segunda-feira, janeiro 07, 2008

A propósito de uma entrevista

Acabo de ouvir o Carlos do Carmo numa entrevista à Judite de Sousa e venho escrever este texto, que "irá para o ar" num destes dias.
Como já por aqui revelei, gosto de fado. Mas não é esse o motivo que traz aqui.
Nem sequer o facto de considerar este fadista como um homem sensível culto e inteligente.
O que me motivou estas breves linhas foi o facto de, durante a conversa com a jornalista, Carlos do Carmo ter revelado que o médico que o tratou, durante um dos seus graves problemas de saúde, o preveniu que um concerto, com a entrega que o artista lhe consagra, corresponde, em desgaste, a cinco dias úteis de trabalho. Cinco dias, entenda-se, em muitas outras profissões.
Quem me conhece melhor já está a antever o porquê de recuparar este passo da entrevista.
De facto, esta ideia peregrina e básica de se pretender igualizar as horas de trabalho das diversas profissões, pode colher alguns dividendos populistas em certas camadas da população, mas é de todo demagógica e injusta. Porque só se pode comparar... o que é comparável.
E, é claro, que vou puxar a brasa à minha sardinha.
Um professor, que faz da sua profissão aquele acto de entrega e de honestidade que a justifica, durante uma aula, mesmo que de 45 minutos (a maioria é, como se sabe, de 90), sofre um desgaste físico e psicológico que é seguramente equivalente ao esforço de bastante mais horas em outra actividade. Não esquecendo que aquela aula, tem atrás de si, todo um trabalho de preparação que a sustenta e tem depois de si, ainda, consequências.
Estar em constante estado de alerta (às reacções dos alunos, à sua participação, ao seu alheamento, à sua agressividade), permanecer em contínua adaptação às situações imprevistas, podem crer aqueles que nunca deram aulas : (porque os colegas sabem bem o que isso é), sai mesmo do corpo.
Do mesmo modo que uma actor não poderia estar diariamente seis horas em cima de um palco a representar, um futebolista não conseguiria estar quatro horas por dia em competição, há profissões sobre as quais não se podem ignorar as especificidades que lhe são imanentes.
Por muito que isso custe a quem parece fazer da tal igualitarismo acéfalo e fundamentalista, um ajuste de contas com certas classes profissionais.

1 comentário:

Andreia disse...

Concordo inteiramente contigo!