terça-feira, setembro 11, 2007

Escola Segura...

Valter Lemos, Secretário de Estado da Educação, é conhecido por, de vez em quando, debitar umas tiradas brilhantes, que mostram como está desenquadrado com a realidade.
Agora, veio dizer que "As escolas são dos lugares públicos mais seguros do país...".
Anunciou, ainda, que, a partir do presente ano lectivo, "as escolas terão um delegado de segurança, um professor com formação...".
Foi, entretanto, afirmado, que o programa Escola Segura está presente em 11 mil escolas, abrangendo 1,8 milhões de alunos.
Parece bonito, parece mostrar que se estão a tomar medidas novas e tudo fica bem na fotografia. No entanto...
No entanto, já há muitos anos que existe em cada escola um responsável pela segurança (em geral o Presidente do órgão executivo) que faz, designadamente, a ligação com as autoridades, com o Gabinete de Segurança do ME e com a referida Escola Segura. Eu próprio, há cerca de quatro anos, desempenhei essas funções...
No que se refere à "formação" deste responsável, a menos que muito recentemente o ME tenha levado a cabo um sério esforço nessa matéria ( o que, sinceramente, penso que não ocorreu), tudo não tem passado da recepção duns quantos papéis , com normas de execução permanente (quem andou na tropa lembra-se das célebres NEP...), de uma ou outra reunião com o Chefe do Gabinete de Segurança e pouco mais
Quanto à Escola Segura, se a afirmação da cobertura de 11 mil escolas tiver o significado que tem tido até agora, estaremos perante uma verdade que esconde uma tremenda mentira. De facto, quando estava em funções, em Rio Tinto havia dois agentes em serviço na Escola Segura que tinham de "cobrir" as dezenas de escolas da zona, espalhadas por uma área considerável. Quer isto dizer que, de facto, todas as escolas tinham, nominalmente, agentes destacados. Mas, o que acontecia na realidade? Na maior parte dos dias, não se via nenhum agente à porta da escola onde trabalhava, pois aqueles dois, tinham de se desdobrar por vários locais, deslocando-se em lentas motoretas. Se era precisa a presença da autoridade, quando aconteciam desacatos no exterior, em regra, passavam-se bastante tempo até que ela aparecesse.
Aliás, esta situação, pode ser comprovada pela análise dos dados do Ministério da Administração Interna, referentes à actualidade. Fazendo contas, ao nível de todo o país, dá isto: 1 polícia, por dia, para 18 escolas, 1 polícia para 3000 alunos...
Por tudo isso, só terei de sorrir perante a jactante sentença do governante.
Já agora, se as escolas são assim tão seguras, por que é que o Governo vai gastar uns milhões em sistemas de controlo electrónico de entradas nas escolas, em câmaras de vigilância do exterior, ...
Porquê?
Perante este quadro, espero, vivamente (porque é, de facto, a integridade dos alunos e dos meus antigos colegas de profissão que estão em causa) que a realidade do ano lectivo que vai começar, não venha a revelar a continuidade ou mesmo o agravamento, das situações de violência que ocorreram durante o ano transacto, e que, em alguns casos, vieram a lume na comunicação social.
Espero mesmo que não!

1 comentário:

Andreia disse...

Serei só eu, ou parece que o pessoal que está à frente deste país não percebe nada do que se passa nas escolas e no ensino?