Nos últimos tempos , tem-se falado bastante do Zeca Afonso, a propósito do 20º aniversário da sua morte. Estranha e mórbida forma, esta de comemorar um artista, lembrando a sua morte.
Mas adiante, que aquilo que me faz hoje falar do Zeca não resulta de uma associação à onda comemorativa em curso, pois penso que, uma pessoa, em particular um artista, se for caso disso, deve ser homenageado todos os dias.
O que eu quero dizer, e há dias, um comentador na Antena 1, muito bem o afirmou, é que se nota por aí uma estranha consonância no louvar da vida e obra do artista. Uma consonância que ao próprio Zeca, se ainda fosse vivo, haveria de parecer muito estranha.
Porque ele, com a sua verticalidade, estava muito longe de querer gerar consensos.
Um homem que cantou contra a guerra colonial (que ainda hoje é alvo de defesa incondicional por parte de algumas franjas , designadamente, o que ainda é mais estranho, de jovens que já nasceram depois do conflito ter terminado), um cantor que evocou o assassinato de Catarina Eufémia ou Dias Coelho, militantes comunistas (e o Zeca raramente esteve próximo do PC, muito antes pelo contrário), um artista que, como disse numa das suas obras "era a formiga que vinha em sentido contrário" e denunciava vigorosamente "os vampiros", incomodava(incomoda) gente de mais, para poder gerar unanimidades.
O Zeca foi, em vida, ostracisado (por acção ou omissão), ignorado, ou mesmo perseguido, por muitos daqueles que aparecem ,agora, a aplaudir e a louvaminhar.
Tive o privilégio de me cruzar com o Zeca, algumas vezes.
Por isso, nesta semana, ainda virei falar um pouco mais da sua personalidade e do seu exemplo.
Mesmo que isso possa doer um pouco.
Os Vampiros - Zeca... |
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