Entre as diversas coisas que fiz na vida, trabalhei numa livraria.
Porque havia clientes que gostavam que se adiantassem umas peciscas sobre as novidades livreiras que iam aparecendo, procurava estar minimamente informado sobre essas obras.
Mas, é claro, que, chegando às bancas, dezenas de títulos em cada semana, não seria humanamente possível ler todas elas.
Então, que fazer?
Recolher dados no material informativo das editoras e, sobretudo, ler as chamadas "badanas".
Para quem não estiver familiarizado com o termo, explico que eram (são ainda?) assim designados aqueles prolongamentos das capas dos livros, que ficam dobrados "para dentro".
Aí, normalmente, colocam as editoras um breve resumo da obra, ou, pelo menos, uma pequena descrição que ajude o presumível comprador a situar-se no seu contexto.
Ou seja, assumo que, na maior parte dos casos, eu fazia uso daquilo que se convencionou, então, chamar "cultura de badanas".
Esta designação aplicava-se, de um modo geral, aos pseudo-intlectuais, que discursavam, com ar convincente, sobre a mais diversa literatura, esmagando os outros com a sua enorme capacidade de leitura.
Agora, grande parte dos livros já não trazem as ditas badanas. Mas a contra-capa serve às mil maravilhas para os que continuam a fazer crer aos outros que lêm tudo e mais alguma coisa.
Assim, quando vejo, ao domingo, o professor Marcelo, a fazer desfilar aquela livralhada toda que lhe oferecem e que vai contribuir para o gracioso enriquecimento da sua biblioteca, não posso deixar de me lembrar dessa designação que trago na memória desde a minha juventude.
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