quinta-feira, maio 03, 2007


Nos anos setenta, em Timor, quase não havia turismo.
A não ser o chamado "turismo de pé descalço" ou, melhor dizendo, "de chanatos de borracha". Assim ,apareciam por lá uns jovens e umas jovens, na maioria oriundos da Austrália, que vinham em busca de uma certa liberdade de acção e da vida barata.
Havia mesmo , na praia, quase em frente ao melhor hotel de Dili, um grande recinto coberto do tipo alpendre, coberto de colmo e chão de cimento, com sanitários e onde se podiam estender uns sacos-cama e dormir, mais ou menos ao ar livre. Era a chamada "Beach House".
Ora, nessa altura, havia no Quartel General um cabo, encarregado da arrecadação da Companhia de Comando e Serviços, lisboeta dos quatro costados (penso que da Mouraria), a quem as australianas despertavam uma particular apetência erótica.
Mas tinha um "pequeno" problema: a língua inglesa, era, para ele, um território quase desconhecido.
Por isso, o homem, depois de muito cogitar, elaborou uma frase que era uma espécie de cartão de visita, com que iniciava as abordagens às beldades do país dos cangurus:
- Me, Abílio, primeiro cabo of arrecadeixan!
E não é que o Abílio, no meio de inúmeras tentativas que se saldaram por umas risadas trocistas das visadas, algumas vezes até "levou a água ao seu moinho"?

quarta-feira, maio 02, 2007

Fumar ou não fumar, eis uma delicada questão...


No momento em que escrevo este texto, está em discussão na AR uma proposta de lei sobre a questão do tabagismo.

Os vários partidos que intervieram, manifestando o seu acordo sobre questões óbvias, em redor dos malefícios do tabaco, não deixaram, entretanto, de vincar bem que devem ser defendidos os "direitos dos fumadores".

Curiosamente, quem mais se encarniçou nessa vertente, foi o Bloco de Esquerda, pela voz de um deputado que até é médico. Nomeadamente, esquecendo (o que não deixa de ser incoerente) os direitos dos trabalhadores de bares e restaurantes onde este partido defende o "direito de se fumar". Para este partido, o direito à saúde desses trabalhadores, pode-se esquecer...

Cá por mim, estou de acordo que os fumadores não devem, por causa desse hábito, serem considerados como criminosos ou cidadãos de segunda.

No entanto, esse princípio tem limites que são, muitas vezes, inconciliáveis com outro direito fundamental: o de ninguém ter de ser obrigado à exposição ao fumo do tabaco.

E aí, deve-se dizer que o fumador, pode até incorrer num crime. De facto, se teimar em fumar junto de pessoas que o não pretendem fazer, pondo em risco a sua saúde, terá de concluir-se que está a incorrer num ilícito. Tal como para um poluidor do ambiente deliberado e negligente se fala em "crime ambiental".

Na AR, como na comunicação social, há um lobi dos fumadores, que, não ousando contestar abertamente os fundamentos de qualquer lei que intervenha na questão, naturalmente, tentará, por todos os meios, suavizar, o mais possível, os seus efeitos restritivos.Miguel Sousa Tavares e Vasco Pulido Valente, dois fumadores inveterados, são nomes que se destacam neste "combate". Que dizem ter direito aos seus "prazeres", ignorando que esse tipo de argumentação, publicamente assumida, vai contribuir para que haja quem (sobretudo nas camadas jovens) queira descobrir esses mesmos "prazeres" de que os outros falam.

Apesar de compreender (até porque fui fumador durante mais de vinte anos) que não se deixa o vício (aqui, normalmente, usa-se o eufemismo "hábito", que é menos contundente ...) de um dia para o outro, como facilidade e sem sacrifício, entendo, no entanto, que é de esperar que, gradualmente, surjam leis cada vez mais restritivas no que se refere ao consumo do tabaco.

Fundamentalmente porque, na medida em que as leis apontem para o facto de fumar ser um facto negativo, será mais fácil a desvalorização social do hábito de fumar e, com isso, contribuir para que cada vez menos cidadãos se inciem no consumo do tabaco ou que, tendo-o já instalado, se inclinem a abandoná-lo.

Porque um grande obstáculo à prevenção do tabagismo, reside na aceitação social desse tipo de droga, em oposição a outras, consideradas, e bem, como proscritas.

De acordo com os defensores dos "direitos dos fumadores" deveria haver, em todos os locais, áreas para os fumadores. Ora, se fosse assim, como se poderia dizer aos jovens, nas escolas, que fumar não é um comportamento "normal" em termos de saúde, se eles perceberem que, por todo o lado, essa é uma prática aceite e protegida?

Estou convencido, é claro,de que o papel fundamental se joga na educação para a saúde, na prevenção e no apoio à desabituação.
Mas repressão (não devemos ter medo da dureza do termo) também é necessária. Por via legislativa, fiscal, social. Por exemplo, um estudante que seja apanhado a fumar em recantos da escola, deverá ser punido.Tal como quando vandaliza instalações ou insulta funcionários ou professores. Para que a função educativa seja minimamente eficaz.

Dir-me-ao que não é só tabaco que mata. Também a alimentação descuidada, o sedentarismo e por aí fora. Isso, sendo verdade, não serve de desculpa para que não se actue.Em todas estas áreas. Cruzar os braços, arranjando as mais variadas desculpas, não resolve coisa nenhuma.

Uma palavra final sobre o que os mais encarniçados defensores do tabagismo invocam para que não se limitem os direitos dos fumadores: cada um é livre de fumar ou não fumar, acarretando, com essa opção, todas as consequências negativas.

Mas as coisas não são assim tão fáceis pois, quando aparecem as inevitáveis doenças que advêm do consumo desta "droga legal" são os serviços de saúde públicos, quase sempre, a suportar, com os dinheiros dos contribuintes, fumadores ou não, as tais "consequências". Aí, a sobranceria ou auto-suficiência dos "anti-fundamentalistas" já não é esgrimida.

Se repararmos bem, a história tem, nesta matéria, evoluído para uma cada vez mais restrição à liberdade física e moral dos fumadores e o futuro aponta para "um cerco" cada vez maior.

terça-feira, maio 01, 2007

Para vos dar felicidade

Em França existe a tradição de, no Dia do Trabalhador, se oferecer a flor do muguet.
É a chamada "flor da felicidade", pois, conservando-a até ao ano seguinte, a pessoa que a recebeu, terá tudo a correr pelo melhor.
São as tais crenças que, não adiantando nem atrasando o curso da nossa vida,são simpáticas, pois lidam com sentimentos positivos, tais como a amizade.
Entre nós, esta tradição não é visível. Há pessoas, no entanto, que decoram as casas, os automóveis e por aí fora, com as "maias", o que pretende evitar que o "carrapato" entre.
Este ano, e como sou casado com uma "semi-francesa", como costumo dizer, assinalo mais um Dia do Trabalhador (que em outros tempos celebrei correndo à frente dos polícias) oferecendo a todos os amigos e amigas que hoje por aqui passarem, as flores de muguet que tenho ali no meu jardim.
Que o ano que se segue, a partir de hoje, vos traga as maiores felicidades!



foto Peciscas

foto Peciscas

foto Peciscas



Canção "Le temps du muguet" :

Francis Lemarque


Il est revenu, le temps du muguet
Comme un vieil ami retrouvé
Il est revenu flâner le long des quais
Jusqu'au banc où je t'attendais
Et j'ai vu refleurir
L'éclat de ton sourire
Aujourd'hui plus beau que jamais

Le temps du muguet ne dure jamais
Plus longtemps que le mois de mai
Quand tous ses bouquets déjà seront fanés
Pour nous deux rien n'aura changé
Aussi belle qu'avant
Notre chanson d'amour
Chantera comme au premier jour

Il s'en est allé, le temps du muguet
Comme un vieil ami fatigué
Pour toute une année, pour se faire oublier
En partant il nous a laissé
Un peu de son printemps
Un peu de ses vingt ans
Pour s'aimer, pour s'aimer longtemps

Les Choeurs De L'A...

segunda-feira, abril 30, 2007

Novo Estatuto do Aluno

Conforme já há muito previa, eis um novo estatuto disciplinar do aluno.
Um pouco mais duro no que se refere às sanções e penalizações.
Estava à vista que o crescente clima de indisciplina nas escolas iria ter consequências. Uma delas já cá está.
O novo estatuto vem tornar, e bem, mais ágeis os procedimentos disciplinares.
Com efeito, era caricato que, para aplicar uma simples repreeensão registada, fosse preciso transformar os professores numa espécie de delegados dos ministério público, a intruirem morosos processos, função para a qual não tinham qualquer formação.
Por outro lado, tenta-se responsabilizar um pouco mais os encarregados de educação pelo comportamento dos seus educandos ( na lei anterior assinavam uma declaração dizendo que conheciam o Regulamento Interno da esola, que em geral nunca liam, e que não tinha qualquer efeito real).
Mas esta responsabilização, ainda se fica muito pela rama. De facto, só quando os EE sentirem verdadeiramente na pele (como se passa noutros países) as consequências do mau comportamento do alunos (leia-se a perda ou limitação de subsídios e outras regalias) é que talvez comecem a olhar para a escola com um pouco mais de respeito (é claro que não estou a generalizar, pois, felizmente, a maioria dos EE não se alheia ostensivamente da esola).
Mas há uma novidade neste estatuto que não deixa de ser altamente criticável.
De facto, dizer que os alunos que ultrapassem mais de um terço de faltas injustificadas poderá ainda, transitar de ano, se for submetido a um exame, é algo que só pode resultar da falta de conhecimento das realidades.
Quem anda no terreno sabe a quase totalidade dos alunos que vão acumulando faltas e excedem os limites, são aqueles para quem a escola pouco diz ou é apenas o local onde vão espreitar os amigos. Por isso, vão estar a marimbar-se para tais exames. Cabe aqui dizer que há quem sacralize os exames, pensando que eles é que vão resolver os problemas de insucesso escolar no ensino básico, E não há meio de os fazer entender que as coisas não são assim tão simples.
Por outro lado, há um efeito preverso nestas história do "exames de repescagem". É que se faz passar uma mensagem a tal tipo de alunos: ir às aulas, cumprir o dever de assiduidade, não será assim tão decisivo, pois há ainda uma safa no final do ano. Muito embora eu duvide que eles lá apareçam, já os estou a ver a replicar, se chamados à atenção para as faltas "Deixe lá que ainda tenho o exame".
Ou seja, esta invenção dos exames, pouco mais trará do que a exigência da preparação de mais uns testes que os professores terão de adicionar às múltiplas tarefas que já têm sobre si. Mas não vão resolver coisa nenhuma.
Porque o problema da indisciplina, por ter raízes muito fundas, não se resolve apenas com estatutos disciplinares.
Que tal, para começar, deixar de zurzir continuamente nos professores, parar com as constantes tiradas que vão degradando a sua imagem social, a sua autoridadeeal e valorizar autenticamente a escola e a cultura, como valores essenciais de um povo?
Digo eu, que cheirei sapatilhas e respirei pó de giz durante quase quatro décadas...