quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Peciscando acerca de ... coragem.

Há conceitos que assumem conotações diversas, de acordo com as perspectivas ou com os contextos que os determinam.
Por exemplo, o conceito de coragem.
É um termo que se usa a cada passo, para caracterizar vários comportamentos.
Mas o que será, verdadeiramente, ter coragem?
Há muitos anos, conheci um homem, que até viria a ter algum relevo na vida pública, que, como muitos outros, combateu na guerra colonial. Pois ele foi distinguido com o prémio Governador Geral de Angola, por feitos em combate.
No entanto, ele, ao referir-se ao episódio que lhe outorgou a distinção, referia que, perante um ataque ao seu aquartelamento, num acto de desespero e não de coragem, se agarrou a uma metralhadora e começou a disparar um pouco à toa. Só que o seu superior, resolveu relatar o facto e lá se criou mais um herói.
É claro que há, actos que, em meu entender ( e o meu entender vale tanto como outros entenderes...), merecem essa designação. Por exemplo, alguém que se lança a um rio revolto, para tentar salvar alguém, é corajoso.
Para dar outro exemplo, que aliás nos está próximo, a Odele, mãe da Flavia, é uma mulher corajosa. Quem conhece a sua história, concorda comigo.
Mas, banalizar o conceito, pode conduzir a deturpações .
Um condutor que, deliberadamente entre em contra-mão numa auto-estrada, é corajoso? Ele pensará que sim. Mas eu chamo-lhe criminoso.
Um operário da construção civil que, sem qualquer protecção se encavalita em telhados escorregadios, será corajoso? Eu chamo-lhe inconsciente.
Por isso, acho que há conceitos que precisam de ser clarificados.
Designadamente ao nível da comunicação social.
Ouve-se, muitas vezes, falar de políticos corajosos. O que significará, em muitos casos essa designação? Que põem em risco a sua integridade física, lutando, desinteressadamente, pelo bem dos seus semelhantes? Às vezes, sim! Mahatma Gandhi e Luther King foram corajosos e pagaram por isso.
Mas, actualmente, com grande frequência, a coragem é, afinal, a obstinação de ser insensível aos problemas de outros. É estar escudado numa confortável situação de poder, que usa enquanto pode e, quando as condições que o sustentam se esvaem, desaparece, apagando responsabilidades por erros e desmandos que cometeu.
Nesses casos, aquilo que a muita gente pode parecer coragem, não passa, afinal de uma tão vulgar como corriqueira, teimosia.

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