dias, a Ministra da Saúde declarava ser sua intenção criar as condições necessárias para que, cada vez mais, os doentes sejam operados em regime de ambulatório, com a convalescença a ser realizada em casa.
Segundo a notícia, promete-se, para o ano, uma nova lei de financiamento. Mas, entretanto, estão a desperdiçar-se meios e recursos, de um modo perfeitamente inútil.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Sonhos de menino


Durante a conversa que tive com a ex-aluna que menciono no post anterior, esta confidenciou-me algumas preocupações quanto às aspirações profissionais do filho, que tem agora 9 anos.

Porque ele oscila entre o desejo de ser motorista de camiões TIR e bombeiro.

Tranquilizei a J. dizendo-lhe que, numa dada altura da minha meninice, também eu sonhava ser bombeiro.

Na pequena cidade do interior onde morava, havia duas corporações de "soldados da paz" e eu, de vez em quando, ia, com outros da minha idade, até ao quartel de uma delas, só pelo prazer de deambular por entre as viaturas vermelhas. Ainda por cima, os responsáveis deixavam a miudagem sentar-se nos carros mais antigos, o que nos dava um particular gozo.

Esse sonho de menino durou relativamente pouco tempo. Depois, brinquei um pouco com a ideia de ser guarda-redes de futebol, mas, como nesse tempo eu era muito baixinho, não dava para cobrir adequadamente a baliza.

Outros sonhos viriam, até me fixar no que acabou por determinar aquela que foi a minha profissão de quase quatro décadas.

Na meninice, sonhar com profissões que nos surgem como fantásticas, é comum e até saudável.

Qual de vós não imaginou um dia ser piloto, astronauta, sábio, actor ou ... bombeiro?

Nessa altura é tão fácil sonhar...

terça-feira, novembro 11, 2008

Ainda se lembra de mim?

Ontem, na sala de espera do meu centro de saúde, entra uma mulher, ainda jovem, que, sorridente, me interpelou:
-Olá, professor! Ainda se lembra de mim?
Nestas situações pressinto logo que estou perante uma ex-aluna. Mas, entre tantos milhares, é impossível que reconheça todas. Ainda para mais, após as inevitáveis transformações físicas que o decorrer do tempo acarreta.
-A cara não me é estranha, mas...
-O senhor foi meu professor de Matemática há mais de 20 anos. Eu sou a J.
E ali ficou a conversar longamente comigo. Disse-me o que fazia, qual foi o seu percurso escolar (abandonou o ensino "normal" para depois o retomar em curso nocturno) mostrou-me a fotografia do filho. Falou das diferenças entre a escola do seu tempo e a de hoje.
Há uma semana , tinha encontrado, a vender na rua, uma outra ex-aluna que não reconheci, mas que também falou comigo amigavelmente, dando a entender que me recorda com alguma simpatia.
Num momento em que tanto se fala de avaliação dos docentes, não serão estes acontecimentos, também, uma forma de um professor (ou ex-professor) se sentir avaliado? Sentir que "deixou algo pelo caminho"?

segunda-feira, novembro 10, 2008

Este é um problema nacional

Este não é apenas um problema laboral que se confina aos professores.
Quando cerca de 80% da classe docente manifesta nas ruas o seu descontentamento, a sua amargura, a sua desilusão, nenhum cidadão pode ficar alheio.
Os professores, no passado sábado, vieram dizer que estão a ser desviados da sua mais importante missão: ensinar e educar.
O que se passa hoje nas escolas é demasiado grave para que se fique indiferente e alheio.
Deixar que as questões se limitem às paredes dos estabelecimentos de ensino é contribuir para que, um dia destes, se acorde para a dura realidade de estar hipotecada, durante muitos anos, a qualidade da nossa Escola Pública.
Que ninguém se alheie porque se trata de um problema nacional.