quinta-feira, setembro 21, 2006

Mundos de papel


Folheia-se revista e vêem-se as aliciantes imagens da "bomba" de um jogador de futebol que custa mais de 185 mil euros e dá mais de 3oo à hora.
Olha-se para a capa da revista e vê-se a mulher de outro craque, toda produzida e com roupas exíguas, para que a vejamos agora "como nunca se viu".
Mais adiante, outra vedeta da bola, revela a sua vida fora do campo.
E, então, nem que seja por fugazes momentos, sonha-se com aquele mundo.
Ter a bomba automobilística e voar pela estrada fora, despertando olhares atentos, espantados e invejosos.
Ter a mulher de olhos profundos, olhar sensual e corpo modelado, que, tal como o carro, desperta a atenção e a inveja de quem a vê ao nosso lado.
Ter a vida confortável da estrela que aparece na televisão, que tem direito a benesses que a distingue do comum dos mortais.
Sonha-se com esse mundo que não passa de um mundo de papel.
É isso que nos querem vender, dizendo que as pessoas compram porque adoram ter esses momentos de evasão.
Mas a gente acaba por acordar.
E vê o carrito, mais modesto, mas que é nosso, podemos andar nele porque não cheira a tinta de revista.
E beija a mulher que nos escolheu e o beijo é retribuído, porque ela é real e acorda connosco todos os dias.
E sente que tem uma vida, que, melhor ou pior, é a nossa vida. Aquela que não se limita aos "papeis pintados com tinta", de que falava o Pessoa.
Mas, à força de tanto nos impingirem esses mundos de papel, quantas vezes não ficamos reféns de ideais de felicidade que não passam de utopias, de necessidades cuja satisfação só poderá ser alcançada por uns poucos.
E, depois, lá vêm as depressões, os distúrbios sociais, os comportamentos marginais.
Porque nem todos conseguem resistir à sedução desses mundos de papel, brilhantes e coloridos.

quarta-feira, setembro 20, 2006

A propósito de formatações...

Acabo de regressar de uma reunião de carácter profissional, onde, a propósito de um debate, seguido de votação, sobre um problema de organização interna da escola onde trabalhamos, alguém disse algo como:
-Estamos nos século XXI, os muros de Berlim acabaram e eu recuso as formatações obrigatórias.
Quem disse isso, não se deu, talvez, conta, de que, a decisão que foi a seguir tomada, implicava, ela mesma, uma "formatação".
Quer isto dizer que, mesmo quando repudiamos (como eu) os sistemas totalitários do presente ou do passado, nunca estamos livres das imposições que caem sobre nós.
E, segundo o meu ponto de vista, continuamos a ter pela frente muitos muros, mesmo que já não se chamem "de Berlim".
Somos formatados de diversas formas, quer seja na profissão, quer seja na sociedade, na religião, na sexualidade, na moda, e por aí fora.
A única questão é saber quem detem o poder de carregar nos botões que comandam essas formatações...

terça-feira, setembro 19, 2006

Mudanças...

No jornal de ontem li um artigo que dizia que o mercado de lojas de discos on-line está a crescer de modo muito rápido.
Tanto, que já se diz que as lojas tradicionais desse ramo, têm "os dias contados".
Não sei se será mesmo assim, mas é um facto que as coisas vão mudando vertiginosamente, e nem sempre todos nos apercebemos desses factos.
Há quem assobie para o ar, distraído, sem entender que, à sua volta, o mundo já não é o mesmo do século passado. Que digo eu? Que já não o mesmo do ano passado, do mês passado, de ontem...
Estas coisas dos computadores, da internet e por aí fora, dia-a-dia, fazem que tudo nunca mais fique como dantes.
Grande parte dos melhores negócios, estão a surgir à volta das novas tecnologias da informação e comunicação.
Que o diga o Bill Gates que, muito cedo, conseguiu perceber isso.
E muitos outros que têm vindo atrás.
Por tudo isto, pretender combater velhos problemas com as velhas soluções do passado, é, quase sempre pura perda de tempo.
Para puxar a brasa à sardinha da minha profissão, relembro que, há mais de quarenta anos, um pedagogo chamado Ivan Illitch, profetizou uma sociedade sem escolas (no sentido tradicional do termo) as quais seriam substituídas por uma rede de informação e comunicação muito densa e multifacetada, onde os jovens iriam adquirir os conhecimentos necessários à sua formação.
Na altura, foi considerado, benevolentemente, como um utópico visionário, algo louco.
Passado este tempo, estaremos muito longe desse sonho do Illitch?
Pelos vistos, já há países, onde alguns pais (uma minoria para já pouco significativa) aposta em não deixar ir os filhos à escola, proporcionando-lhes, em casa, todos os meios indispensáveis para que aprendam.
Com que resultados?
Para já, não sei responder.
Mas que a velha Escola, tal como agora a conhecemos, irá levar, no futuro, uma grande volta, não tenho dúvidas.
Por uma questão de sobrevivência!

segunda-feira, setembro 18, 2006

Os chocolates e os turistas

foto Peciscas
Quando se viaja por aí, já se sabe que é fatal cruzamo-nos com montões de turistas oriundos de países asiáticos.
Inicialmente eram sobretudo japoneses, que surgiam, um pouco por todo o lado, armados com as suas máquinas fotográficas ou de filmar topo de gama e o seu poder de compra.
Agora, a diversidade é maior, pois há coreanos, chineses e outros.
Em Bruxelas, lá estavam, para não variar, muitos destes simpáticos cidadãos do outro continente.
Grande parte deles não resistiu à tentação dos apetecíveis chocolates belgas. E, vai daí, adquiriam quantidades industriais dessas guloseimas. Os vendedores, forneciam-lhes grandes sacos isotérmicos, que eles carregavam, pelas ruas, com algum orgulho.
No entanto, a avaliar pelo que sucedeu a um dos meus companheiros de viagem que, ao chegar ao hotel, ao fim do dia, já tinha os chocolates semi-derretidos, desconfio que os amigos asiáticos terão sofrido algunas desilusões com a sua doce carga...