Tiveste o vigor e a pujança das coisas que nascem.
Em ti ecoaram dias de sol, brumas e frios.
Outonos cinzentos e secos estios.
Ouviste risos e prantos, mágoas e espantos.
Por ti passou a força indomável das águas.
Que foram força que moeu o grão.
E dessa força se fez pão.
Agora, pouco a pouco, vais-te perdendo na névoa.
Sepultada nos braços de uma outra vida
que se alimenta do teu lento definhar.
E vai-te abraçando .
Nesse amplexo sem trégua, sufocando
os últimos traços em que ainda permanecia aquilo que eras.
Em breve, que restará de ti?
Um volume?
Um espaço?
Uma mancha no horizonte?
Um lampejo fugaz?
Talvez apenas uma memória
que na memória se desfaz.
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