terça-feira, dezembro 19, 2006

A partir de hoje...



A partir de hoje, passo, também, a contribuir para o agravamento do tão falado défice da Segurança Social, mais propriamente, da CGA.

Após largos anos a pintar os dedos com o branco do giz, a cheirar o odor a sapatilha que se agarra às paredes e aos tectos da sala de aula, a mandar calar o Vítor ou a pedir à Ana que se virasse para a frente, a conhecer histórias de vida, por vezes bem delicadas, a ajudar gerações a encontrar caminhos, chegou a vez de despejar o cacifo e deixar de corresponder ao toque da campainha.

Desses, dos Vítores, das Anas, vou sentir a falta. Foi-me. aliás, difícil a despedida, no último dia de aulas deste período. Foi penoso ver algumas lagrimitas que "a minha canalha" não disfarçou, quando lhes disse que aquela era a nossa última aula. Mas foi gratificante ouvir os apelos para que continuasse com eles.

Desses, vou sentir a falta.

Mas só desses e de amigos que fiz, ao longo de todos estes anos de profissão.Também dos "bons velhos tempos"em que a função docente era vivida com espírito de missão e era, pelos outros, considerada e valorizada como tal. Do resto,daquilo que me foi dado viver nos últimos tempos, não tenho motivos para levar saudades.

Saio, como nunca idealizei que sairia. Amargurado, desiludido, descontente.Com a sensação de que a minha profissão cada vez merece menos reconhecimento social.

Sempre pensei que, quando um dia tivesse de abandonar a profissão (facto que só admitia acontecer lá para os setenta) sairia por ser obrigado.

Mas, afinal, saio com uma sensação de alívio.É triste dizer isto, mas é inútil disfarçar. Saio mesmo como quem se consegue libertar de um fardo que já estava a ser muito pesado.

Apesar de tudo, com a presunção de ter dado à Escola e, sobretudo, aos meus alunos, o melhor que pude e soube. Procurando sempre investir no aprofundamento dos meus conhecimentos, na inovação, na procura de novas respostas para os crescentes e cada vez mais complexos desafios que um educador que se assume como tal, enfrenta no mundo de hoje.

Valeu a pena?

Pelos Vítores, pelas Anas, SIM!

Por esses, SIM!

Neste momento,só poderei dizer:

APENAS POR ESSES!

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