sexta-feira, setembro 25, 2009

O velho "Timor"

O "Timor" era um velho navio da frota colonial que assegurava as ligações entre a então chamada "Metrópole" e a então chamada "Província".
Quando o conheci, já ele tinha uma provecta idade, e os vestígios da velhice acumulavam-se por todo o lado.
Havia, no entando, um sector que eu valorizava bastante. Era o salão de acesso ao restaurante, que tinha uma escadaria dupla encimada por uma grande pintura representando o Régulo D. Aleixo Corte-Real, um histórico herói timorense.
Mas o "Patas de Aço", como era conhecido na gíria local, lá se arrastava pelos sete mares, numa viagem que durava cerca de 45 dias, com passagens por Angola e Moçambique. Ia a Timor duas vezes por ano.
Certa vez. o barquito avariou e esteve muito tempo sem aparecer. Foi uma desgraça... Os géneros começaram a faltar e tivemos de improvisar soluções para conseguirmos subsistir.
Mas, quando ele aportava a Timor, era uma festa!
O navio trazia tropas para rendição das que já tinham cumprido a comissão de serviço e tranasportava víveres e outros géneros de que dependia a nossa vida. Como, por exemplo, as batatas, a cerveja, o tabaco, o vinho e por aí fora.
Nos poucos dias em que o "Timor" ali permanecia, ia-se até lá dentro. Para tomar um café. Para tomar um pequeno almoço à "moda da Metrópole". Para beber um "gin orange". E para comprar tabaco estrangeiro de contrabando, que os tripulantes exibiam às claras.
Os próprios timorenses, faziam os possíveis para subirem a bordo, pois o navio, apesar de até nem ser muito grande, era, para eles, imponente.
E entre eles, havia algumas pobres prostitutas locais que ali iam oferecer os seus serviços aos marinheiros, saturados de tanto mar.
Recordo ainda uma almoçarada a bordo do "Timor" conseguida por um amigo que conhecia um tripulante. Comemos uma soberba caldeirada, regada por um vinho tinto que, mesmo não sendo propriamente um "Barca Velha" nos pareceu o melhor dos néctares. De tal modo que, finda a refeição e regressando a terra firme, não fora agarrarmo-nos firmemente às cordas que ladeavam a escada, teríamos todos mergulhado nas cálidas águas da baía de Dili.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Se é de borla...

Uma boa parte dos nossos concidadãos pela-se porque alguém lhe faça chegar às mãos seja o que for por que não pague um cêntimo.
Por isso, logo que lhe acenem com qualquer produto que seja oferecido, aí está uma fila de gente ansiosa por não perder a oportunidade.
Foi assim, há dias em Santa Catarina, aqui no Porto.
E foi assim, há anos, ali na Praça da Liberdade, onde uma conhecida marca de aperitivos franceses destribuía copinhos da sua bebida (por sinal nada ao gosto português).
Então, um homem que passava, perguntou a um seu conhecido que já estava de copo na mão:
-Ó pá. Que é isso que estão aí a dar?
Resposta:
- É uma bebida francesa.
- E isso é bom?
-Ó pá, é uma m.. . Mas como é de borla...

foto Peciscas
foto Peciscas

terça-feira, setembro 22, 2009

É tudo espectáculo.

Segundo o que tem vindo a público, os debates entre os líderes dos partidos com assento (cadeira...) na Assembleia da República, bateram recordes de audiência.
Os programas dos Gato Fedorento em que os políticos se sujeitam a situações embaraçosas, também têm muita gente a ver.
E aquelas reportagens que mostram a intimidade desta gente, parece que também despertam muita curiosidade.
Já ouvi comentadores a dizerem que isso acontece porque o bom povo português quer ser esclarecido e está mais exigente. Por isso procura inteirar-se das ideias para, depois, ter um voto mais consciente.
Em meu modesto entender, não é nada disso. O que o Zé quer é espectáculo.
Ver se A esmaga B.
Ou se C se engasga com as rasteiras de D.
Ou se E tem uma casa bonita.
Ou se F consegue dizer uma piada que não tenha sido preparada pelos assessores.
Quanto a mim, estamos a assistir a um processo de americanização da política portuguesa.
Repito, é tudo espectáculo.
E, na hora de votar, pelos vistos, estas peças teatrais já ninguém as recorda.
Esperemos pelo dia 27 para o comprovar...