O Zeca, após uma estada em Moçambique, regressou em 1967 ao então chamado "Continente".
Inicialmente, vai dar aulas em Setúbal, mas por pouco tempo. Foi expulso do ensino oficial em 1968. Viverá, por isso, de explicações e da venda de discos e livros.
O primeiro desses livros, "Cantares de José Afonso", foi editado pela Nova Realidade, reunindo letras de algumas das suas canções.É claro que a publicação acabou por ser apreendida pelas autoridades policiais de então( vulgo pide).
Nessa altura, o Zeca dava, de vez em quando, pequenos concertos para as associações de estudantes , elas também, perseguidas, já que o regime desconfiava (e, diga-se, com razão) que por ali se acoitavam muitos opositores.
Eram convívios emocionantes em que o cator surgia com uma modéstia tocante, com uma simplicidade a raiar a timidez, que era uma das facetas da sua personalidade.
Quando cantava a morte da Catarina ("Chamava-se Catarina, o Alentejo a viu nascer, ..."), que fazia questão de interpretar com as luzes apagadas, a todos contagiava com a emoção que se desprendia da sua voz un tanto rouca, mas repleta de cambiantes dramáticos.
Ficaríamos ali, a noite inteira a ouvi-lo. Mas havia a determinação oficial de aqueles espectáculos terminarem antes da meia noite.
De modo que o Zeca rematava as suas actuações dizendo "Por causa dessas coisas do papel selado, vamos ter de cantar a última"
Zeca Afonso foi sempre bastante desprendido de bens materiais, parecendo, por vezes, que tinha até uma certa vergonha de ganhar dinheiro com a sua arte.
Pouco depois de ter sido lançado o livro atrás referido, o cantor veio ao Porto e passou pela cooperativa livreira estudantil de que eu, na altura fazia parte. Tinha uns dinheiros a receber, da vendas que conseguimos, ainda assim, fazer dos "Cantares".
O Zeca entrou, acompanhado da segunda mulher, Zélia, refugiando-se, na observação das estantes. Foi a companheira que tratou das contas e dos papéis.
Era assim o Zeca.
Venham mais cinco ... |
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