sexta-feira, dezembro 29, 2006

Parábola da bola

Parece, à primeira vista, uma bola de futebol.
Apeteceria, até, dar-lhe um pontapé, com efeito, fazer um drible à Cristiano.
Mas, logo se vê que não pode ser, pois, quem se atrevesse a chutá-la, arriscar-se-ia a ir parar às urgências do hospital mais próximo, já que é de ferro.
Por isso, nem na bola com aspecto mais convincente e inocente, a gente pode confiar.

foto Peciscas

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Ele há coisas do arco da velha...

Pois não é que, ao meu post anterior (sobre o genial Mário Viegas) se colou uma porcaria de uma publicidade, daquelas que aparecem pela "porta do cavalo", que nem à martelada saía. Tive mesmo de retirar tudo.
O Mário não merecia tal.
Alguém sabe explicar como estas coisas acontecem?

terça-feira, dezembro 26, 2006

Tiveram um bom Natal?

É norma, nesta chamada "quadra festiva" circularem frases feitas, a maior parte das vezes, repetidas mecânica e monocordicamente:
- Então, se não nos virmos antes, um Bom Natal!
Agora, que esta festa está ultrapassada, o protocolo manda perguntar, a quem se encontra:
-Então, esse Natal, foi bom?
Cá por mim, desta vez, vou responder:
-O meu Natal foi péssimo! Comi que me fartei, e, por isso, aumentei os meus níveis de colesterol e triglicerídeos, bem como de glicémia. Ao que se acrescenta ter engordado dois quilos. Bebi vinhos, espumantes e digestivos mais do que devia e, deste modo, sobrecarreguei o fígado com trabalho extraordinário.
Entrei na onda de consumismo própria da época e, com isso, dei uma ajuda ao aquecimento global do planeta, por razões de todos conhecidas. Contribui, também, para o abate de mais umas quantas àrvores, devido ao gasto de papel de embrulho das prendas que, na maior parte dos casos não é reciclado. É claro que vou depositar os restos no ecoponto, mas as ditas àrvores já mortas, não têm reciclagem possível.
Tive um maior consumo de energia, por um lado devido às iluminações decorativas, por outro, dado ter estado acordado mais horas, com as luzes acesas até muito tarde, e ainda por ter gasto mais gás no aquecimento da casa, pelo que fui responsável pela delapidação de mais uma quota parte dos nossos recursos energéticos, aliada ào aumento dos índices de poluição da atmosfera.
Por isso, o meu Natal, não poderia ser pior.
E. já agora:
-Tiveste um bom Natal?

sábado, dezembro 23, 2006

Quando perdi o meu Natal

Photobucket - Video and Image Hosting
Quando eu era miúdo, não era o Pai Natal, mas sim o Menino Jesus quem trazia as prendas.
Colocava-se o sapatinho na chaminé (lá em casa, nessa altura, não se fazia a àrvore. como agora) e, de manhã, ia-se conhecer as surpresas.
Nessa noite, não eram preciso insistir muito comigo, para ir para a cama cedo.
Pouco depois de comidas as batatas com bacalhau, ia-me deitar, para que pudesse chegar mais depressa esse momento mágico em que ia saber a sorte que me tinha calhado.
Normalmente, não eram presentes muito valiosos, os que me tocavam, pois esses tempos não eram de abundância.
Mas, mesmo assim, a meio da noite, acordava e ia logo ver o que estava no sapatinho.
Voltava para a cama, com as prendas e uns biscoitos de canela que a minha mãe fazia nessas alturas. E ficava a desfrutar o momento, até que adormecia de novo.
Mas, naquele ano, eu estava com "a pedra no sapato", pois o Rodrigo já me tinha dito que eram os pais e não o Menino Jesus quem punha lá as coisas.
Mas, eu recusava-me a acreditar nessa versão.
O que é certo é que, após a ceia, como de costume, despedi-me dos meus pais (e nesse caso de um amigo deles que era solitário e foi lá a casa passar a Consoada) e fui para a cama.
Mas, dessa vez, não adormeci logo.
Assim, quando senti que o meu pai saíu para ir levar o amigo a casa, levantei-me e fui à chaminé onde estava o tradicional sapato. A minha mãe (as mães são sempre um pouco mais permissivas) embora um tanto surpreendida com o meu aparecimento intempestivo, lá se conformou com aquela transgressão às regras habituais.
Então, lá vi: uns embrulhitos, uma nota de 20 escudos presa nos atacadores do sapat0, e um pequeno cartucho de chocolates.
O cartucho tinha uma frase escrita:
COMER POUCOS DE CADA VEZ
MENINO JESUS
E foi através dessa frase que confirmei que, afinal, o Rodrigo tinha mesmo razão.
É que aquela letra era inconfundível: era do meu pai.
E lá se desmoronou a magia.
Nesse dia, ficou definitivamente para trás, a pureza original da minha meninice.
E o meu Natal ficou um pouco mais pobre.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Eles pensam em tudo

Ao lado do Estádio do Dragão há um edifício de apartamentos que estão em venda.
Pois, nesta época natalícia, os respectivos promotores, tiveram esta brilhante (se calhar não original) ideia:

foto Peciscas

De mais longe, o efeito é, mais ou menos, este:


foto Peciscas

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Apenas um lapso de linguagem?

O Ministro Mário Lino, ao falar sobre a sinistralidade rodoviária, saiu-se com uma tirada espantosa. Algo como:
"Em 2006 temos de atingir 874 mortos".
Dando conta do que tinha dito, apressou-se a corrigir:
"Em 2006 temos de reduzir para 874 mortos".
Poder-se-ia dizer que o governante incorreu apenas num lapso de linguagem, um tanto caricato, é certo, mas nada mais do que uma gaffe.
Quanto a mim, este tipo de deslizes, têm por trás uma visão tecnocrática da vida. Para estes gestores das coisas públicas, as pessoas, vivas ou mortas, são números.
Não são carne, nervo. sangue, sonhos, ilusões, sentimentos.
Oitocentos mortos, em vez de mil, dão origem a estados de euforia.
Mesmo quando essa euforia é de imediato temperada por peritos na matéria, como os do ACP, que afirmaram que uma eventual descida da sinistralidade tem apenas a ver com o novo código e com a subida do preço dos combustíveis e a baixa do poder de compra, que mantém parado cerca de um terço dos nossos automóveis.
Mas que interessa tudo issso?
O que interessa é atirar números para cima de nós.
Parecendo nunca se lembrarem que uma simples décima de redução do défice ou seja lá do que for, tem atrás de si, em geral, uma longo estendal de histórias de sofrimento humano.

terça-feira, dezembro 19, 2006

A partir de hoje...



A partir de hoje, passo, também, a contribuir para o agravamento do tão falado défice da Segurança Social, mais propriamente, da CGA.

Após largos anos a pintar os dedos com o branco do giz, a cheirar o odor a sapatilha que se agarra às paredes e aos tectos da sala de aula, a mandar calar o Vítor ou a pedir à Ana que se virasse para a frente, a conhecer histórias de vida, por vezes bem delicadas, a ajudar gerações a encontrar caminhos, chegou a vez de despejar o cacifo e deixar de corresponder ao toque da campainha.

Desses, dos Vítores, das Anas, vou sentir a falta. Foi-me. aliás, difícil a despedida, no último dia de aulas deste período. Foi penoso ver algumas lagrimitas que "a minha canalha" não disfarçou, quando lhes disse que aquela era a nossa última aula. Mas foi gratificante ouvir os apelos para que continuasse com eles.

Desses, vou sentir a falta.

Mas só desses e de amigos que fiz, ao longo de todos estes anos de profissão.Também dos "bons velhos tempos"em que a função docente era vivida com espírito de missão e era, pelos outros, considerada e valorizada como tal. Do resto,daquilo que me foi dado viver nos últimos tempos, não tenho motivos para levar saudades.

Saio, como nunca idealizei que sairia. Amargurado, desiludido, descontente.Com a sensação de que a minha profissão cada vez merece menos reconhecimento social.

Sempre pensei que, quando um dia tivesse de abandonar a profissão (facto que só admitia acontecer lá para os setenta) sairia por ser obrigado.

Mas, afinal, saio com uma sensação de alívio.É triste dizer isto, mas é inútil disfarçar. Saio mesmo como quem se consegue libertar de um fardo que já estava a ser muito pesado.

Apesar de tudo, com a presunção de ter dado à Escola e, sobretudo, aos meus alunos, o melhor que pude e soube. Procurando sempre investir no aprofundamento dos meus conhecimentos, na inovação, na procura de novas respostas para os crescentes e cada vez mais complexos desafios que um educador que se assume como tal, enfrenta no mundo de hoje.

Valeu a pena?

Pelos Vítores, pelas Anas, SIM!

Por esses, SIM!

Neste momento,só poderei dizer:

APENAS POR ESSES!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

O engenho dos 80

Um cidadão, já com oitenta e tais, que mora no meu concelho, tem uma pequena horta ao pé de um rio.

foto Peciscas Mas o cidadão, tinha um problema: como o rio está muito poluído (hei-de desenvolver este assunto) não conseguia água com a qualidade necessária para regar as suas queridas alfaces.Vai daí, com um pedaço de mangueira, uma banheira velha e algum engenho, canalizou a água limpa de uma pequena nascente que desaguava no rio, acumulando-a na banheira, mas deixando escorrer o excesso para o dito curso de água.Ou seja, apenas "pede emprestado" ao rio, um pequeno quinhão do precioso líquido.


foto Peciscas Mas o ancião tinha outro problema: como defender a horta dos ataques dos predadores alados. Então, com metades de bolas de espelhos, despojos sabe-se lá de que discotecas e com CD´s de sabe-se lá que artista, criou espantalhos "pós-modernos" de comprovada eficácia.

foto Peciscas Com o seu inegável engenho, este concidadão, dá lições de ecologia a quem as souber ler.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

UMA ESCALA DE GRADUAÇÃO

No passado dia 7 de Dezembro, o JN reportava mais um caso de agressão a uma professora.
Desta vez, o caso passou-se numa escola EB1 em Mafamude, Vila Nova de Gaia.
Não estou a referir-me a esta notícia pelo facto em si, que (infelizmente) já começa a ser tão vulgar, mas pela espantosa reacção do Presidente do Conselho Executivo do Agrupamento a que pertence a citada escola.
Assim, este gestor, desvalorizando a agressão (uma bofetada dada à docente pela mãe de uma aluna) disse esta coisa "numa escala de 0 a 5, posso dizer que, felizmente, a gravidade da agressão se situará no nível 1".
Como sabem os colegas de profissão, faz parte das nossas obrigações, a construção e divulgação de escalas de classificação que possam funcionar como listagem de critérios de avaliação.
Sendo assim, pegando na ideia do senhor Presidente, e tentando contribuir para a apreciação de ocorrências futuras, aqui deixo uma
ESCALA PARA A APRECIAÇÃO DE ACTOS CONTRA DOCENTES
0 - Mandar o/a professor(a) pentear macacos, à meretriz que o(a) deu à luz, abaixo de Braga, ou designações similares, em bom português de sargeta.
1 - Dar uma chapada, um biqueiro no traseiro, um pontapé na canela, aplicar uma chave de braço, ao(à) prof., ou outras manifestações similares de carinho.
2 - Rachar a cabeça (sutura a necessitar de mais de cinco pontos), partir uma perna ou um braço ou atirar o(a) docente por uma escada que tenha mais de dez degraus.
3 - Dar uma naifada, tentar estrangular (duração mínima dois minutos), aplicar um choque eléctrico com mais de quinhentos vóltios.
4 - Atirar 0(a) profe. por uma janela, assinar-lhe um braço com um maçarico de acetileno, extrair-lhe um dente com um alicate de mecânico e sem anestesia (na condição de qualquer destes actos implicar o internamento hospitalar mínimo de um mês).
5 - Aplicar a "solução final" enviando o(a) docente, directamente para o "jardim das tabuletas".
Espero , com esta escala. contribuir para que, no futuro, o senhor Presidente, possa ter facilitada a sua tarefa de graduar os actos de violência contra os que supostamente, serão seus colegas.
Supostamente...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Relógios

Nesta altura do ano, somos bombardeados com a mais diversa publicidade. visando levar-nos à compra das prendas que o Natal estipula que se ofereçam.
Entre essa publicidade, abunda a que se refere a relógios (alguns a atingirem preços que fazem abrir a boca de espanto o mais comum e pelintra dos mortais).
Mas, o que me leva a falar em relógios é um facto de que nunca me tinha apercebido até alguém, cá em casa, me ter chamado a atenção para um pormenor que verificou acontecer na publicidade a este produto.
Por isso, dei-me ao trabalho de fazer uma colagem, com imagens retiradas de vários catálogos e revistas diversas.
Observem bem as imagens. Que notam?

É claro! Todos os relógios indicam sensivelmente a mesma hora - 10h10min.

Não sei qual será a razão, mas a quase totalidade dos anúncios das "máquinas do tempo" apresentam esta curiosidade.

Apenas encontrei, para já, a excepção que se segue.

Mas, vejam bem, que mesmo nestes modelos, basta imaginar uma rotação de 180 graus do mostrador e tudo fica semelhante ao que se passa nas imagens anteriores.

Não sei se vocês já tinham dado conta destas coincidências. Para mim, foi mesmo novidade.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Casa do americano 2006

Já no ano passado vos mostrei a espectacular decoração de Natal da chamada "casa do americano", que fica perto do "alto da serra" de Valongo.
Mas, ano a ano, este cidadão faz gala de adicionar novidades que, ao que julgo, vai trazendo dos EUA, onde vive parte do ano.
O trabalho de colocação dos enfeites, dura cerca de duas semanas.
foto Peciscas

foto Peciscas

Quando chega a noite e é ligada a corrente eléctrica, o efeito é feérico.


foto Peciscas
foto Peciscas
foto Peciscas
foto Peciscas
foto Peciscas

Este boneco, reage a estímulos luminosos (p. ex. flash) movimentando-se e rindo.


foto Peciscas

Até a caixa do correio condiz.


foto Peciscas É claro que, nesta altura do ano, há uma autêntica romaria (com engarrafamentos e tudo), para ver esta vivenda única na região.

Ao que parece, havia mesmo quem deixasse dinheiro, na caixa da correspondência.

De modo que, este ano, o proprietário, achou por bem explicar que só aceita cartas para o Pai Natal.

foto Peciscas O efeito final, ao vivo, é este

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Não vá por aí...

foto Peciscas
Era uma vez um cidadão que queria encontrar uma conhecida loja de electrodomésticos que fica situada no estádio do Dragão.
Vai daí, confiou-se à informação contida num grande cartaz com que se deparou, e virou à direita.
Só que, foi andando, andandando, e, de Dragão, nem o fumo.
Deste modo, a última notícia que tive do incauto cidadão, dava-o como perdido na baixa de Faro.
E isto, muito simplesmente, porque, ao contrário do que afirma o cartaz,que se encontra no local há muitos meses, o referido estádio do Dragão, fica exactamente para o lado contrário daquele que é indicado pela seta, sendo o recinto, aliás, bem visível para quem olha para o lado esquerdo da artéria onde está implantado esta enganadora informação..
Ou seja, o referido cidadão, em vez de rumar a Norte foi encaminhado para o Sul e nunca mais chegou ao destino.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Conotações

Em tempos que (felizmente) já lá vão, havia produtos cuja comercialização era muito difícil (senão mesmo impossível) em Portugal.
Por exemplo, a Coca-Cola só cá entrou após Abril de 74, pois o Salazar simplesmente, não queria. Muito embora houvesse por aí refrigerantes em que entrava o termo "coca".
Um sabonete, que noutros países tinha o nome "Rexona", entre nós, só pôde ser comercializado com o nome de " Rexina" dada a terminação da designação original ser propícia a rimas cuja moral vigente de todo impedia.
Outro exemplo, tem a ver com o modelo da Opel de que encontrei recentemente um exemplar estacionado por aí.
Pois este carrito, nunca pode ser publicitado, pelo facto de o seu nome ser impronunciável sem a tal ...conotação pecaminosa.
Deste modo, o modelo teve uma reduzida implantação no nosso país.



segunda-feira, dezembro 04, 2006

Metáfora das travagens

foto Peciscas
Às vezes, não há outra hipótese, senão travar a fundo.
Mas, quando isso acontece, é sinal que, antes, existiram circunstâncias que obrigaram a essa atitude extrema.
Ou porque se andou depressa demais.
Ou porque se ia distraído.
Ou porque se confiou nos outros em demasia.
Ou, ainda, porque não fora tidos em conta, todos os dados da situação que se tinha pela frente.
Mas, seja como for, uma travagem violenta, deixa sempre marcas.
A maior parte delas, o tempo, mais tarde ou mais cedo, encarrega-se de as apagar.
Outras, irão permanecer para sempre.
Assim é na estrada.
Assim é na vida de cada um de nós.
Assim é na história do país em que vivemos.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Truculências ou má-criações?

Há por aí umas figuras públicas a quem parece ser tudo permitido.
Quando arreiam umas bojardas plenas de má-criação, lá vem a benevolente comunicação social, dizer "no estilo truculento que o caracteriza, F. afirmou..."
Têm tal estatuto, entre outros, Alberto Jardim e Valentim Loureiro.
Este último, quando confrontado com os privilégios monetários de que beneficiam os administradores do Metro do Porto, empresa com elevado défice, saiu-se com esta, que todos terão ouvido:
-Estamos num país de pedintes, pé-descalços e invejosos...
E lá seguiu, de papo empoado, impune e altivo.
Mas eu até acho que ele foi muito meigo, pois poderia, ainda, ter usado mais um termo:
-parolos
que é o que somos todos os que permitimos, por acção ou omissão, que seja possível a existência desta gente que faz gala dos seus proventos e insulta os seus concidadãos.
Para que imperem estes tiranetes "bem sucedidos na vida" é preciso que haja centenas de milhar de pedintes, pé-descalços e, também,... de parolos.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Cuidado!

Se tens um carro um pouco mais idoso do que a maioria, prepara-te para a eventualidade de, um destes dias, teres afixado no para-brisas, um recado de um solícito industrial, que quer, como é óbvio, prestar-te uma inestimável ajuda.


foto Peciscas
foto peciscas

terça-feira, novembro 28, 2006

TLBX?

Conforme já tenho dito, anda o pessoal que ensina Português à rasca com a TLEBS , quando seria muito mais aconselhável que estudasse a TLBX que é a linguagem que os putos usam entre si.
Eis um belo exemplo (real), transcrito (sic) de um bilhetinho que uma aluna passou a outra, no decorrer de uma aula:
"ontem de madrugada dixx.m td u k axa xobr mim foi rialment mt xinxeru ! ele e d+ adurei xt fim.d.xmana ontem d manhã fui s durmir km a kabexa deitada n kolu dl :):):):):) nóx tamux mlhor k nunca, tou a fikar mal abituada lol"

Bom, ká por mim k até xou netu de galego, axo mt bem ext tipo de linguax.
Xó k n era prexixo gaxtar tempu a extudar exa komplicaxão dos nomx não komtavs maxivus e n maxivus, animadus e n animadus e exas koxas todax da TLBX...

segunda-feira, novembro 27, 2006

Cultura de badanas

foto Peciscas
Entre as diversas coisas que fiz na vida, trabalhei numa livraria.
Porque havia clientes que gostavam que se adiantassem umas peciscas sobre as novidades livreiras que iam aparecendo, procurava estar minimamente informado sobre essas obras.
Mas, é claro, que, chegando às bancas, dezenas de títulos em cada semana, não seria humanamente possível ler todas elas.
Então, que fazer?
Recolher dados no material informativo das editoras e, sobretudo, ler as chamadas "badanas".
Para quem não estiver familiarizado com o termo, explico que eram (são ainda?) assim designados aqueles prolongamentos das capas dos livros, que ficam dobrados "para dentro".
Aí, normalmente, colocam as editoras um breve resumo da obra, ou, pelo menos, uma pequena descrição que ajude o presumível comprador a situar-se no seu contexto.
Ou seja, assumo que, na maior parte dos casos, eu fazia uso daquilo que se convencionou, então, chamar "cultura de badanas".
Esta designação aplicava-se, de um modo geral, aos pseudo-intlectuais, que discursavam, com ar convincente, sobre a mais diversa literatura, esmagando os outros com a sua enorme capacidade de leitura.
Agora, grande parte dos livros já não trazem as ditas badanas. Mas a contra-capa serve às mil maravilhas para os que continuam a fazer crer aos outros que lêm tudo e mais alguma coisa.
Assim, quando vejo, ao domingo, o professor Marcelo, a fazer desfilar aquela livralhada toda que lhe oferecem e que vai contribuir para o gracioso enriquecimento da sua biblioteca, não posso deixar de me lembrar dessa designação que trago na memória desde a minha juventude.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Coincidências...

Para este fim de semana, proponho-vos um pequeno desafio.
Se para tal tiverem pachorra ( e se o alojador das músicas estiver aberto), ouçam (pelo menos um bocadinho) de cada uma destas cantigas.
No fim, tirem as vossas conclusões...


Zingarella - Enrico Macias


Ai destino - Tony Carreira

Já agora, espreitem este registo na Sociedade Portuguesa de Autores.

Mais um dado:
"C'est en Israël et en Turquie que son nouveau 45 tours "Zingarella" obtient un énorme succès en 88" (extracto de uma biografia de Enrico Macias)
E assim se fazem carreiras...

quarta-feira, novembro 22, 2006

Buracos na lei


Ouvi na Antena 1 e pasmei.
Existe um buraco na lei, que permite que um jovem com 14 anos, conduza, na estrada, um desses veículos de quatro rodas que dispensam a carta de condução, apenas exigindo licença para motorizadas.
Aliás, nunca entendi bem a razão por que esses carros, de tamanho semelhante a um Smart, apesar de não atingirem mais de 60 km/h, dispensem os condutores das exigências de formação e exame, obrigatórias para os restantes utentes de automóveis que circulam na via pública.
Aqui pelos meus lados, via, com frequência, passar uma senhora, guiando uma dessas "motorizadas de 4 rodas".
Embora andando devagar, fazia asneiras incríveis, algumas das quais tive oportunidade de presenciar "em directo".
Aliás, a carripana, cheia de amolgadelas, denunciava, com evidência, a falta de perícia da senhora (cujo aspecto, entretanto, sugeria algum défice no que toca a faculdades mentais ).
Há muito tempo que não vejo passar o carrito.
Será que a desastrada condutora o desfez de vez?
Espero, vivamente, que, a tal ter acontecido, não tenha daí resultado qualquer dano físico, para si ou para terceiros.
O que, infelizmente, já aconteceu em acidentes provocados por estes veículos.

terça-feira, novembro 21, 2006

Uma profissão de risco...

imagem daqui

Na semana passada, em Portugal, duas professoras foram agredidas, respectivamente, por um aluno e por uma encarregada de educação.
Nesta segunda-feira, na Alemanha, uma professora foi gravemente ferida por um tresloucado ex-aluno.
Segundo o JN, numa carta que deixou, este suicida louco, disse:
"Grande parte da minha vingança dirigir-se-á contra os professores, as pessoas que se imiscuíram na minha vida e ajudaram a pôr-me onde estou, no matadouro".
"Eu odeio-vos "
Ainda, de acordo com o JN:
"Este incidente trouxe à memória dos alemães o massacre ocorrido a 26 de Abril de 2002, numa escola de Erfurt, na Turíngia, em que um aluno que tinha chumbado nos exames finais de liceu matou a tiro 16 pessoas - 12 professores, dois estudantes, uma secretária e um polícia -, suicidando-se também em seguida."
Voltando a Portugal, os professores foram acusados de instrumentalizarem os alunos para estes fazerem greve às aulas de substituição.
E houve alguém importante a dizer que os principais culpados do défice das finaças públicas eram os professores devido ao facto de a maioria estar no topo da carreira...
Bom, se com tudo isto, esta não é uma profissão de risco, então já não sei o que são "riscos"...

segunda-feira, novembro 20, 2006

Isto é, também, uma declaração de amor


Desculpem lá os meus amigos e minhas amigas se desta vez, isto ficar demasiado íntimo.
Mas acontece que faz hoje anos que nasceu "a mulher que me escolheu"(roubo as palavras ao Ary) e é a minha companheira de todos os momentos.



Ne me quitte pas- Jacques Brel

quinta-feira, novembro 16, 2006

Ora vejam só, como cabe sempre mais um...fardo de palha!

Um destes dias, circulava atrás de um camião carregado de fardos de palha (não sei se para auto-sustento do motorista).
Dado que a formação matemática de base do homem não deveria ser a melhor,pois não conseguia "tirar medidas", teimou em passar por um local tão apertado que, ficou encurralado.


foto Peciscas
Como já se estava a formar um engarrafamento,vá de forçar a passagam. Abanaram os postes e os esteios. Quase que aquilo tudo caiu, mas lá conseguiu passar.

Mais adiante, nova situação deste tipo, resolvida com nova entrada a martelo e com o derrube de umas quantas telhas da casa da esquina.


foto Peciscas Mas chegou ao seu destino...

quarta-feira, novembro 15, 2006

Surpresa

Recentemente, durante uma semana, publiquei aqui alguns textos sobre o fado.
Conforme já disse, as reacções foram diversas. De aprovação, de desaprovação ou de indiferença.
Entre as pessoas que me fizeram chegar mensagens confessando admiração por este género musical esteve a Nucha (Helena) do So-shana.
Esta amiga, que foi uma das primeiras que saudou o meu ingresso nestas lides da blogosfera, ultimamente não tem postado muito.Mas continua no activo.
Entretanto, e para surpresa minha, anexa à sua mensagem, estava uma gravação de um fado, cuja letra ela própria escreveu, sendo a música de um seu amigo, o Helder, que também o interpreta.
Porque acho tanto o poema como a música, agradavelmente conseguidos, aqui estou a divulgar este fado, ressalvando que a gravação foi feita em casa da Helena e. por isso, não pode ter a qualidade de um estúdio.

Silêncio (Helena Domingues- Helder Coelho) Helder Coelho


terça-feira, novembro 14, 2006

Qual TLEBS, qual caneco...

Anda para aí uma meia dúzia de académicos muito afobada,a fixar as normas da Terminologia Linguística e lá está está o povão a trocar-lhes as voltas com grande pinta.E o que é certo é que, por atalhos mais ou menos enviezados, lá se vão fazendo entender e levando a àgua ao seu moinho...
foto Peciscas Text Color
foto Peciscas

segunda-feira, novembro 13, 2006

Modernices

Há muitos anos atrás, quando estava a começar a minha carreira docente, estavam muito em voga as chamadas "Matemáticas modernas".
Durante bastante tempo, perdurou essa moda, importada de outros países, principalmente de França.
Assim, andávamos vários meses, a falar de compreensão, extensão, reunião, intersecção, complementação e por aí fora.E os alunos nunca chegavam, verdadeiramente, a apreender essas matérias e, o que era ainda pior, para que serviam.
Mas, quando entre nós essa abordagem estava no auge, lá fora, já se estava a pôr de lado.
Porque, em boa verdade, a Matemática é uma ciência tão velha como a Humanidade e tem conceitos que não mudam. Pode incorporar novas contribuições, mas as raízes do edifício, mantêm-se inalteradas. Por tudo isso, as coisas foram recompostas e hoje, nos programas, já quase não há vestígios desses tempos.
Vem tudo isto a propósito deste último fim de semana em que fomos bombardeados com o termo "modernizar".
Assim, ouvimos falar da "esquerda moderna", de um "país moderno" e de outras modernizações.
E fiquei a pensar - que complexos ou propósitos terá no subconsciente quem precisa de se intitular, constantemente "de esquerda", mas, tendo o cuidado de temperar essa afirmação com a palavra "moderna".Ou de enunciar, de modo definitivo, que vai romper,de vez, com o passado.
E o que será isso de "esquerda moderna"? Será a esquerda que se veste com fatos Armani (como aconteceu com o PM na abertura do congresso)?
Já depois de ter pensado em escrever este texto, deparei-me no Público de domingo com dois artigos de opinião, que parecem feitos de encomenda para ilustrar que estou a dizer.
Respigo duas passagens, de dois comentaristas com os quais, muitas vezes, até nem estou de acordo (nem eles se preocupam com isso...).
António Barreto:
"Este PS não é de esquerda. O governo também não. Nem Sócrates, aliás."
Vasco Pulido Valente:
"Modernização é uma palavra equívoca. À primeira vista parece indicar "uma coisa boa". A cultura do Ocidente hoje quase não distingue "moderno" e "melhor". Mas, pensando bem, "modernizar" não passa, no fundo, de imitar. Ora fazer o que se faz "lá fora", como política e como programa, equivale, por força, a fazer pior. A cópia não vale por definição o original, e, às vezes, nem copiar se pode.Os "modernizadores", (como Cavaco, por exemplo) acabam inevitavelmente por deixar um Portugal híbrido. "incompleto" e torto, que depressa reverte ao seu "atraso" e que, em pouco tempo, volta a pedir com desespero ou espírito missionário, uma nova "modernização" ".

sexta-feira, novembro 10, 2006

Recantos 3

NA TERRA DOS MOINHOS DE VENTO
Aqui ficam mais algumas recordações do meu Agosto deste ano

quinta-feira, novembro 09, 2006

A culpa foi deles


A culpa foi deles: do Primeiro e do das Finanças.
Naquela reportagem do Público que já aqui referi, havia uma passagem em que o Engenheiro Que Manda, dizia para o Santos Que Nos Aperta o Cinto:
- Olha lá, também tens um ipod?
-Tu sabes que eu gosto muito de gadjets.
E, vai daí, como eu acho que é preciso seguir os exemplos que vêm de cima e não são só os gajos que tem direito aos tais gadjétes, ao outro dia fui logo comprar uma coisa destas.
E agora, quando faço as minhas salutares marchas diárias, já me podem ver com umas bolinhas enfiadas nos ouvidos , a curtir uns sons de que gosto.
Se, por acaso, acabar por ser atropelado, por andar com os auriculares a abafarem o ruído do trânsito, já sabem: os responsáveis são eles.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Com estes exemplos...


No início do debate sobre o Orçamento, o Primeiro Ministro, só à quarta tentativa é que conseguiu começar a ler o seu discurso.
E isto, porque ditas as primeiras palavras, tinha que parar, pois havia ainda muitos deputados a entrarem na sala, outros, impavidamente a conversarem para o lado ou a cumprimentarem parceiros de bancada.
E ando eu, ingénuo professor que ainda acredita que é necessário educar os alunos, a pregar com eles, para que cheguem a horas às aulas, para que ouçam o professor com respeito e atenção...
Com estes exemplos que vêm de cima, fico completamente desarmado!

terça-feira, novembro 07, 2006

A escuridão do anonimato.


Na semana passada, coloquei aqui cinco textos, a arengar sobre um dos meus gostos musicais - o fado.
Já sabia, à partida, que não iria acolher a concordância de muitos dos meus amigos e amigas.
Assim, dos que aqui passaram, recolhi as opiniões mais diversas.
Há que não gosta, quem detesta, quem suporta e há quem gosta mesmo.
E houve também quem passou, espreitou e foi embora, porque o assunto não lhe interessou.
E é saudável que isto possa acontecer.
A unanimidade é sempre suspeita e traz,quase sempre, muita água no bico.
E isto de podermos dizer, de peito aberto, aquilo que pensamos, quer seja a favor ou seja contra o que os outros pensam, ou até não dizer nada, é um bem inestimável, a preservar a todo o custo. Sobretudo aqueles que, como eu, viveram um tempo em que tal não era possível, sabem que isso é vital.
Por isso não consigo entender como, não espaço tão livre como pode ser a blogosfera, ainda há por aí gente que se esconde na escuridão do anonimato, para conseguir a coragem necessária para afrontar os autores dos posts.
Acabo de verificar isso, mais uma vez, na casa de um dos amigos por onde costumo passar.
Uma tristeza!

segunda-feira, novembro 06, 2006

Com guião e teleponto

Na edição de domingo do Público, aparece uma extensa reportagem, sobre a recente viagem a Moçambique do primeiro ministro para assinar o acordo de transferência de Cahora Bassa para aquele país.
Com José Sócrates viajaram alguns membros do governo, um ou outro convidade e 20 jornalistas.
Transcrevo algumas passagens:
"O interior do avião parecia um hotel de luxo, com enormes poltronas em pele, acabamentos em madeira e espaço para exercitar as pernas. Na cabine dianteira, destinada aos membros do Governo e a convidados da administração da barragem de Cahora Bassa, sobressaiam os mármores e uma espécie de salão, candeeiro com abat-jour, sofá em "L" e mesa comprida."
E, mais adiante:
"...- jornalistas e outros convidados beberricavam champanhe Dom Pérignon e sumos naturais, almofadados por canapés de espargos verdes".
O Primeiro-Ministro, de acordo com a reportagem, circulou pelo avião, falando com os jornalistas.
Mas, :
"Em momento algum o primeiro ministro permite intimidade excessiva ou arrisca vocabulário de café. Por outro lado, o tema da conversa cinge-se, quase sempre, à governação.
A razão para esta cautela é simples. José Sócrates desconfia absolutamente da forma como os jornais o tratam: teme a construção de títulos venenosos e manipuladores, teme o uso de frases fora do contexto; gosta de ter um guião, sabe que a criatividade dos políticos pode ser a sua sentença de morte. Gosta de ter o domínio total da análise do encadeamento dos argumentos, da elequência".
Esta reportagem permite a um anónimo e vulgar cidadão algumas reflexões.
Em primeiro lugar, quando se pede à maioria dos portugueses, sacrifícios e contenção, há uma viagem que, mesmo a acreditar não ser paga directamente pelo governo (note-se que esta barragem já custou aos contribuintes portugueses muito dinheiro), decorre em ambiente requintado e luxuoso. Onde está, afinal o exemplo, mesmo que apenas simbólico?
Por outro lado, ressalta a ideia que José Sócrates é uma máquina política, devidamente programada, que trabalha em ambientes formatados, controlados.
Por exemplo, durante a referida viagem, lançou mais uma farpa mentirosa para com os professores. Depois de há dias ter anunciado que os sindicatos tinham "finalmente reconhecido a justeza das posições do governo", o que nunca foi verdade, agora vem afirmar que "Com 50 anos, alguns trabalham 12 horas por semana". Ora, qualquer pessoa que trabalhe em educação sabe que, a partir daquela idade (tendo um determinado tempo de serviço) os docentes do ensino básico atingem o máximo da redução da componente lectiva (normalmente de 22 horas), passando, efectivamente, a 14 horas. E esta redução radica no facto indesmentível de os anos sucessivos deste tipo de actividade provocarem grande desgaste físico e psicológico . Mas, também como se sabe, o trabalho não se esgota nas actividades lectivas. E as reuniões? E a planificação de aulas? E a correcção de testes?E o atendimento de encarregados de educação? Do primeiro responsável pela governação exige-se, no mínimo, rigor e verdade. Por isso, esse número de 12 horas que foi atirado como sendo a duração total do trabalho semanal de um número considerável de professores,por não ser verdade, torna-se mais uma machadada na dignidade profissional de uma classe que, dia a dia, parece tornar-se num dos bodes-expiatórios preferidos, que se usam como desculpa para os males do país.
Mas o primeiro ministro diz estas coisas, não é contrariado, e a caravana passa...
Talvez seja por isso que, no"Prós e Contras " desta semana, na RTP pública, se vai discutir o Orçamento. E, por acaso, em quatro comentadores convidados, três são a favor daquele documento essencial da política governativa.
Parece, pois, prefigurar-se uma reedição do debate sobre educação, em que se assistiu a um quase beija-mão à ministra.
Ou seja, a máquina continua bem oleada.

sábado, novembro 04, 2006

Variações sobre o mesmo tema 5

Concluindo as variações que me ocuparam durante esta semana, refiro-me a fadistas com mais ou menos anos de carreira e que estão, como outros a que já me referi, a tentar construir uma carreira pautada por padrões de qualidade.
Ana Moura, Miguel Capucho, Joana Amendoeira e Pedro Moutinho, são exemplos que estão muito longe de esgotar a lista.
No entanto, para encerrar estas despretenciosas (e se calhar maçadoras) divagações sobre um dos meus gostos musicais (claro que tenho muitos outros - e isto pode constuituir uma séria ameaça para a vossa paciência), aqui vos deixo com uma artista, Aldina Duarte, que ainda não terá visto projectar-se devidamente o seu talento e que, para além do mais, é também uma blogueira que, de vez em quando, passa "aqui por casa".

A voz do silêncio (Aldina Duarte-Alberto Correia) Aldina Duarte

sexta-feira, novembro 03, 2006

Variações sobre o mesmo tema 4

Conforme já disse, a partir de certa altura, o fado assistiu a um esforço de renovação no que se refere, fundamentalmente, aos textos.
Amália começou a perceber que não se podia quedar pela linearidade e falta de ambição artística de algumas das letras que interpretava e foi incluindo no reportório poetas como Camões, David-Mourão Ferreira, Ary dos Santos, Manuel Alegre, Pedro Homem de Mello e outros.
Aliás, os próprios poetas começaram a entender que serem cantados por cançonetistas ou fadistas, não era desprestígio, sendo, muito antes pelo contrário, uma das formas de tornar a poesia mais viva, mais partilhada, porventura mais actuante.
Depois dela, muitos outros fadistas foram apostando na qualidade da mensagem poética, o que contribuiu, inegavelmente, para que o fado recuperasse o prestígio que, a dada altura, estava um tanto afectado por anos e anos de conformismo e estagnação.
Artistas como Carlos do Carmo, Camané, Mariza, Kátia Guerreiro, para só citar escassos exemplos oriundos de várias gerações, têm construído uma carreira que demonstra que se podem prosseguir as raízes musicais deste género que é, de facto, nacional, sem cair no mau-gosto e na banalidade.
O seu exemplo, vai frutificando. Novas vozes vão aparecendo, com iguais exigências de qualidade. Por vezes, ainda não tão conhecidas do chamado "grande público" como deveriam ser.
Mas esse será assunto para a última destas variações com que vos tenho vindo a enxofrar esta semana.


Rosa vermelha (J.C. Ary dos Santos- Alain Oulman) Kátia Guerreiro

quinta-feira, novembro 02, 2006

Variações sobre o mesmo tema 3

Falava eu, no texto precedente do elogio da humildade e da aceitação da pobreza, que nos "tempos da velha senhora" eram veiculados através do fado.
A Amália, que, sem dúvida foi dotada pela natureza de um voz única, com uma profundidade interpretativa e dramática invulgar, também não escapou a essa fatalidade. Isto, apesar de, sobretudo a partir dos anos sessenta, ter começado a incluir no seu reportório, poetas e músicos com maior exigência de qualidade.
Mas, um dos seus fados que passou muito pelas nossas rádios, nesses longínquos tempos, dizia coisas assim:
"Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem essa franqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente."
E tinha outra que descrevia, de igual modo idílico e cor-de-rosa, a vida de um casal pobrezinho mas feliz. Chamava-se "A cantiga da boa gente".
O refrão dizia
"Quando chega a tarde
tarde tardezinha
já o jantar fumega
na lareira da cozinha
os filhos sorriem
o Manel também
não há melhor vida
que aquela que gente tem"
Mas, clandestinamente, havia quem se encarregasse de colocar letras diferentes nas músicas que se popularizavam. Era, também, uma forma de luta contra o regime.
Eis uma versão "diferente" dessa cantiga:
"Não nos falta nada
nesta nossa terrra
temos futebol
e até temos guerra.
Temos Totobola,
fado pra chorar
não temos razão
quando queremos protestar.
Nos bairros de lata
não se vive mal. pois há lá conforto
...espiritual.
Temos Salazar
pra nos garantir
que enquanto viver
andaremos a pedir.
refrão
E pela manhã
pela manhãzinha
bate a pide à porta
entra mesmo pla cozinha.
Revolve o que há,
leva preso alguém...
... não há melhor vida
q´aquela q´a gente tem"


Maria Lisboa (David Mourão-Ferreira- Alain Oulman) Mariza

quarta-feira, novembro 01, 2006

Variações sobre o mesmo tema 2

Conforme vos dizia no post anterior, gosto do fado e não do "faduncho".
O antigo regime, servia-se bastante da chamada "canção nacional", para veicular mensagens de conformismo, humildade aceite, passividade.
Dizendo coisas como:
"os pardais em corridinhas pelo chão,
gostam da nossa pobreza",

ou
"o destino marca a hora,
pela vida fora,
que havemos de fazer
?"
ou
"podes fugir
às leis do teu coração,
mas quer tu queiras ou não
tens de cumprir a tua sina
"
ou ainda
"os filhos sorriem
o Manel também
não há melhor vida
que aquela que gente tem
"
Isso era "o faduncho", a lamechice, a intenção subliminar de contribuir para um clima de não contestação que era necessário manter.
Não quero confundir, entretanto, este tipo de mediocridade, com o fado dito "tradicional" de que há inúmeros exemplos onde a simplicidade temática e musical, resulta em qualidade e valor cultural. Digo eu.
Como é o caso:

Maria Madalena (letra Gabriel Oliveira música popular) Lucília do Carmo
Mas esse sub-produto a que poderemos chamar "faduncho" era acompanhado por outras variantes musicais. A certa altura popularizou-se um termo para englobar esse tipo de música. Era o "nacional-cançonetismo".
Hoje, esse termo terá um equivalente: "música pimba".

terça-feira, outubro 31, 2006

Variações sobre o mesmo tema 1

No resto desta semana, irei publicar diversos textos que andarão, um pouco, à volta do mesmo tema.
E hoje, começo, por vos dizer que, apesar dos muitos problemas que enfrentamos, das muitas asneiras que têm sido feitas, há um bem de que nunca deveremos abdicar. É ele a possibilidade de cada um de nós poder ter as suas convicções, as suas ideias,os seus gostos.
Eu sei que, nem sempre essa liberdade é tão absoluta como teoricamente se admite, mas, a que vamos tendo, ainda nos permite um grau de autonomia de opinião, que é saudável e fundamental.
Houve tempos em que o velho ditado "gostos não se discutem" era apenas uma falácia. Porque, nessas alturas, havia gostos que não eram permitidos; por isso, nem sequer se podiam discutir.
Na música, por exemplo.
Havia compositores, cantores, obras, que não podiam, pura e simplesmente, chegar aos ouvidos de todos nós.
Onde quer ele chegar?, dirá o leitor, nesta altura do texto.
Pois quero chegar a isto: gosto de fado.
É óbvio que respeito e admito totalmente que haja quem não goste ou que até deteste este género de canção.
Mas eu gosto, e comigo está muito boa gente.
Mas do que eu gosto é mesmo de fado e não de "faduncho".
Mas isso será matéria para o próximo texto.



Nasceu assim, cresceu assim (Vasco Graça Moura, Fernado Tordo) Carlos do Carmo

segunda-feira, outubro 30, 2006

A parábola dos rebuçados


Era uma vez um menino que gostava de comer rebuçados.
Não por gulodice desenfreada, mas porque se sentia no direito, de vez em quando, de saborear alguns dos prazeres que, no seu entender, lhe coloriam a vida.
Certo dia, a mãe, que até ali não se tinha verdadeiramente apercebido daquele gosto inocente, decidiu que o menino não mais poderia comer rebuçados.
A criança. desgostosa, tentou perceber a razão daquela interdição.
A progenitora, encolhendo os ombros disse apenas que eram ordens do papá e que o papá tinha todo o direito de dar ordens. E, por outro lado, era perfeitamente natural que nem todos pudessem comer rebuçados.
O menino, naturalmente triste, foi chorar o desconsolo para um canto da rua.
Os amigos do menino, ao saberem da história, juntaram-se todos e foram fazer um grande barulho à porta da casa do menino, chamando alguns nomes pouco bonitos à mãe e ao pai.
Nesse dia, quando o menino chegou a casa, a mãe esperava-o de dedo em riste.
- Diz lá aos teus amigos que não quero barulhos aqui à porta.
E, ouve bem, enqunto eles fizerem barulho, é que não comes mesmo mais nenhum rebuçado.
Se eles estiverem caladinhos, daqui por um mês, é possível que te dê um.
O menino bem argumentou que não fora ele a instigar a manifestação dos amigos, que nada adiantou.
Ficou, no entanto, a pensar que não era bonito a mamã fazer aquela chantagem com ele.
A palavra era forte. Mas com que outro nome poderia ele qualificar aquela atitude?

sexta-feira, outubro 27, 2006

O Asnar e a esferográfica

Não sei se já viram esta saída do Jose Maria Asnar, quando, após ter sido interrogado por uma jornalista do canal 4 da televisão espanhola, lhe respondeu com um sorriso trocista, enfiando a esferográfica pelo decote da mulher.
Houve reacções fortes a esta atitude do político.
No entanto, na Antena 1, Carlos Amaral Dias e Carlos Magno, divertiram-se com a situação, dizendo, nomeadamente, que o homem demonstrou uma frontalidade que os nossos políticos nunca seriam capazes de usar...
Pois é, a estes senhores tudo se perdoa.
Se, por exemplo, fosse eu a fazer uma coisa destas, o mínimo que me poderia acontecer era levar um par de estalos...


quarta-feira, outubro 25, 2006

Aproveita a oportunidade

Tenho um colega dotado de um inegável e, por vezes subtil, espírito de humor.
Pois ontem, na sala dos professores, aguardando, ao fim do dia, mais uma reunião de Conselho de Turma, tentava resolver o sudoku do Público.
Chega, entretanto um outro amigo que, vendo-o às voltas com o problema, lhe começou a mandar uns palpites.
Então, voltando-se para o recém-chegado, diz-lhe esse meu colega:
-Ouve lá: quando tiveres uma oportunidade para não chateares alguém, aproveita-a bem, pois pode ser única!

terça-feira, outubro 24, 2006

Bairro Vermelho

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Em Agosto estive em Amesterdão e, como é norma nos roteiros turísticos que incluem a bela cidade do país das túlipas, passei pelo célebre "Bairro Vermelho".
Já tinha ouvido falar daquele quarteirão onde as "trabalhadoras do sexo" expõem o "produto", mas o facto é que aquilo que tinha imaginado, foi largamente ultrapassado pela realidade.
Tive a sensação de que ali se está perante um grande supermercado. Iluminações brilhantes,com as portas das casas transformadas em montras, no interior das quais, mulheres (alguns travestis) de todas as cores e de todas as dimensões, se exibem, por vezes fazendo poses lúbricas, mas sempre com ar indiferente, ausente, mecânico.A luz negra que se encontra dentro do "estabelecimento" acentua o ar mercantil que se vive no bairro.
Ouve-se, aqui e ali:
-Fifteen minutes, fifty euros !
As autoridades holandesas, como se sabe, fazem um pouco gala do seu liberalismo nestas questões. Concedo que, se calhar, mais vale ter aquelas "lojas" abertas aos olhos de toda a gente, assegurando que tudo está legal e controlado, do que conviver com uma prostituição mais ou menos escondida, que traz consigo um mundo de podridão, desde o proxenetismo, ao tráfico, passando mesmo pela escravidão, até à doença física e mental.
Segundo nos disseram, tinha sido feita recentemente ums inspecção às cerca de 250 prostitutas que trabalham no bairro e, de acordo com as autoridades responsáveis, todas elas estavam devidamente documentadas, eram maiores de 18 anos, eram eleitoras, pagavam os seus impostos, e nenhuma estava infectada com qualquer tipo de doença.
Mas, apesar de tudo isto, ao passar-se por ali, sente-se que estamos perante uma actividade comercial, apoiada em técnicas de marketing, sem qualquer disfarce que se assemelhe a emoção ou sentimento.Tudo aquilo é muito brilhante, muito limpo, mas muito frio.
A guia turística tinha avisado várias vezes o pessoal, de que era impensável fotografar dentro do bairro e que, havia, no meio da multidão que por ali circula, muitos polícias à paisana, a controlar tudo o que lá se passa. E verifiquei que tal era verdade.
Por isso, a imagem que acompanha este texto, foi obtida algures na internet.
Porque, como dizia a referida guia, "não se deve importunar quem está a trabalhar".

segunda-feira, outubro 23, 2006

A mim, às vezes,até nem me apetece!


Um destes dias, vi, num canal francês de televisão, uma reportagem, feita numa escola, mostrando a respectiva directora, altamente preocupada com a indumentária das alunas, chegando ao ponto de impedir a sua entrada, quando considerava que a jovem usava roupas "não convenientes".
Esta é, certamente, uma questão que não é fácil de analisar, porque nunca se sabe bem ao certo, quais os limites a observar. Se é que há ( eu considero que há) , nesta matéria, limites a ter em conta.
Sabemos como os jovens são influenciados pelos media, no que respeita a modas. Se vêem os seus ídolos vestidos de uma certa forma, tentarão imitá-los.
No entanto, muitas das adolescentes, não se dão conta de que, para lá de os contextos em que as referidas vedetas aparecem com roupas mais ousadas serem completamente diversos do chamado "dia-a-dia", há indumentárias que poderão estimular comportamentos menos adequados, por parte dos seus colegas, eles próprios também, de modo geral, ainda não preparados para lidar natural e informadamente, com as questões da sexualidade.
A propósito, ocorre-me uma história verídica ocorrida com um aluno que foi acusado, pelas colegas da turma, de passar a vida a "apalpá-las".
Chamado ao Conselho Executivo, o moço defendeu-se:
-Ó "setor" não é verdade o que elas disseram, As meninas, na maior parte das vezes, é que se encostam a mim, de propósito, para me provocarem!
E, acrescentou com um suspiro:
-A mim. às vezes, até nem me apetece!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Títulos

Hoje, um post preguiçoso. Só títulos do jornal:

Governo corta no subsídio ao arrendamento jovem

Alterações fiscais penalizam pensionistas.

Poucas verbas para estender metro ( Porto)

Área Metropolitana sofre redução de 16,1 milhões ( Porto)

Consumidores e empresários contestam subida dos preços ( electricidade)

Diferença entre salário mínimo e médio sobe

Preço do arroz deverá subir em Novembro

Fecho da urgência do hospital vai afectar 50 mil habitantes (Peso da Régua)

Sá a via de acesso a aviário de autarca foi beneficiada (Sever do Vouga)

8505 assinaturas contra fecho da maternidade (Figueira da Foz)

Aumenta contestação ao fecho da urgência (Montijo)

E ainda, ouvido na rádio:

Três scut´s (na zona norte do país) vão passar a vias com portagens pagas.

Comentem vocês, que a mim não me apetece...

terça-feira, outubro 17, 2006

Uma voz insuspeita

"São os que dão a cara pela classe e que toda a gente, nomeadamente Pais e/ou Encarregados de Educação conhece.
Têm assento em salas/gabinetes, normalmente sem quaisquer condições de trabalho e, mesmo, em localidades bem longínquas da sua residência, originando, por vezes, dramas familiares.
Ahhh... são os que leccionam, a grande maioria realizando um ensino dedicado, eficaz, inovador e empenhado.
Mas também pensam em estratégias para minimizar o insucesso escolar, preparam e planificam aulas, e elaboram exercícios e testes, e planos de recuperação, e também fichas de actividades para as aulas de apoio e de substituição, em horário pós-laboral.
Desempenham ainda múltiplas funções, inerentes a outros parceiros profissionais, tornam-se psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, pedagogos, burocratas, bibliotecários, técnicos de informática, contabilistas, enfermeiros ou até mesmo,substitutos de Pais e/ou Encarregados de Educação, quantas vezes ausentes.
Mas face à legislação em vigor (ou falta dela), estão votados diariamente. a ser tratados sem a mínima consideração e o respeito que merecem, sendo por isso humilhados, menosprezados, desrespeitados, culpabilizados, achincalhados, denegridos, desvalorizados, desautorizados, insultados e até..."pontual e isoladamente(!) agredidos fisicamente.
E por mais esforço que façam, infelizmente não se conseguem transfigurar em alquimistas, no intuito de transformar "estudantes" que não querem estudar (...nem tão pouco frequentar a escola) em Imperativos, sendo por isso rotulados de "incompetentes"."
Este excerto, transcrito "tal e qual" de um texto mais longo,publicado numa folha informativa, não é, contra o que se poderia supor, escrito por um professor ou um sindicalista.
É, antes, assinado pelo Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação de uma Escola E.B. 2.3, que tem acompanhado, ao longo do seu mandato, de modo atento e interveneiente, a vida do estabelecimento onde tem os filhos a estudar.
Por isso mesmo, pode constituir um documento bastante insuspeito, sobre o que é a verdadeira realidade das escolas.
Só mais um pormenor: o autor do depoimento, confessa-se em completo desacordo com a ideia de os Encarregados de Educaçaõ intervirem no processo de avaliação dos docentes.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Mia Couto


"Preocupa-me a maneira como estamos cedendo à tentação de olhar a tecnologia como solução global para os nossos múltiplos males.Muitos de nós acreditamos que é a técnica que nos vai salvar da miséria. Essa crença nos deixa vulneráveis a uns tantos vendedores de produtos mágicos.O futuro não seria apenas melhor- como diz o slogan - mas fácil, tão fácil como digitar um teclado.Para sermos como eles, os desenvolvidos, basta preencher uns tantos indicadores nos critérios de consultores e, num ápice, entramos no clube.
Sabemos que não é verdade.Desconheço por que motivo queremos tanto ser como "eles" e não como nós mesmos, seguindo caminhos nossos para destinos que nós próprios inventamos. O que nos separa da riqueza são, sobretudo,questões de natureza não técnica. São atitudes, vontades,uma determinação política e uma postura do domínio da cultura. Digitalizar não nos converte em seres produtores de coisa nenhuma. Caso não venhamos a exercer alguma soberania em actos que, afinal, são de cultura, entramos nesse universo a que chamamos sociedade digital como um mercado menor, um pequeno parceiro da periferia."
Mia Couto, palestra em Moçambique, Abril de 2001

O escritor referia-se a Moçambique.
Apenas? - digo eu. Estas palavras não serão aplicáveis a realidades portuguesas dos nossos dias?