sexta-feira, setembro 29, 2006

Ninguém pode "sacudir a água do capote",

Volto ao JN.
Na quarta-feira, leio "Portugal cai três lugares no "ranking" da competitividade.
Esta classificação é elaborada pelo Fórum Económico Mundial, e nela Portugal aparece no 34º lugar ( num total de 125 países).Agora, fomos ultrapassados pela Tunísia e por Barbados.
Nos cinco primeiros lugares:Suiça, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Singapura.
Esta não será, de todo, uma notícia surpreendente.
Mas, ao ler-se o seu desenvolvimento verifica-se que este estudo tem por base nove pilares.
E, o que é curioso, é verificar como estamos em alguns desses pilares.
E, aí, pode ver-se que, em "Macroeconomia", estamos em 80º lugar.
Em "Capacidade tecnológica", em 37º.
Em "Sofisticação no negócio", em 43º.
Em "Eficiência de mercados", 38º.
Em " Educação superior", 37º.
E, surpresa, em "Saúde/Educação inical", obtemos o resultado menos mau - 16º lugar.
Afinal, quando um conjunto significativo de empresários aparece a malhar, forte e feio, disparando em muitas direcções, atribuindo culpas muito diversificadas sobre os atrasos do país, talvez se lhes pudesse apontar estes dados, para que não sacudissem tanto "a água do capote".
Estamos, de facto, mal, em quase tudo.
Mas, as responsabilidades são muito amplas e não se restringem a este ou aquele sector.
E, quem tem o dever e a obrigação de empreender, de arriscar, de inovar, de investir, não se pode alhear da sua quota-parte de culpa. Que é grande e não se pode disfarçar com desculpas esfarrapadas.
Parece que, para muitos desses empresários, o investimento só se justifica quando não há riscos. Por isso, defendem uma cada vez maior flexibilidade da lei sobre contratação laboral, cada vez mais baixos impostos sobre as suas actividades, e por aí fora.
Temos, de facto, muitos problemas a resolver.
Mas eles só se enfrentarão com um mínimo de sucesso, se cada um de nós, e todos, no conjunto nacional, formos capazes de melhorar os nossos desempenhos e não passarmos a vida a atirarmos todas as pedras para os telhados alheios.
Já agora, não resisto a uma nota final.
Apesar de ser constantemente nomeado como um dos factores mais preponderantes para o atraso do país, a Educação Inicial (aqui agregada à Saúde), ou seja a que inclui os graus de educação antecedentes ao Ensino Superior, é a que se porta menos mal...
Todos estamos de acordo em exigir que o Sistema de Educação básica seja melhor, mais rigoroso, mais justo.
Mas, quem tanto zurze os ouvidos alheios, talvez ganhasse em apresentar desempenhos melhores nas suas esferas de acção.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Professores a 6 euros à hora!

Um destes dias, o JN fez uma investigação jornalística e chegou à conclusão de que há municípios que contratam professores para as chamadas actividades de enriquecimento curricular, a recibo verde,e a 6 euros à hora.
Há, pois, muitas Câmaras, que se aproveitam da conhecida falta de colocação para milhares de professores, para lhes pagarem ridicularias pelo seu trabalho.
A "assistente doméstica" (para usar a curiosa expressão de uma amiga que costuma passar por aqui), que vem semanalmente prestar serviços cá a casa, ganha 5 euros por hora.
Dá para se entender, como está bater no fundo a imagem social dos docentes.
Vem, por isso, a propósito repescar o seguinte excerto da entrevista dada por Antti Kalliomäki, ministro da Educação da tão louvada Finlândia, à Notícias Magazine de 17 de Setembro:
"Segundo um estudo que li, na Finlândia, os professores são valorizados socialmente,tanto como os médicos e os advogados. Na maioria dos países europeus, Portugal incluído, aqueles profissionais sentem-se desvalorizados e deprimidos. O que é que acha que faz a diferença?
-A população finlandesa confia na educação. A profissão de professor tem raízes profundas no nosso país e razões históricas para ser valorizada."
Isto, na célebre Finlândia, líder dos estudos internacionais de sucesso educativo.
Ainda hei-de voltar a esta entrevista, prometo!

terça-feira, setembro 26, 2006

Os salvadores da Pátria

Image Hosted by ImageShack.usNos tempos que correm, é raro o dia em que não apareçam uns iluminados com um pacote de soluções milagrosas para se resolverem os problemas do país.
Desde a sustentabilidade da Segurança Social, à crise do Sistema Educativo passando pelo problema da Administração Pública, tudo ficaria resolvido em duas penadas, a avaliar pela convicção e grau de infalibilidade com que determinadas propostas são apresentadas.
Eles são fóruns, eles são simpósios, eles são relatórios, onde tudo é evidente e inequívoco.
Diminuir o peso da Administração Pública ?E fácil! Acaba-se com o Estado.
A Segurança Social está com problemas ? É linear! O Estado deixa de assegurar esse encargo e cada um que se desenrasque noutros sítios.
O Serviço Nacional de Saúde está em défice permanente? É óbvio. Cada cidadão que faça o seu seguro de doença e a coisa resolve-se.
Ontem apareceram mais algumas notícias nessas áreas.
Assim, diz-se que quase metade dos impostos vai para salários da Função Pública. O que levaria a crer que esta parte da população vive à custa da outra metade. Só que, por acaso, os funcionários públicos também pagam impostos, que inexroravelmente lhes são descontados no salário, facto de que, muito boa gente (que se escapa ao fisco com enguias), e que até subscreve essas críticas, não se pode gabar.
Também apareceu um relatório, dizendo que, ainda na Função Pública, há excesso de pessoal auxiliar.
Se isto fosse levado à letra, cegamente, lá veríamos, por exemplo, serem dispensados Auxiliares de Acção Educativa das escolas, quando, toda a gente sabe, que, aí, se vão acumulando défices crónicos que já obrigaram Encarregados de Educação a irem, voluntariamente, para as escolas, assegurarem as funções auxiliares mínimas para que os seus filhos pudessem ter aulas.
E, nos hospitais, os auxiliares, que ajudam a colmatar as carências de enfermeiros, iriam também para a rua?
A não ser que os médicos, os professores, os juízes, passem as limpar as salas onde trabalham, os empresários a passar a esfregona nos seus escritórios e os ministros a despejarem os cestos de papéis dos seus gabinetes. Se assim for, de facto, teremos de concordar com esses "salvadores da Pátria" e acreditar que eles sempre descobriram a pólvora e , afinal, ninguém sabia...

segunda-feira, setembro 25, 2006

Os chamados "caprichos da natureza"

foto Peciscas A Natureza aposta, por vezes, em querer alterar o rumo habitual das coisas.
E quando isso acontece, das duas, uma: ou surgem catástrofes ou, muito simplesmente, sucedem coisas bizarras.
Tal e qual este pinheiro que contrariou o destino normal dos seus irmãos: em vez de projectar, impante, a sua copa em direcção aos céus, resolveu, talvez cansado, sabe-se lá de quê, curvar-se e repousar as suas verdes agulhas na poeira do caminho.