No momento em que escrevo este texto, está a começar a final dessa farsa televisiva que dá pelo nome de "Os grandes Portugueses". Por isso, não sei oficialmente, nem isso me interessa, quem vai subir ao pódio. Embora, desde há muito, os jornais andem a "soprar" cá para fora que é o homem de Santa Comba que aparecerá como "vencedor".
O que eu quero aqui dizer que estas coisas dos prémios, das votações, das selecções, valem o que vale.
E, para mim, valem pouco.
No entanto, parece que se quer cada vez mais enraizar a ideia do grande valor destas distinções. Que percorrem os mais variados sectores da sociedade.
Quem defende estas coisas diz, que estes galardões incentivam o mérito e a qualidade.
Hão-de-me provar isso mesmo.
Se não, digam-me se o António Lobo Antunes ou o Saramago são grandes escritores, por causa dos prémios literários que almejaram alcançar.
Se não, comprovem-me que será por causa de um prémio destinado a galardoar o melhor professor nacional (com um regulamento pouco mais do que estarrecedor) que a função docente vai dar um salto qualitativo decisivo. Garantam-me que em dezenas de milhar de docentes, se vai, realmente, consegui descobrir, de modo inequívoco, aquele que é o "melhor" de todos.
Se não, digam-me se o Einstein se aplicou na investigação como todos sabemos,e foi o génio que a História regista , porque queria conquistar o prémio Nobel da Física.
Se não, digam-me se Nelson Mandela, esteve preso dezenas de anos e dedicou a sua vida à luta conta o apartheid, motivado pelo desejo de ganhar o Prémio Nobel da Paz.
Durante a minha vida profissional, sempre fui contra a criação das distinções do tipo "quadro de honra para apôr a determinados alunos.
Eu que, nos meus tempos de Liceu, estava quase sempre no dito "Quadro de Honra"(que, vejam bem, se limitava a uma menção escrita na coluna das observações da pauta das notas) e até recebi dois prémios por ter atingido um determinado patamar classificativo nos exames. Mas sei que nunca pensava em galardões , quando tratava de conseguir ir o mais longe possível nos estudos. E, se era normalmente bem sucedido, isso tinha fundamentalmente a ver com a valorização que era dada no meu agregado familiar à escola e à progressão académica. Por outro lado, grande parte dos meus colegas, nunca chegaria aos tais prémios, fundamentalmente porque, para eles, a escola pouco dizia, e, por isso mesmo, quando se falava em tais recompensas, até se riam. Entre parênteses, e voltando ao Einstein, sabe-se como ele foi mal sucedido na escola...
Estes carimbos, em minha opinião, apenas contribuem para agravar desigualdades que estão a montante das prestações individuais.E não motivam qualquer esforço suplementar para a superação dessas dificuldades. Admito, no entanto, a concessão de bolsas, para estudantes com dificuldades económicas que mostrem verdadeira vontade em progredir.Mas isso é outra história, completamente diferente.
Por isso mesmo, não será por ser distinguido com o título de "Melhor Português" que o Salazar, ou o Cunhal, ou o D. Afonso Henriques, ou, ..., passarão a ser diferentes daquilo que efectivamente foram. Não seráo branqueados os seus defeitos, fraquezas ou mesmo crimes, só porque uma qualquer votação lhes pendurou uma medalha ao pescoço.
Sem comentários:
Enviar um comentário