quarta-feira, dezembro 20, 2006

Apenas um lapso de linguagem?

O Ministro Mário Lino, ao falar sobre a sinistralidade rodoviária, saiu-se com uma tirada espantosa. Algo como:
"Em 2006 temos de atingir 874 mortos".
Dando conta do que tinha dito, apressou-se a corrigir:
"Em 2006 temos de reduzir para 874 mortos".
Poder-se-ia dizer que o governante incorreu apenas num lapso de linguagem, um tanto caricato, é certo, mas nada mais do que uma gaffe.
Quanto a mim, este tipo de deslizes, têm por trás uma visão tecnocrática da vida. Para estes gestores das coisas públicas, as pessoas, vivas ou mortas, são números.
Não são carne, nervo. sangue, sonhos, ilusões, sentimentos.
Oitocentos mortos, em vez de mil, dão origem a estados de euforia.
Mesmo quando essa euforia é de imediato temperada por peritos na matéria, como os do ACP, que afirmaram que uma eventual descida da sinistralidade tem apenas a ver com o novo código e com a subida do preço dos combustíveis e a baixa do poder de compra, que mantém parado cerca de um terço dos nossos automóveis.
Mas que interessa tudo issso?
O que interessa é atirar números para cima de nós.
Parecendo nunca se lembrarem que uma simples décima de redução do défice ou seja lá do que for, tem atrás de si, em geral, uma longo estendal de histórias de sofrimento humano.

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