sexta-feira, abril 27, 2007

Mataram o Salgueiral!

O Sport Comércio e Salgueiros, de entre os clubes de futebol das primeiras divisões da cidade do Porto, era o mais popular, no autêntico significado do termo.
A sua massa associativa e simpatizante, era, na quase totalidade, constituída por gente a quem se convencionou chamar "humilde", com o coração ao pé de uma boca que nem sempre obedecia às regras da temperança verbal. E que também não desdenhava dar entrada a uns copos de verde ou maduro.
Desde muito novo me habituei a ir ver os jogos do "Salgueiral", ao velhinho campo Vidal Pinheiro.
Mais recentemente, alguns dirigentes sem escrúpulos, oportunistas, inconscientes, ou simplesmente idiotas, envolveram o clube em tais trapalhadas que ele, pura e simplesmente, se não acabou formalmente, está em estado agónico.
Quando passo pelo que resta do velho estádio, desmantelado para, em parte, albergar uma estação do metro do Porto, não deixo de ficar triste, ao evocar as tardes de emoções que ali vivi.
As ruínas, os despojos, ainda permanecem.
Até que se corporizem os negócios imobiliários, que estiveram, em grande medida, por detrás da morte daquele espaço.
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quinta-feira, abril 26, 2007

Pequeninos, mas não exageremos...

Dr João Cid dos Santos
Temos a tendência, por determinismo genético, por imposição educacional ou por qualquer outro motivo, a valorizar mais os nossos defeitos (que os temos às carradas) do que as nossas virtudes (que também as temos, e são bastantes).

Às vezes, é preciso que aconteça algo de mais mediático, para percebermos que, afinal, também há portugueses, entre aqueles que têm dados novos horizontes à Humanidade.

A recente operação do Eusébio, atendendo ao justificado prestígio mundial de que o genial jogador desfruta, fez trazer ao de cima, um facto, ignorado pela maioria dos portugueses. É que a técnica que foi usada na desobstrução da carótida do "Pantera Negra" foi originalmente criada , há quase 60 anos, por um médico nosso concidadão e no nosso país: João Cid dos Santos. Hoje é usada em todo o mundo.
Apesar de nessa altura se viver sob o comando do "maior português de sempre", que considerava que, para a generalidade dos compatriotas, chegava muito bem "saber ler escrever e contar" e não dava nenhuma importância a insignificâncias tais como a investigação científica. Aliás, há uma frase de Cid dos Santos, que é esclarecedora a esse propósito :"Quando há propensão para a investigação, ela pode ser conseguida com garfos, facas e colheres". Este insígne médico, teve, mesmo, complicações com o regime, apesar de não ser propriamente um opositor declarado. Mas como lhe fez algumas críticas, acabou por lhe ver ser aplicada uma punição que lhe limitava a actuação clínica ...
Cid dos Santos é apenas um dos muitos exemplos que, felizmente, temos possibilidade de referir, de portugueses que deixaram a sua marca no mundo.
Lembram-se de Pedro Nunes, grande matemático que, no século XVI, inventou um aparelho, o nónio, que haveria de revolucionar, designadamente, as técnicas de navegação?
E há outras coisas, mais modestas, mas que também têm a "nossa marca". Sabiam que aquela carapuça que se coloca nos microfones, quando se fazem reportagens ao ar livre, para evitar o ruído do vento, foi inventada por um português?

E muito mais se poderia citar.
Portanto, é possível que sejamos pequeninos, mas, contudo, não exagremos...

quarta-feira, abril 25, 2007

Os meus cravos de Abril, chegaram em Julho...


Conforme já vos contei, vivi o 25 de Abril, em Timor, muito longe.

Essa, será sempre uma frustração que me acompanhará: a de tanto ter ansiado pelo "Dia claro e luminoso" e não estar cá quando ele, de sonho passou a realidade.

Regressei a Portugal, em meados do mês de Julho de 74.

A minha mãe, pessoa sem grande formação política, sabia quão importante seria para mim, poder viver um dia no meu país, liberto de algemas e mordaças.

Por isso, nesse quente dia do mês de Julho de 74, quando cheguei ao meu quarto, tinha lá um lindo ramo de cravos vermelhos.

A minha mãe, tinha ido, de propósito, ao Mercado do Bolhão, que era um tanto longe de casa, só para que o "seu menino" tivesse também os seus cravos de Abril.

Teria feito, se fosse viva, 85 anos no passado dia 22.

No dia de hoje, ao recordá-la com a saudade e a ternura de quem perdeu, com ela, uma parte importante da sua vida, deixo-lhe uma beijo mais carinhoso e mais sentido.

Um beijo em sua memória e em memória desse Abril que ela também festejou.

MINHA MÃE - Zeca A...

terça-feira, abril 24, 2007

Os contra-poderes da Educação

Como todos bem sabemos, temos, no noso país, montes de problemas para resolver.
Tenho, entretanto, para mim, que muitos desses problemas poderiam ser ultrapassados através da Educação.
E não digo isto apenas porque trabalhei nessa área durante longos anos.
Mas, muita gente, quando fala em Educação, está fundamentalmente a pensar em escolas.
Ora, embora as instituições escolares sejam determinantes nos processos educativos, estão longe de poder resolver todas as carências detectadas nessa área.
Durante a minha carreira profissional, deparei-me com inúmeros contra-poderes, que, na realidade, inviabilizavam as mensagens educativas que ia tentando passar para os meus alunos.
Contra-poderes que vinham das mais variadas direcções.
A começar pelos meios de comunicação onde são veiculados, muitas vezes (acredito que de forma não deliberada), valores e atitudes que entram em contradição com aquilo que lhes pretendemos incutir.
Depois, as própria famílias, com enorme frequência, "não jogam o mesmo jogo" dos professores e educadores.
Um exemplo: adiantará muito, nas escolas, chamar a atenção dos jovens para as regras básicas da segurança rodoviária, quando vemos, diariamente, mamãs e papás que levam os filhos à escola e abrem as portas das viaturas, do lado da faixa de rodagem, de modo inopinado, para as criancinhas sairem?
Remato com um caso que se passou comigo há uns anos.
Leccionava Ciências da Natureza e, no âmbito do programa, tinha de falar nas qualidades de uma água poável.
Então, para ilustrar alguns dos cuidados a ter, levei para a aula e distribui fotocópias de um aviso da Junta de Freguesia, que referindo-se a uma fonte que muitos cidadãos utilizavam, alertava para o facto da água estar inquinada e não poder ser utilizada na alimentação.
Pois, na aula seguinte, uma das minhas alunas veio ter comigo e disse-me algo como:
-Ora, eu falei lá em casa daquela história da fonte e o meu pai respondeu que o professor não sabia no que estava a falar, pois toda a vida tinha bebido àgua daquela fonte e não lhe tinha acontecido nada...
Sendo assim, que fazer?

segunda-feira, abril 23, 2007

Triplamente à-vontade



Estou triplamente à-vontade para escrever o que se segue.
Em primeiro lugar, porque não sou admirador incondicional dos Gato Fedorento. Há coisas que eles fazem que considero menos conseguidas e com menos piada e menor bom-gosto. No entanto, reconheço que o seu humor não é asséptico. É, muitas vezes, comprometido e não cómodo. Bem diferente do Herman, que, tendo inegável talento, sempre se tentou amanhar, o melhor possível, com as várias "situações vigentes".
Em segundo lugar porque, quanto ao PCP, antes do 25 de Abril, era a única força de oposição, devidamente organizada e que afrontava "as feras" com sacrifícios pessoais evidentes. Assim, como desde muito cedo acordei para a necessidade de derrubar um regime que oprimia e violentava, é natural que tenha, em dada altura da minha vida, estado ligado ao "Partido" (era simplesmente assim que era conhecido).Nessa altura, até se compreendia a rigidez de princípios e a ortodoxia, pela exigência de manter uma sólida disciplina, que defendesse os militantes da feroz perseguição de que eram diariamente alvo. Rigidez e ortodoxia que deixou de se justificar quando a Liberdade se instalou (pelo menos formalmente) no país. Por essas e por outras, acabaria por me distanciar desse caminho.
Em terceiro lugar, pelo que toca ao Futebol Clube do Porto, porque sou simpatizante desde miúdo e sócio do clube . E, quanto ao actual Presidente, concedo que, tem, a seu crédito, o facto de ter transformado um clube regional, que atravessava a ponte a tremer, numa instituição de dimensão nacional e mundial. Mas tudo tem um tempo, e este apegamento ao poder que PC demonstra, conjugado com uma série de desastrosas complicações em que se tem envolvido, faz-me dizer que já deveria ter dado o lugar a outro ou outra.
Por estas três razões, estou à-vontade para dizer que os últimos acontecimentos que têm envolvido os Gato Fedorento, são, no mínimo, ridículos.
O PCP vetou a intervenção do RAP nas comemorações do 25 de Abril, com justificações que não convencem ninguém. Mas sabe-se como neste partido se cultiva o espírito de vingança. RAP saiu, portanto, fica, para sempre, na "lista negra".
Agora, disse-se que o Presidente do FCP terá movido uma acção contra os Gato, por supostas ofensas à sua pessoa. O que, a ser verdade, acrescenta mais uns pontos à ideia de que o PC "já não se enxerga" e , nesta fase da sua vida, cai em atitudes ridículas, com enorme facilidade.
Há tempos, escrevi por aí que, os Gato Fedorento se estão a tornar gradualmente mais incómodos para determinados poderes instalados. E que iriam sofrer na pele, as consequências dessa forma de estar.
Mais cedo do que tarde, essas consequências começam a aparecer. Ao ponto de já motivarem o envolvimento de forças de segurança, na protecção pessoal dos humoristas (embora eles o não admitam).
Ou seja, neste país, o cinzento ainda continua a ser a cor aconselhável.