"Preocupa-me a maneira como estamos cedendo à tentação de olhar a tecnologia como solução global para os nossos múltiplos males.Muitos de nós acreditamos que é a técnica que nos vai salvar da miséria. Essa crença nos deixa vulneráveis a uns tantos vendedores de produtos mágicos.O futuro não seria apenas melhor- como diz o slogan - mas fácil, tão fácil como digitar um teclado.Para sermos como eles, os desenvolvidos, basta preencher uns tantos indicadores nos critérios de consultores e, num ápice, entramos no clube.
Sabemos que não é verdade.Desconheço por que motivo queremos tanto ser como "eles" e não como nós mesmos, seguindo caminhos nossos para destinos que nós próprios inventamos. O que nos separa da riqueza são, sobretudo,questões de natureza não técnica. São atitudes, vontades,uma determinação política e uma postura do domínio da cultura. Digitalizar não nos converte em seres produtores de coisa nenhuma. Caso não venhamos a exercer alguma soberania em actos que, afinal, são de cultura, entramos nesse universo a que chamamos sociedade digital como um mercado menor, um pequeno parceiro da periferia."
Mia Couto, palestra em Moçambique, Abril de 2001O escritor referia-se a Moçambique.
Apenas? - digo eu. Estas palavras não serão aplicáveis a realidades portuguesas dos nossos dias?
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