quinta-feira, setembro 06, 2007

Um Setembro diferente 2

Conforme disse no post anterior, o facto de ter chegado à aposentação, não me distancia de tudo daquilo que foi a minha profissão.
Assim, a cada passo me vejo a ficar irritado, quando ouço ou leio gente que fala sobre Educação e da Escola portuguesa e seus profissionais em particular, a propagar distorções da realidade ou mesmo mentiras .
Essa gente, faria muito melhor se, antes de afirmar disparates, tentasse informar-se um pouco melhor. Lendo, por exemplo, um relatório publicado pela OCDE, denominado " Education at a Glance". Aliás, a Senhora Ministra referiu, na Segunda-Feira este documento, mas de relance, e apenas citando aquilo que lhe interessava de momento.
É um extenso estudo, que confronta realidades educativas dos 30 países da OCDE e de outros países considerados como relevantes.
Abordarei aqui cinco pontos desse estudo.

Nùmero de alunos por turma
Em Portugal, anda à volta dos 24, estando o nosso país numa posição intermédia.Coreia, Japão, Brasil, Chile e Israel, têm mais de 3o alunos por turma. Mas há 11 países que têm menos alunos por turma do que nós. A Irlanda, o Luxemburgo, a Federação Russa, a Dinamarca, a Suiça e a Islândia, têm 20 ou menos.
Em recente intervenção, a Ministra , ao falar no "ratio" professor/aluno, que se situará em 7 ou 8, contribuiu para iludir a opinião pública, que facilmente pensará que cada professor só tem 7 ou 8 alunos para ensinar.
É facil de ver que se está a falar de coisas diferentes. Um exemplo: na escola onde eu trabalhava, há cerca de 8oo alunos e cerca de 100 professores. Ou seja, há um professor para cada 8 alunos. Mas, as turmas variam entre 20 alunos (se tiverem Educação Especial) e os 26 a 28 ( a quase totalidade). É que cada aluno tem professores de diversas especialidades. É uma ilusão pensar-se que um dia, haverá um só professor que, nos 2º, 3º ciclos ou Secundário, leccionará, Música, Inglês, Matemática , Educação Física...
Duração do trabalho docente
Portugal, neste indicador, está mais uma vez, e contra o que muitas vezes por aí se ouve dizer, a meio da tabela. Trabalham mais horas por ano do que os docentes portugueses, os de 13 países, com destaque para os Estados Unidos, o México, a Nova Zelândia e o Chile. Trabalham menos horas em 14 dos países estudados, estando no limite inferior, países como o Japão , a Coreia e... a Finlândia, que são tantas vezes evocados como exemplos de sucesso.
Carga horária dos alunos
Os alunos portugueses são dos que passam mais tempo na escola.Neste indicador só somos suplantados por 9 países.
A tal Finlandia dos nossos sonhos, é, afinal, a que tem menos horas de carga escolar...
Gastos com a Educção
Contra o que também muitas vezes se arenga, Portugal tem gastos com a Educação, muito abaixo da média da OCDE. A gastar menos do que nós, só há 10 países, tais como o Brasil, a Turquia, o Chile...Acima de nós, nada menos do que 22 países, com destaque para a Suiça, Estados Unidos, Noruega Dinamarca, Suécia...
Salário anual dos professores
Para professores no início da carreira o salário anual dos portugueses só é superior ao de colegas de ...5 países, havendo 23 com maiores vencimentos
Para professores com 15 anos de carreira, melhoramos um pouco, pois passa a haver 7 países piores do que nós.
Só quando se chega ao topo da carreira é que as coisas melhoram, sendo este dado que é lançado, quando se pretende fazer passar a ideia de que os professores portugueses são privilegiados. Neste escalão, de facto passa-se a ter 9 países em que os vencimento são superiores, e 18 onde o salário anual é inferior . Mas, mesmo assim, a média anual dos portugueses é de 49 644 dólares para uma média OCDE de 45 277.

Estas breves notas que são, repito, retirados de um estudo credível, mostra como, tantas vezes, se atiram para o ar pressupostos, que muitos depois repetem, sem o mínimo fundamento.Tal como:os professores portugueses são os que trabalham menos, os que ganham mais, têm poucos alunos por turma, num país que gasta muito com o Sistema Educativo
Em Educação, como em tudo na vida, quando se fala, tem de se saber do que se fala...

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