quinta-feira, outubro 18, 2007

Erradicar a pobreza?

Ontem foi o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
Há certas efemérides que têm atrás de si carradas de cinismo.
Erradicar a pobreza?
Quando num só dia de guerra no Iraque se gasta aquilo que daria para alimentar muitos milhares de famintos.
Erradicar a pobreza?
Quando um só dos iates do Abramovitch vale o orçamento anual de muitos milhares de famílias miseráveis.
Erradicar a pobreza?
Quando no nosso país há cerca de dois milhões de pobres, e, segundo dados revelados pela associação Oikos, Portugal é o país da Europa em que o fosso entre ricos e pobres é maior. As 100 maiores fortunas portuguesas constituem 17% do PIB, 20 % dos mais ricos representam 45,9 % do rendimento nacional.

Erradicar a pobreza?
Não estarão a brincar com a desgraça alheia?

quarta-feira, outubro 17, 2007

Há sempre alguém que diz NÃO

16 de Outubro- são passados 25 anos sobre o dia em que um gigante com coração de menino, morreu, em Avintes, no colo da sua mãe.
Chamava-se Adriano Correia de Oliveira e tinha uma voz única. Potente mas cristalina. Intensa mas melodiosa.
Passou pela vida demasiado depressa.
Mas, ainda assim, deixou obra.
Foi também com ele,que aprendi a descobrir e a amar a liberdade. Por exemplo,quando cantava, num coro que envolvia muitas outras vozes, a trova que o poeta Manuel Alegre escreveu e que ele, quase à socapa, gravou e nos deu:

Mesmo na noite mais triste
em tempos de servidão
Há sempre alguém que resiste.
Há sempre alguém que diz NÃO.

A força com que gritávamos este NÃO!
Conheci-o nos tempos em que ele era estudante coimbrão e residente na república "Rás Te Parta".
Lembro-me dele, aqui no Porto, aquando de uma qualquer manifestação política, já depois "do 25" a brincar com o facto de estarem poucos manifestantes, mas o cortejo demorar muito a passar:
- Se calhar, são sempre os mesmos. Estão é às voltas- Praça, Sá da Bandeira, Avenida e continua.
E soltou uma das suas sonoras gargalhadas.
Ouvi-o cantar, pela última vez, já bastante doente, conjuntamente com a filha, num festival ali para os lados das Antas.
Era o popular Vira Velho:

Agora já não o sou
Eu já fui o teu amor
Agora já não o sou.
Se ainda te bato os olhos
Foi jeito que me ficou

Agora, Adriano, já não és.
Jà não estás. fisicamente aqui.
Mas o teu jeito ficou.
Para sempre.

terça-feira, outubro 16, 2007


No início dos anos setenta, Timor ainda não era auto-suficiente em termos alimentares. Como o não é hoje. Como nunca o foi.
No tempo em que lá vivi, os alimentos, tanto para a população local como, muito principalmente para a tropa e para os portugueses, vinham da Austrália (na sua maioria em conservas) e , em grande medida de Portugal (na altura designado de Metrópole).
Lembro-me, por exemplo, de andar dois anos a beber leite condensado e a pôr manteiga de lata no pão ou a comer queijo derretido, que nos chegava, também, enlatado.
Havia um barco, o "Timor", em gíria denominado "patas de aço" que arribava ao porto de Dili duas vezes por ano. Trazia tropas para rendição de contingentes e trazia géneros. De Portugal, de Angola e de Moçambique, onde escalava.
Azeite, batatas, vinho, cerveja, tabaco, arroz, massa e por aí fora, eram descarregados, nessa festa bianual que era a chegada do navio a Dili.
A vida, naquelas terras, dependia, em grande medida, desses abastecimentos.
Por isso, numa ocasião em que o barco, já bastante velho, avariou e esteve uns meses a reparar em Lisboa, as reservas alimentares começaram a escassear, de tal modo que, pouco a pouco, a comida disponível foi ficando cada vez mais limitada.
Começaram por desaparecer as batatas, depois o arroz (base essencial da dieta alimentar timorense) e quase tudo o mais. Cumulativamente, os poucos talhos que havia (penso que eram dois, um dos quais apenas servia militares, tendo apenas carne de búfalo e de porco) também foram ficando despejados.
A dado passo, só tínhamos, para comer, massa e salsichas. Mais nada.
Durante uns três ou quatro intermináveis dias, só massa e salsichas.
Imagine-se um bando de portugas, longe da terrinha, sem as indispensáveis batatinhas que faziam parte da nossa alimentação desde os primeiros dentes.
Na casa onde morava, com mais três camaradas, sonhava-se noite e dia com o tal apetecido tubérculo.
Até que um dia, o Marcelo chegou, esbaforido e rejubilante:
-É malta, o Mye Hap tem batatas!
Era um restaurante chinês (como era quase todo o comércio nessa altura) onde se ia poucas vezes, quando se queria comemorar algo.
Quase em uníssono, todos gritámos:
-Vamos lá jantar!
Fomos o mais cedo possível. No entanto, metade da guarnição militar, tivera a mesma ideia. Estava o restaurante cheio, de modo que tivemos de aguardar vaga, durante largos minutos, o que, dantes nunca tinha acontecido.
Quando, finalmente chegou a nossoa vez, o empregado perguntou-nos o que queríamos comer.E nós, novamente a uma só voz:
-Batatas!
E o atónito empregado:
-Mas... Batatas, com quê?
- Ó pá! Com o que tu quiseres! Traz mas é batatas, porque o resto não interessa.
Devem ter sido as batatas que mais saboreámos até hoje.
Seguramente que lagosta não nos teria sabido melhor...

segunda-feira, outubro 15, 2007

Opiniões...

Monsenhor Luciano Guerra, reitor do Santuário de Fátima, deu uma extensa entrevista à revista NS, que acompanha o JN ao Sábado.
Entre as várias opiniões que expõe, retenho duas, que transcrevo:
"Há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos."
Pergunta o jornalista;
"Agressões pontuais justificam um divórcio?"
Responde o Monsenhor:
"Eu, pelo menos, se estivesse na parte da mulher que tivesse um marido que a amava verdadeiramente no resto do tempo, achava que não. Evidentemente que era um abuso, mas não era um abuso de gravidade suficiente para deixar um homem que a amava".

Noutro passo da entrevista.
"A sociedade entendeu que a melhor forma de preservar a paz, no fundo o progresso,foi tirar as mulheres da frente do homens. O perigoso não está nas mulheres, o perigo está nos homens. ...
...Se o homem não se impressiona com a mulher, a mulher não se impressiona com o homem...
...tenho para mim que a falta de aproveitamento dos nossos jovens está na sexualidade, que lhes absorve a atenção, mesmo sem estímulos externos, o principal dos quais é a mulher. Você sabe como é a imaginação de um homem. Ponha agora uma rapariga ao lado e vai ver que ele se distrai mais rapidamente do que com um homem".


Três notas a propósito:
-Preparai-vos, mulheres amadas, para serdes acariciadas com umas "pêras" na fuça, de onde a onde, que esse é um imposto baixo para tanto amor...
-Ó Engº Sócrates afinal anda o senhor tão afobado a acumular medidas para levar o país na senda do progresso... Mas, qual Choque Tecnológico, qual nada... Siga os conselhos do Monsenhor, afaste os homens das mulheres e vai ver como o país avança...
Já pensou em repartições de finanças só com homens ou só com mulheres? Ou tribunais? Ou fábricas? Ou esquadras? Ninguém se distraía... Era só produção!
-Ó Doutora Lurdes Rodrigues: deixe-se lá de matutar mais nas questões do insucesso escolar. Volte mas é ao velho tempo das escolas só pra meninas ou só pra meninos e logo verá que Portugal salta para a cabeça dos indicadores de sucesso inernacionais. Mas, já agora, não se esqueça de pôr vidros foscos nas janelas das escolas e, deixe-se dessa história de pôr computadores nas escolas, porque, afinal, as meninas, "entram" por todos os lados.