Confesso-vos uma coisa: fui ao YouTube para ver o vídeo da execução do Saddam. Mas ao fim de alguns segundos, dei-me conta de que estava a participar num espectáculo obsceno e saí dali.
Porque, de há muito tempo que considero (e ainda bem que muita gente está comigo) a pena de morte como um exercício obsceno de "justiça".
É um facto que, neste caso, se tratava de um ditador sanguinário, sem o mínimo decoro humano. Como muitos outros que a História regista.Para estes, o castigo terá sempre de ser duro e exemplar.
Mas a morte é uma punição sem retorno e nada justifica que se recorra a esta medida.
Por variadas razões. Desde logo, porque não tendo retorno, nunca terá remédio um eventual erro judicial ( e quantos se têm detectado após aplicações da pena capital, ...). Mesmo, que, como no caso presente, haja provas evidentes dos crimes praticados. Depois, porque a superioridade moral de um "estado de direito" passa pela capacidade de evidenciar os princípios dessa mesma superioridade. Ora, se recorrer às mesmas armas de violência e terror daqueles que afirma querer combater, está, precisamente, a debilitar a qualidade do seu nível civilizacional.Finalmente porque o "não matarás" é um princípio inultrapassável e não apenas por motivos religiosos.
É por tudo isto que não entendo que haja pessoas que se congratulam com a liquidação física de um criminoso. Tenho amigos, aliás, que afirmam essa concordância, que defendem sem outro argumento que não seja o do "olho por olho, dente por dente".
No século XXI, acho lamentável e aberrante a persistência desses "ajustes de contas legais" de carácter primitivo e medieval que, ainda por cima, nunca provaram serem capazes de evitar a reincidência dos crimes que pretendem prevenir.
Muito antes pelo contrário.
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