quinta-feira, maio 15, 2008

Debate "Amizades reais/amizades virtuais"- 9 Conclusão

Chega agora ao fim, o longo post interactivo em que se debateu a questão das amizades que se podem (ou não) construir através da Internet.
Devo dizer que a ideia de conversar convosco sobre este tema nasceu de um reflexão muito pessoal. É que, ao longo destes últimos anos foram-me acontecendo surpresas bem agradáveis. Quase sem dar conta, gradualmente, comecei a verificar que havia um núcleo de pessoas, de quem já não dispensava a presença e que, me apareciam a “bater à porta” quase todos os dias. E que me deixavam palavras que demonstravam, carinho, proximidade, afecto.
E eu perguntava-me: mas como é que isto aconteceu?
Eu ouvia e lia, há muito, ecos de grandes preocupações sobre o uso destes novos meios tecnológicos e confesso que inicialmente, também parti para esta “aventura” algo desconfiado. Embora também já soubesse que preconceitos com as formas de comunicação que vão aparecendo, são de sempre. Assim sucedeu com o correio, com o telefone, com a televisão e por aí fora.
Mas bem cedo percebi que o “mal”ou o “bem” não estará nunca nos meios de aproximação que se utilizam. Tudo depende daquilo que as pessoas já são. Do seu carácter, da sua formação, dos seus sentimentos., da sua cultura, da sua inteligência.
Então, concordo, com a generalidade do que vocês disseram: as amizades que se constroem através da net e, designadamente com a blogosfera, são bem reais. Porque “do outro lado da linha” está sempre uma pessoa. Com as suas virtudes, com os seus defeitos, com a sua história de vida. Não é um robot que nos responde (embora até já haja por aí utensílios tecnológicos desse tipo).
Por outro lado, é bem verdade que, entre tanta gente boa também, circula algum “lixo” (para usar a expressão de uma das minhas amigas). Mas quem ignora que, por carta, por telefone, num café, ao cruzar numa esquina, há sempre a possibilidade de nos aparecer um vigarista, um sedutor de falinhas mansas, um vendedor de ilusões, um predador pronto a atacar uma vítima mais desprotegida? Para essas situações, temos de estar prevenidos, atentos e criarmos defesas. Defesas que terão de vir, sobretudo, da razão, que nos deve alertar e que, em certas circunstâncias, deve fazer tocar a campainha de alarme.
Também estou de acordo com quem disse que, estas novas tecnologias, ao invés de contribuírem para o isolamento das pessoas, podem ser uma forma de aproximação que contraria a tendência para o isolamento e para o egoísmo que as sociedades actuais mais desenvolvidas, com o seu frenesim competitivo, estão a estimular crescentemente.
E eu tenho exemplos bem vivos dessa realidade.
Através da net, através da blogosfera, compartilhei emoções, pontos de vista, alegrias e tristezas. Senti o eco da solidariedade, do apoio. Mas também do humor e da alegria de viver. Assim, posso dizer que tenho por aí amigos e amigas que já não dispenso. Amigos e amigas de todas as gerações, com diversas maneiras de ser e de pensar e que aprendi a amar (terá aqui o termo “amor” uso adequado? – ainda haveremos de falar mais disso).
Com o e-mail, com o Messenger, troquei confidências, amarguras, angústias, solidariedades, sorri, emocionei-me, dei-me mais a conhecer, conheci melhor outras pessoas, até aí anónimas e distantes. Com algumas, até tive o grato prazer do encontro pessoal que me fez comprovar a imagem positiva que já tinha construído.
Mais recentemente, através da descoberta do Google Talk, pude mesmo falar, de viva voz, com gente muito boa, que está mais perto ou que está mais longe. E aí, a proximidade fica mais íntima. É assim que, a cada passo, acontece ouvir vozes amigas. De conversar sobre coisas triviais do dia a dia, de trocar gargalhadas, mas também de sentir as lágrimas, de trocar preocupações sobre o que nos inquieta, antecipar encontros, deixar uma palavra que possa ajudar a superar um mau momento.
E se tudo isto é virtual, então já não sei o que será a realidade.
No final desta conversa que, afinal se estendeu mais do que inicialmente supunha, quero agradecer a todos e a todas que quiseram participar e nos acompanharam durante estes dias. Se mais não houvesse, bastava este facto para garantir a realidade das amizades que granjeei, desde que, em boa hora comecei a andar por aqui.
E cá por mim, de hoje em diante, dificilmente voltarei a usar a palavra “virtual” para vos designar, minhas amigas e meus amigos.

quarta-feira, maio 14, 2008

Debate "Amizades reais/amizades virtuais"- 8

Termino hoje a publicação das contribuições para o debate que me foram chegando, por diversas vias.
E faço-o, com a presença de uma mulher excepcional, um amiga muito especial que, embora vivendo lá longe, está muito perto do nosso coração. Quem por aqui anda, na sua maioria, já sabe da imensa qualidade humana da Odele. Por isso e por muito mais, se justifica encerrar esta parte do post interactivo que há dias lancei, com as suas palavras .

1- As amizades que eventualmente se possam criar através da internet e, designadamente, ao circular na blogosfera, serão mesmo virtuais, por isso mesmo fictícias, ou podem ser bem reais?
R. Sim, as amizades criadas através da Internet podem ser reais. Às vezes tão ou mais reais do que aquelas existentes entre pessoas que se encontram fisicamente. Acredito que isto aconteça porque os amigos reais estão sempre muito ocupados com seus próprios afazeres e nem sempre buscam a companhia uns dos outros, o que acaba por esfriar a relação e distancia-los. Já os amigos virtuais vão estando em contato com tal frequência que passam a ter entre eles um vínculo de afeto que pode se tornar algo forte, profundo e gratificante. Há que se considerar a facilidade do contato virtual. O amigo não está em outro bairro, em outra cidade, e não temos que sair de casa e enfrentar trânsito e eventualmente longas distâncias para vê-lo. O amigo virtual está muito mais próximo, pois para estar em contato com ele, basta um simples toque no mouse.
2 - Haverá perigos ou contra-indicações que nos levem a evitar este tipo de relacionamentos?
R- Sim, acho que existem alguns perigos. Muitas pessoas de má índole, usam a Internet para se fazer passar por aquilo que na realidade não são e após conquistar a confiança dos amigos virtuais, começam a lhes causar transtornos. Por isso eu diria que uma certa cautela é necessária, mas não acho que esse inconveniente seja forte o suficiente para nos afastar da possibilidade de conhecermos pessoas maravilhosas com as quais, o contato, mesmo que virtual, só nos enriquece.
3 - Será que a internet estará a contribuir para um maior isolamento das pessoas, ou será precisamente o contrário?
R- Acredito que é exatamente o contrário, pela facilidade que temos de "estar" a todo momento com os amigos virtuais. Para estar com eles não dependemos de horário, de transporte. A distância não existe entre os amigos virtuais. Podemos contatá-los a qualquer momento, a qualquer horário em qualquer dia. Se não estão conectados, deixamos um recado de voz ou um e-mail e está estabelecido o contato. Já com os ditos amigos reais essa possibilidade não existe e daí que as pessoas mesmo próximas fisicamente, acabam por se isolar umas das outras.
4 - Será verdade que as pessoas que usam a internet como forma de relacionamento inter-pessoal, têm um perfil que passa pela solidão, por alguma espécie de frustração da vida social e ou familiar?
R- Pode até ser que algumas pessoas que usam a Internet tenham esse perfil, mas não necessariamente. Esse perfil se aplicaria apenas àquelas pessoas que usam a Internet em excesso, excluindo os relacionamentos reais e abdicando de suas outras atividades para ficar na Internet. Além disso não devemos esquecer que mesmo pessoas que NÃO USAM a Internet podem ter esse perfil aqui mencionado.

terça-feira, maio 13, 2008

Debate "Amizades reais/amizades virtuais"- 7

Eis uma participação no debate, que, apesar de me ter chegado"sobre a hora", já quando tinha preparado os posts finais, não vou deixar de publicar. Ao lerem, vão entender porquê: trata-se de um testemeunho vivido, de alguém que viu abrir-se-lhe "uma porta para o resto da vida".
A palavra, pois, ao Marte.



Eu devo muito à Internet. Comecei nestas andanças em 1996 com 14 anos. Desde logo senti-me atraído pelos Chats. Queria conhecer pessoas de todo o mundo. Fascinava-me a possibilidade de falar com pessoas de outras culturas que conhecessem outras coisas… e assim foi. Durante alguns anos mantive contactos por mail e por carta(!) com amigos dos E.U.A., Argentina e Suécia. Vivia ansiando por receber notícias, sendo que, se as cartas ou emails se atrasavam 1 dia do previsto, entrava em pânico pensando o pior. De dois em dois meses falava com alguns por telefone. Para além do conhecimento, estas amizades foram óptimas para treinar o meu Inglês, escrito e falado, pelo que teve grande contribuição para as boas notas que fui tendo nessa disciplina. Destas primeiras amizades não mantive nenhuma, infelizmente, fui perdendo os seus contactos e agora ficam apenas as memórias.
Uns anos mais tarde, já comunicava com portugueses. Fui criando novas amizades. Como a proximidade era maior, o desejo de conhecer as caras era também maior. Conheci muita gente. Vivi algumas aventuras. E conheci uma pessoa que me abriu as portas para o resto da minha vida. No primeiro encontro face-to-face ela levou algumas amigas com ela (o receio do desconhecido estava presente) e foi quase como paixão à primeira vista… não pela minha amiga virtual, mas sim pela amiga da minha amiga virtual (ao estilo do Hi5…). Estamos juntos vai fazer 9 anos (7 de namoro + 2 de casamento) e temos um filhote com 15 meses. Por tudo isto não vejo a Internet como um meio de isolamento. A internet tem imenso potencial de Socialização, desde que seja bem aproveitada. Sobretudo há que se ser verdadeiro na comunicação via Net; se não se for verdadeiro, o medo de se ser desmascarado na vida real estará sempre presente e aí sim, surgirá o isolamento de forma a que não caía a máscara de quem tecla…

segunda-feira, maio 12, 2008

Debate "Amizades reais/amizades virtuais"- 6

Volto com o debate que aqui lancei há dias e que está na sua fase final.
Hoje divulgo um conjunto de participações que, nem por serem mais curtas e singelas, deixam de assumir importância. Até porque representam um "estar presente" que muito me sensibiliza.
Aos leitores habituais das "páginas " deste debate dispenso, desta vez,o discurso habitual sobre os comentários.


Andreia do Flautim
Eu acho que se podem criar amizades reais na internet e acho que na internet há de tudo como na vida real. Há os mais solitários que se refugiam lá, e há os que a usam como mais uma maneira de comunicar com os amigos. Eu acho que me incluo na segunda hipótese.
Zé Povinho
Podem ser bem reais.
Tudo depende das pessoas, mas essas são as mesmas que encontramos na vida real.
Isolamento? Talvez, mas há pessoas que a isso se prestam.
Frustrações? Bem eu gostava mais de ser rico, mas a saúde e a felicidade até hoje foram suficientes para eu viver relativamente contente com a minha modesta vidinha.
Thiago
Posso dizer-te que o mundo virtual já me ofereceu amizades e até amores duradouros. Não tenho qualquer preconceito em relação a esta nova forma de socializar e conhecer .
Manel
Tive vários conhecimentos virtuais que se materializaram em boas amizades nada virtuais!
A começar por ti...
Professorinha
Amizades virtuais são, muitas vezes, armadilhas... Outras vezes, fantasias...
Ando um pouco pessimista...

Grilinha
Comecei por usar a internet numa fase complicada da vida.A saúde traíu-me de um dia para o outro e fiquei presa em casa meses a fio.Aos poucos fui fazendo amizades nos chats.Hoje tenho um enorme grupo de amigos que nasceu no virtual e passaram ao real.Sempre que tenho de me afastar do pc e da net fico cheia de saudades dos emails e das noticias dos net_amigos.Para não me alongar mais;Eu abro as portas da minha casa aos meus net_amigos e tb os visito.
Addiragram
1- Umas nunca passarão de de fogos fátuos (como nos acontece ao longo da vida); outras têm "pernas para andar" e tornam-se relações sólidas.
2- o principal perigo poderá derivar de uma idealização que este tipo de comunicação facilita. Outros perigos serão aqueles que ocorrem em todas as relações.Admito, contudo, que pode haver situações em que a coberto do anonimato,se podem passar problemas complicados.
3-A internet pode combater o isolamento, mas pode tornar-se também um comportamento de natureza aditiva.
4- Não há um perfil. Contudo, admito que personalidades com dificuldades nos contactos sociais sejam mais predispostas a usar a net. A net aparece também como uma janela que se abre em determinadas circunstâncias de insatisfação pessoal. A net pode ser ainda um território acessível à construção de um espaço de criatividade que faz falta a todo o bicho humano.