sexta-feira, abril 29, 2005

VALERÁ A PENA?

No tapume de madeira que escondia a construção de mais um prédio, naquela rua sem graça, alguém desenhou, com giz branco, uma flor.
Nem sequer era muito original ou belo o desenho. Uma rosa, talvez, em traço estereotipado de postal ilustrado.
Quem ali a abandonou, não deixou assinatura, nem qualquer outra mensagem.
Por isso, invento histórias a propósito daquela flor sem tempo nem identidade.
Teria sido um namorado que extravasou uma súbita ternura que já não cabia no peito?
Ou um vagabundo, sem eira nem beira, que apenas queria abanar um pouco o seu quotidiano sem horizontes?
Ou teria sido a criança que tirou do bolso o pedaço de giz que sorrateiramente trouxe da escola e apenas quiz dar corpo à inocente transgressão?
Pessoas que passam, apressadamente, naquele fim de tarde, a caminho de casa. Quem repara na florzeca sem importância? Que valor tem?
Tão efémera que o tempo facilmente a apagará. Amanhã, talvez já não exista.
Valerá a pena, por isso, inventar histórias a seu respeito?

Sem comentários: