"Quando me partava mal, o que era frequente, (o meu pai) castigava-me com infindáveis exercícios de Matemática"
Esta frase é de Rodrigo Santiago, em entrevista à "Pública" de ontem.
Faz pensar.
Faz pensar que muito do insucesso que os nossos jovens revelam perante esta disciplina, tem a ver com razões sociais.
Considera-se, muitas vezes, que a Matemática é uma pena que tem de se transportar ao longo de parte da nossa vida e que, logo que possível, se deve atirar para bem longe. E isto passa de pais para filhos, passa de boca em boca e entra na cabeça da grande maioria dos estudantes.
E, infelizmente, esta ideia é reforçada por actuações de professores que, em vez de contribuirem para o desfazer desse mito, bem pelo contrário o reforçam.
Tenho para mim que, grande parte do referido insucesso tem a ver com o modo como esta ciência é apresentada aos alunos, sobretudo os das idades mais tenras.
Lembro-me, com muita frequência, de um professor que tive no liceu, que me fez detestar pura e simplesmente a disciplina. Para mim, a maior parte das coisas que ouvia na aula, eram incompreensíveis porque me surgiam acabadas, cozinhadas, prontas a comer. E depois, lá vinham os intermináveis exercícios de aplicação (havia cadernos , comos os célebres Palma Fernandes, que tinham centenas de exemplos que eram para se chegar à exaustão).
Ora, considero que essa é a pior maneira de se aprender.
A Matemática é um longo processo de construção em que, quem aprende, tem de participar activamente. Enfrentando desafios, trabalhando em conjunto com outros, construindo hipóteses, argumentando, criticando, partindo sempre do que já se sabe, para se descobrir o que ainda não se sabia. Com a chamada tentativa e erro. E, nos primeiros tempos de aprendizagem, com uma forte ligação à chamada "vida real".Costumo exemplificar esta perspectiva com o processo como se aprende a andar de bicicleta - ninguém aprende ao ver os outros andar...
Os jovens têm que entender que a Matemática está presente na vida de todos os dias e existe para nos resolver problemas e não para nos criar problemas.
É claro que, à medida que se progride no seu estudo, a abstracção cresce e as dificuldades aumentam. E o trabalho e o esforço são imprescindíveis.
Mas é possível contrariar a ideia de que a Matemática é um castigo, para passar a ser algo que se faz com algum entusiasmo e prazer.
É preciso ainda muita coisa para que isto passe a ser assim. Para tal, não bastam apenas as boas intenções e o dizer-se que é preciso alterar a situação.
São precisas medidas concretas. E um passo importante é investir, a sério, na formação dos professores que ensinam Matemática. Com particular incidência para os primeiros anos do Ensino Básico.
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