sexta-feira, março 28, 2008

Post sonoro 21


No post sonoro de hoje, converso com a amiga Odele, que, muita gente já conhece e que é uma pessoa muito bonita, com uma alma muito grande.
Embora esta conversa seja um tanto extensa, merece ser ouvida até ao fim, pois as palavras desta mãe exemplar, constituem um documento humano que, a qualquer um de nós, não deixa de tocar.
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quinta-feira, março 27, 2008

Provérbios populares portugueses, adaptados à presente conjuntura pré-eleitoral - 1ª parte

A culpa morreu solteira.
À primeira, qualquer cai. À segunda cai quem quer.
A verdade é como o azeite: Vem sempre ao de cima.
Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo.
Apanham-se mais moscas com mel do que com fel.
As aparências iludem.
Às vezes não se respeita o burro, mas a argola a que ele está amarrado.
Bom é saber calar até ser tempo de falar.
Bom rei, se quereis que vos sirva, dai-me de comer.
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Com teu amo não jogues as peras, porque ele come as maduras e deixa-te as verdes.
Depois de S. Vicente já se pode enganar toda a gente.
Diz o roto ao nu: por que não te vestes tu?
É mais fácil prometer que dar.
Escuta o conselho dos outros e segue o teu.
Este mundo é uma bola; quem anda nela é que se amola.
Muda-se de moleiro, não se muda de ladrão.
Muito falar, pouco acertar.Muito falar, pouco pensar.
Não há guerra de mais aparato do que muitas mãos no mesmo prato.
Não medram as galinhas onde a raposa mora.
Não se deve contar com um ovo quando ainda está dentro da galinha.
Obra de vilão, deitar pedra e esconder a mão.
Olhar para a uva não mata a sede.
Ouve tudo bem, diz o que lhe convém.
Palavras, leva-as o vento.
Fia-te na Virgem e não corras e logo vês o trambolhão que levas.
Galinha cantadeira é pouco poedeira.
Gato escaldado, de água fria tem medo.
Grandes discursos não provam grande sabedoria.
Para palavras loucas, orelhas moucas.
Por falar se ganha, por falar se perde.
Presunção e água benta cada qual toma a que quer.
Quando a esmola é muita, o pobre desconfia.
Quando um burro zurra, os outros abaixam as orelhas.
Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto.
Quem convida de véspera, não quer que vá à festa.
Quem mais jura, mais mente.
Quem não tem vergonha todo o mundo é seu.
Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha.
Todos os pássaros comem trigo e quem paga é o pardal.
Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.
Uns comem os figos, a outros rebentam-lhe os lábios.
Viver não custa, o que custa é saber viver.

Voz corrente muito mente.
Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
Zurros de burro não chegam aos céus.


(repescados desta lista)

terça-feira, março 25, 2008

Reciclar e votar...

Há quem diga que não colabora na reciclagem de resíduos domésticos, porque "não vale a pena". Argumenta que os grandes poluidores (automóveis, indústrias,...) é que são os principais responsáveis pela destruição da saúde do planeta. Por isso, "reciclar não vale a pena".
Há quem diga que votar não altera nada e "não vale a pena", porque, no fundo, são os políticos profissionais os que se vão alternando no poder, e a nossa vida não melhora com as mudanças. Por isso, "votar não vale a pena".
No entanto, cá por mim, apesar de tudo, continuo a separar os resíduos domésticos e coloco-os no ecoponto da minha rua. Porque acho que vale a pena reciclar.
No entanto, continuo a ir votar. Porque acho que, se não for votar, alguém o fará e, no fim, somos todos responsáveis pelas escolhas , por acção ou por omissão. Porque acho que vale a pena tentar reciclar estas políticas que já estão fora do prazo de validade...

segunda-feira, março 24, 2008

Ainda o caso "Carolina".

Sobre este triste acontecimento, já quase se disse tudo.
Por isso, se ainda aqui evoco, é porque quero afirmar, peremptoriamente, que, casos como este, estão longe de serem únicos. Aqui, apenas aconteceu o facto de ter transposto as paredes da sala de aula. E, se calhar, ainda bem que o vídeo foi feito e apareceu "cá fora". Porque muita gente não acreditava que coisas desse tipo acontecessem.Mesmo aqui, quando uma vez falei sobre as condições de risco em que a função docente se exerce, houve vozes a sugerir que eu estava a exagerar.
Esta minha afirmação, para além do conhecimento da realidade que se vive hoje nas escolas, tem, também, a força de um testemunho directo.
Deixei de dar aulas no início de 2007. Mas, nos últimos anos da minha carreira, fui, muitas vezes, confrontado com o som de telemóveis a tocar na sala. Normalmente, após a primeira ocorrência deste tipo numa dada turma, avisava solenemente que, à próxima, haveria confiscação do aparelho.
Mas havia, quase sempre, reincidência. Então, lá retirava o utensílio, entregando-o, de seguida, ao director de turma, sugerindo que o devolvesse directamente ao encarregado de educação. Mas, sabem o que normalmente acontecia ? Pois esse encarregado de educação, usualmente, demonstrava enfado por ter sido chamado à escola, acrescentando que o professor não tinha nada que tirar o aparelho ao menino ou à menina... Aliás, nos tempos que correm, muitas vezes,o aluno já tem "télélé" quando anda no 1º ciclo.
Nunca tive casos em que o aluno me confrontasse, resistindo à confiscação. Talvez porque os "meus" eram, ainda, relativamente novos. Mas, por vezes, quando era chamado para as célebres aulas de substituição no 3º ciclo, tinha, com alguma frequência, no início da aula, jovens "mais crescidos" que entravam ainda a enviarem sms ou de auscultadores nos ouvidos,a ouvirem música e se assim sentavam , como se isso fosse a atitude mais natural do mundo, e que só muito relutantemente e com grande insistência minha, lá guardavam "aquilo"...
É preciso dizer que, cada vez mais, esta postura de desrespeito pelo professor, este modo de encarar o docente como uma "figura decorativa", se implanta no dia a dia das salas de aula.
E isso tem muito a ver com o desprestígio que a classe docente tem acumulado ao longo dos anos, em grande medida pelas odiosas campanhas de intoxicação pública que instituições governamentais e "fazedores de opinião" têm despejado nos "media", contando, é bom dizê-lo, com alguns "telhados de vidro" com que uma minoria de docentes, pela sua postura pouco profissional, tem armadilhado a classe. Ao que agora se acrescenta a avaliação do desempenho que o ministério está a decretar. Onde um professor que denuncie "demasiados" casos de insoburdinação ou tenha alunos que abandonem a escola, corre o risco de ter uma classificação menos positiva. Porque será considerado como tendo uma "deficiente relação pedagógica com o discente" ou será apodado de "não se esforçar suficientemente pela redução das taxas de abandono escolar".
E, perante este estado de coisas, o que está a acontecer, é que uma boa parte dos colegas, prefere "fazer que não vê" o comportamento inadequado, o acto de indisciplina, e demite-se, pura e simplesmente da sua missão de educador.
Dir-se-á que é uma aititude errada. Mas, ela nasce de uma questão de sobrevivência. Porque a retaliação, está ali ao canto da esquina. No carro que aparece riscado. No pai ou irmão ou amigo que vem "ajustar contas" à saída, ou mesmo, como agora se viu, na "resposta directa e na hora" do aluno.
Poderia relatar aqui inúmeros casos que comprovam o que estou a dizer. Aliás, posso mesmo referir, que aquela frase que o governo tantas vezes repete, "temos mais alunos nas escolas", tem atrás de si um cenário inquietante. É que a maioria desses alunos, que foram "repescados" para voltarem , já tem um passado de insucesso esolar que lhes instilou uma imagem muito negativa da escola. Não gostaram de lá andar e não é agora que passaram a gostar. Até porque a instituição escolar não tem mudado o suficiente para se adaptar a novas exigências e novos desafios. Mas isso seriam contas de um enorme rosário a que, talvez um dia regresse.
Sei de situações em que esses tais alunos a quem foi dada uma "nova oportunidade", andam a passear-se pela escola, a fazer a vida negra aos professores, a destruir material...Mas, no fim, sairão com um diploma...
É claro que sei que estes graves actos de indisciplina, têm atrás de si, montes de problemas sociais e económicos. Que a escola, isoladamente, pouco pode atenuar.
Mas, assim como um delinquente que "aí fora" assume comportamentes marginais, tem de ser punido, para além do que, em paralelo possa ser feito para que esses comportamentos não se repitam, também, estes jovens que derespeitam rofessores, que sabotam o clima de trabalho nas aulas, impedindo, em última análise, que aqueles que querem aprender o façam com calma e tranquilidade, não podem gozar de impunidade ou tolerãncia conivente.
E aquilo que li, oriundo de uma federação de pais do distrito do Porto, não me sossega (embora, posteriormente, a Confap tenha "emendado a mão"). Pois, para além da condenação do acto (pudera, se não haviam de condenar) já estão a adiantar que está a haver aproveitamento político e sindical da ocorrência. Aliás, discurso semelhante está a ter o ministério.
E este será um primeiro passo para que, "assentando a poeira", tudo fique na mesma.