sexta-feira, agosto 14, 2009

Cranças refugiadas em Moçambique- Um drama de África

Mão amiga fez-me chegar, em amável oferta, o livro "Crianças refugiadas em Moçambique- Um drama na África" de Grace Olsson.
A autora, uma brasileira nordestina radicada na Suécia, onde vive com o marido, apresenta-nos, nesta obra, um trabalho, misto de pesquisa e de reportagem, que constitui a sua tese de graduação em Direito.
Grace não é, no entanto, alguém que se fica pelo trabalho teórico em torno de uma problemática que tem sido pouco tratada. Isso já seria importante. Mas esta nossa colega de blogosfera (que é também uma excelente fotógrafa), vai bastante mais além. Desloca-se a campos de refugiados e convive com a dura realidade que estes cidadãos tão desprotegidos suportam no dia a dia.Assim, passou algum tempo no campo de Maratane, no norte de Moçambique (onde se deslocou diversas vezes).
Os dados e relatos que nos traz deste recanto de um país que sempre estará ligado à nossa história , são impressionantes.
Entretanto, mais do que aquilo que eu poderia dizer sobre esta importante obra, serão as próprias palavras retiradas do livro, que poderão ilustrar o seu alcance e valor humano.
Transcrevo:
"A realidade é que de cada 10 refugiados no mundo, sete são aceites por países pobres e que os países ricos reagem fechando fronteiras dificultando a aceitação de refugiados no meio social, excepção feita à Suécia, que "em 2005 recebeu 9339 refugiados", mais do que todos os países da União Europeia juntos. "Temos de aprender a viver todos como irmãos ou morreremos todos como loucos" já dizia o líder americano Martin Luther King."
E , mais adiante, falando do Campo de Refugiados de Maratane:
" O dia por lá parece não ter fim. E, com excepção de alguns refugiados, a maioria não tem conhecimento de que há Convenções, Tratados e Estatutos a protegê-los. Moçambique, apesar de um país pobre, é solidário e não fecha as suas fronteiras para nenhum refugiado que bata à sua porta".
E, ainda, na conclusão do livro:
" Sonhar, para a criança refugiada é um verbo conjugado sempre no presente, de forma confusa embaçada de cenas em preto e branco e com as cores do arco-íris que somente as mentes infantis são capazes de criar. Se navegar é preciso, no mundo infantil da criança refugiada, SONHAR é o melhor remédio para a cura de males que um dia, quiçá, deverão ficar para trás".
Estas breves citações poderão ajudar-nos a compreender a grande dimensão humana de Grace Olsson, que abraçou a causa dos refugiados de forma totalmente altruísta, bem diferente daquela que sustenta a actividade oficial na ONU de um político bem nosso conhecido, que foi chefe de governo , do qual fugiu para hoje ocupar um cargo que é bem remunerado.
Aliás, os proventos da venda deste livro de que hoje vos falo, reverterão para o auxílio das crianças refugiadas em Moçambique.
Fazem falta no mundo, muitas Grace Olsson.

quinta-feira, agosto 13, 2009

De degrau em degrau, que mais nos espera?

Segundo o que foi noticiado, um antigo deputado brasileiro e apresentador de televisão, teria encomendado crimes de morte para elevar as audiências do seu programa Canal Livre, que reportava acontecimentos do foro policial.
As suspeitas começaram quando se detectou que as equipas de televisão chegavam primeiro aos locais do crime do que as autoridades.
A ser verdade, este caso demonstra o como está a bater no fundo o conceito de espectáculo televisivo.
Os programas que exploram sentimentos mórbidos e primitivos do ser humano proliferam e parece valer tudo para criar atmosferas de curiosidade doentia nos espactadores.
Este crescendo de sensacionalismo e morbilidade, de degrau em degrau, não se sabe que mais horrores ainda nos trará.
Quanto a mim, só irá parar quando for possível, através da Educação e da Cultura, consciencializar as pessoas para os limites que não se podem ultrapassar, sob pena de perdermos a condição humana para regressarmos à babárie.
No dia em que este tipo de programas perder audiências começaremos a estar livres destas prácticas ignóbeis ou mesmo criminosas, como parece ter sido o caso.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Aqui, não há crise...

A crise pode andar por muitos lados. Mas, pelos vistos, não atinge as máquinas de propaganda eleitoral, a avaliar pela profusão de cartazes que por aí se vêem...
Ora apreciem um breve exemplo que recolhi há dois dias junto de uma rotunda por onde costumo passar.
Olhem e contem...foto Peciscas

terça-feira, agosto 11, 2009

Valeu a pena lutar!

Há tempos aqui vos falei da preocupação que os moradores aqui da zona sentiam perante a hipótese de ser construído um canil para albergar cerca de mil cães, bem perto das residências.
Perante esta iminência, os moradores movimentaram-se, intervieram na assembleia municipal e de freguesia, promoveram abaixo-assinados, participaram num programa em directo na SIC, para além de muitas outras diligências.
Sempre vincando a ideia de que nada movia os vizinhos contra a meritória acção da Sociedade Protectora dos Animais, empreendedora do projecto, mas sim contra a inoportunidade de ele ser edificado numa zona de concentração urbana.
Pois bem. Todos estes esforços, acabam por, aparentemente, dar resultados.
O Presidente da Câmara de Gondomar, assumiu, recentemente, em telefonema para um dos moradores, e, mais tarde, em reunião da Assembleia Municipal, que o referido canil não será construído aqui, junto das casas, reconhecendo que tal não teria sentido. Disse, ainda que sabia que havia um projecto para construir um abrigo de cães neste freguesia, mas ignorava que fosse perto de residências (será mesmo que não sabia?).
E, afinal, como sempre dissemos, encontrou-se uma alternativa, no concelho de Gondomar, para edificar o empreendimento, em terrenos longe de habitações, mas ao lado de boas vias de comunicação, já construídas ou a construir.
E, aí, tudo será conciliado: a tranquilidade dos humanos e a a dos animais.
Entretanto, ficam aqui algumas reflexões que poderão enquadrar este desfecho, feliz para os moradores dest zona.
Com efeito, esta decisão pode explicar-se por diversas circunstâncias:
-a decisiva movimentação dos moradores que seriam prejudicados por esta construção;
-a intervenção junto de órgãos de comunicação social de grande impacto nacional.
-a proximidade de eleições, onde não convém nada aos políticos que surjam movimentos de descontentamento de potenciais eleitores.
Conclusão: a democracia não se exerce apenas de x em x anos, depositando um ou mais pepelinhos numa urna. Ela pode e deve afirmar-se no dia a dia, pela intervenção dos cidadãos na resolusão dos seus problemas e na pricura de resposta para os seus anseios.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Em memória de Raul Solnado

Difícil seria não falar do desaparecimento físico de Raul Solnado.
Um artista que, ao seu modo, marcou uma época.
Era, acima de tudo, um português, que para além de fazer rir outros portugueses, também os fez pensar.
O Zip-Zip, de que foi um dos impulsionadores decisivos foi o primeiro programa de televisão que furou a barreira do cinzentismo cultural de um país em que era imposto o pensamento único e tudo era controlado.
Às segundas feiras, entre Maio e Dezembro de 1969, era certa a minha presença frente ao televisor, aguardando, com expectativa, o que se iria passar naqueles minutos que eram uma espécie de oásis na programação da RTP.
Quantos artistas, cantores, pintores, cuja presença não era habitual nos grandes meios de comunicação, por ali passaram.
E, depois, esses monólogos que se ouviam a cada hora na rádio, com destaque para essa inesquecível "Ida à Guerra de 1908". Onde se fazia, através da sátira inteligente, a denúncia da inutilidade dos conflitos armados. Combater a guerra realçando o seu lado ridículo foi uma aposta inteligente do actor. E, também, um acto de coragem, pois, a guerra colonial estava no auge.
Assistia a algumas peças protagonizadas pelo Solnado. Refiro, em especial, "Bravo Soldado Schweik", baseado num livro de Jaroslav Hasek, que eu tinha lido aos 19 anos e tinha relido quando andei na tropa, pois era um libelo certeiro contra o militarismo acéfalo.
Num desses espectáculos, no teatro Sá da Bandeira no Porto, os espectadores foram avisados de que, no final da peça deveriam permanecer na sala para assistirem a uma rábula do actor. Foi então que ouvi, pela primeira vez, mais um dos seus monólogos ,"A Bombeiral da Moda", que foi nessa altura gravada ao vivo, para poder ter, como fundo, as gargalhadas do público. Por isso, de certa forma, colaborei no disco que depois foi editado.
E também tive o privilégio de ter um texto meu lido (enviado para um concurso promovido pelos realizadores) pelo grande actor, no programa radiofónico "Tempo Zip" que, foi uma espécie de prolongamento do "talk show" televisivo.
Recordo ainda, uma apoteótica recepção que lhe foi prestada aqui no Porto, na estação de S. Bento, numa altura em que veio para uma sessão de autógrafos ali na Vadeca da rua de Santo António (hoje 31 de Janeiro). Nunca a velha estação ferroviária esteve pejada de tanta gente. Situação talvez apenas comparável ao acolhimento do General Sem Medo, Humberto Delgado, uns anos antes.
Mas, os grandes artistas, os que marcam o seu tempo, podem desaparecer fisicamete, que a sua memória os fará sempre reviver.
É o caso de Raul Solnado.