sexta-feira, agosto 25, 2006

Insólito...ou talvez não.


Num centro comercial vizinho da Grand Place de Bruxelas, deparei com um letreiro insólito, colocado sobre o lavatório das instalações sanitárias.
Tão fora do vulgar, que decidi fotografá-lo.
Eis senão quando ouço uma voz, em sonoro português:
-Olha! Aquele está a fotografar o letreiro!
Ao passar pelo indivíduo, que repetia a frase, com certo ar de troça, quiz fazer-lhe ver que tinha entendido o remoque:
-É que em Portugal, nunca vi um letreiro destes!
O compatriota, foi emendando a mão:
-Mas, qualquer dia, vamos lá ter coisas destas.
E, então explicou que a administração do centro comercial, à qual pertencia, tinha tomado aquela medida dado que, sendo àrabe a maioria dos comerciantes ali instalados (facto que já tinha notado ao entrar no espaço) , todos os dias, ao fim da tarde, para se prepararem para as orações, inicialmente eles iam ali lavar os pés.
Referiu, ainda que, para compensar aquela proibição, tinham colocado aos comerciantes, a alternativa de lhes ser fornecida água, noutro espaço menos público e menos específico do que aquele.
Como se vê, há sempre uma explicação, mesmo para factos aparentemente insólitos.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Geni dos meus oito anos

Chamava-se Geni a não vestia de organdi mas era loura e tinha os olhos azuis.
Andávamos na mesma escola (era particular e por isso, nesses velhos tempos de separação inter-sexos, podia ser mista).
O pai estava preso, mas isso não me importava nada.
Escrevia-lhe bilhetinhos em papel pardo, que lhe entregava, disfarçadamente, pelo caminho.
Ela respondia-me no outro dia.
Uma vez, como não conseguiu entregar-me o papelinho antes de chegarmos à escola, passsou pela minha carteira e, rapidamente, meteu-me a cartinha no bolso.
Mas, desgraçadamente, o papel caiu.
O Rodrigo (acho que tinha ciúmes ) tinha topado tudo, e com ar inocente, foi entregar o bilhete a D. Sabina, a professora.
A senhora, uma excelente mestra, mas pautada pelos códigos vigentes na altura, chamou a Geni e deu-lhe duas reguadas. Era menina e, nesse tempo, as meninas não podiam tomar iniciativas no amor. Eu, macho, safei-me. Mas, como se impunha, lá fora, fui às fuças ao Rodrigo.
Nas longas e quentes alentejanas (morava em Évora nessa altura) ficava debaixo da janela dela, a dizer frases românticas. Que em certa ocasião foram escutadas pela vizinha de cima, o que significou que, na manhã seguinte, essas inspiradas tiradas, fizeram as delícias dos (sobretudo das ) moradores do prédio.
Nunca mais soube dela.
Chamamava-se Geni, não vestia de organdi, mas foi, aos oito anos, o meu primeiro amor.

quarta-feira, agosto 23, 2006

O que não mata, engorda


Nos últimos tempos, têm vindo a público com frequência inusitada, notícias que dão conta da contaminação das águas de bastantes praias.
Nas reportagens que vamos vendo, a propósito destes acontecimentos, não faltam as entrevistas a banhistas, que ignorando os avisos, com um sorriso aberto (um tanto alarve diria eu), fazem gala de continuar a mergulhar nas poluídas águas.
-Já aqui venho há dez anos e nunca tive problemas.
-Mas as águas estão contaminadas...
-Ora... A gente come tanta porcaria por aí que, olhe, é mais porcaria menos porcaria! E nunca ouviu dizer que o que não mata engorda?
É por estas e por outras que, se calhar, o "nosso cantinho" vai demorar muito tempo a sair da "cepa torta".

terça-feira, agosto 22, 2006