sexta-feira, março 31, 2006


Volto ao baú das recordações que conservo dos dois anos minha vida passados em Timor.
E tiro de lá a passagem da inesquecível Amália por aquela então denominada "Província Ultramarina".

Andava a fadista em digressão pela Austrália, Hong-Kong, Macau, quando alguém se lembrou que nunca tinha ido à terra "em que o sol nascendo vê primeiro" como cantava Camões.
foto PeciscasE, vai daí, no dia 21 de Setembro de 1972, Amália desembarcava no aeroporto de Dili.
A aguardá-la uma pequena multidão (tendo em conta a dimensão local). Individualidaes destacadas e representantes dos poucos e modestos órgãos de informação da terra. Entre eles, estava eu, que, na altura, desempenhava o pomposo cargo de Chefe da Redacção do jornal " A Província de Timor" editado pelo exército e impresso ...em duplicador de stencil (hoje seria, provavelmente, em fotocopiador) ....
Presente também, o então correspondente local da RTP e igualmente jornalista, que é aquele senhor de cabelo quase rapado e de óculos sobre a cabeça, que se vê na imagem. O seu nome? José Manuel Ramos-Horta.
foto PeciscasAcompanhei a viagem de Amália até ao hotel onde ficou alojada. Quando o autocarro onde seguia passou por mim, fotografei-a. Ela, vendo um sujeito fardado, de máquina em riste, fez-me a continência que também vos mostro.
No dia seguinte, na única sala de espectáculos de Dili, Amália cantou, naquele que, muito provavelmente, terá sido o espectáculo que pior correu na sua carreira. Desde logo porque, a assistir, não haveria nem uma centena de pessoas, e, todas elas, convidadas à borla. Depois, porque o som, a cargo do titular de uma banda(conjunto, como então se dizia) local, deu o berro, começou a guinchar e a soluçar, com grande desespero do jovem músico que tentava acalmar o amplificador, colocando-lhe uma ventoinha a soprar por cima.
Até que a Amália, bem ao seu jeito lhe atirou:
- Ó filho! Está quieto e deixa lá isso que eu canto mesmo sem microfone.
E, de facto, para tão pouca gente, não precisava de aparelhgem.
É desse espectáculo que vos mostro parte da primeira fila.
A jovem que se vê batendo palmas é Natália Carrascalão (que, na legislatura anterior da nossa Assembleia da República integrou o grupo parlamentar do PSD), membro da família que, mais tarde, haveria de aparecer nas bocas do mundo, por razões algo trágicas, aquando da ocupação Indonésia.À sua esquerda, novamente, o Ramos-Horta. Nessa altura ainda provavelmente nem sequer sonhando que seria, um dia Prémio Nobel, Ministro e presumível candidato a Secretário-Geral da ONU.
Recentemente, através de um amigo de um familiar, tive ocasião de lhe enviar uma mensagem e algumas fotos desse tempo. Ainda se lembrava desse tal Alferes que, compartilhava com ele andanças jornalísticas e que, depois do 25 de Abril, lhe fez a primeira entrevista política da sua carreira.
foto Celestino Ribeiro

quinta-feira, março 30, 2006

O DIREITO À PREGUIÇA

Tinha um colega ( reformou-se com pouco mais de quarenta anos) que dizia que ser preguiçoso é um direito constitucional.
Ou seja, se há mesmo liberdade, cada um deve ser livre de trabalhar ou não fazer nada.
É claro que este colega foi sempre um incompreendido.

Haverá por aí alguém que, verdadeiramente, esteja em desacordo com ele?

quarta-feira, março 29, 2006

Será preciso saber ler?






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Lamentamos, com frequência (e nós, professores muito em especial) que os nossos jovens gostem cada vez menos de ler e de escrever.
É um facto que também me preocupa.
No entanto, não deixo de constatar, igualmente, que vivemos numa sociedade crescentemente iconográfica.
Vivemos rodeados de signos e símbolos que, de modo rápido, imediato, nos dão as informações de que necessitamos.
Dantes, quando se procuravam as instalações sanitárias,por exemplo, ainda apareciam as palavras "homens" ou "senhoras". Agora, já não é preciso. Desde o bonequinho a fazer chichi para o peniquinho ao desenho mais elaborado, tudo serve para se evitarem as letras.
E a gente habitua-se...

segunda-feira, março 27, 2006

ILUSÕES


- Tenho a certeza, porque vi com os meus próprios olhos!

Poderemos, de facto, confiar sempre naquilo que os nossos olhos vêem?
Ou estaremos condenados a compartilhar as nossas, com outras visões para, não corrermos o risco de ficarmos enclausurados em duvidosas certezas?