sexta-feira, junho 26, 2009

Parei para admirar

foto Peciscas
Como já sabem, gosto muito de flores (quem não gosta), mas nem por isso sei chamar pelo nome muitas delas.
Mas esta conheço bem.
É uma bela e imponente Buganvília.
Pelo porte, já terá uns anos.
Pelo porte e pela sumptuosidade dos seus ramos e flores, mostra que alguém a tem cuidado com carinho e respeito e sentirá, certamente, algum orgulho em saber que, quem passa por ali, pare uns instantes para a admirar. Como eu fiz um dia destes.

quinta-feira, junho 25, 2009

Um S. João diferente

Estávamos longe das ruas, praças e avenidas que seriam, mais uma vez, invadidas por um mar de gente ruidosa e feliz.

À distância de milhares de quilómetros ouvíamos, nitidamente, os gritos das rusgas, o trilar dos martelinhos, as cantigas repetidas pelas incansáveis gargantas. Sentíamos, mesmo, o cheiro típico daquela noite, misto de cravo e cidreira temperado pelo indispensável alho-porro.

Nós, "os do Porto", não podíamos, daquela vez, ir cedo para a cama. Estava assente, há muito tempo, que também nós teríamos a "grande festa".

Serpenteando por entre os troncos dos coqueiros, os fios com as coloridas bandeiras de papel. No meio do terreiro a fogueira, viva e palpitante, soltava, de quando em quando, faúlhas que eram os foguetes que não tínhamos podido comprar.

À falta de sardinhas, cuja recordação nos fazia crescer àgua na boca, o caldo verde fervia na panela e o chouriço assado enchia a noite e a nossa imaginação.

No gravador, com o som bem aberto, as músicas do António Mafra ecoavam na calma tropical, acordando os pássaros que, espavoridos, fugiam. De longe, ficavam a contemplar toda aquela estranha movimentação.

De quando em quando, na estrada, um timorense parava e olhava-nos com um sorriso espantado, não compreendendo a razão de ser daquela festa inesperada.

Não imaginava como era importante para nós, do outro lado da Terra, vivermos também a nossa noite de S. João.

António Peciscas, 1985

(evocando uma noite de S.João em Timor, 1973)

segunda-feira, junho 22, 2009

Como chegámos aqui - uma opinião


Chegámos aqui com trinta anos de neo-liberalismo.
Três décadas de neo-liberalismo pioraram o trabalho, porque não houve um factor de bem-estar ou de integração.
A dada altura começou a diabolizar-se o Estado, dizendo que este teria de ser reduzido para deixar crescer o sector privado. Ora, o único regulador do sector privado é o mercado e o mercado rege-se pela lei da procura e da oferta. Quem procura, procura o mais barato. Quem oferece começou a privilegiar de tal modo o mais barato que, reduzindo-se as margens de lucro, decidiu cortar na mão de obra, no trabalho. Chagamos assim à mão de obra barata, à precarização do trabalho. E depois, com as deslocalizações, à falta dele.

Luis Fernandes, Psicólogo, em entrevista ao JN em 16 de Maio de 2009.