Chamava-se Adriano Correia de Oliveira e tinha uma voz única. Potente mas cristalina. Intensa mas melodiosa.
Passou pela vida demasiado depressa.
Mas, ainda assim, deixou obra.
Foi também com ele,que aprendi a descobrir e a amar a liberdade. Por exemplo,quando cantava, num coro que envolvia muitas outras vozes, a trova que o poeta Manuel Alegre escreveu e que ele, quase à socapa, gravou e nos deu:
Mesmo na noite mais triste
em tempos de servidão
Há sempre alguém que resiste.
Há sempre alguém que diz NÃO.
A força com que gritávamos este NÃO!
Conheci-o nos tempos em que ele era estudante coimbrão e residente na república "Rás Te Parta".
Lembro-me dele, aqui no Porto, aquando de uma qualquer manifestação política, já depois "do 25" a brincar com o facto de estarem poucos manifestantes, mas o cortejo demorar muito a passar:
- Se calhar, são sempre os mesmos. Estão é às voltas- Praça, Sá da Bandeira, Avenida e continua.
E soltou uma das suas sonoras gargalhadas.
Ouvi-o cantar, pela última vez, já bastante doente, conjuntamente com a filha, num festival ali para os lados das Antas.
Era o popular Vira Velho:
Agora já não o sou
Eu já fui o teu amor
Agora já não o sou.
Se ainda te bato os olhos
Foi jeito que me ficou
Agora, Adriano, já não és.
Jà não estás. fisicamente aqui. Mas o teu jeito ficou.
Para sempre.
1 comentário:
Já não é do meu tempo!
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