Deveria ser hoje a minha comemoração do Dia da Liberdade.
Com efeito, há 31 anos, estava em Timor. E foi já na madrugada do dia 26 de Abril (não se esqueça que lá são 7 horas e meia mais tarde do que aqui) que fui acordado por um colega que tinha ido comandar uma coluna de abastecimentos à montanha e, ao regressar ao quartel tinha sabido que "havia qualquer coisa em Lisboa".
É claro que lá em casa, ninguém mais dormiu. Mas só sabíamos que "havia qualquer coisa e que o Spínola estava metido nisso".
Nesse momento, sem mais informações, colocávamos todos os cenários possíveis. Seria um golpe de direita? Seria a almejada revolução?
De manhã, já no quartel, as informações continuavam a ser escassas. Os oficiais de maior patente, silenciosos e inquietos.
Quando tal, através das comunicações militares, ouvimos a proclamação da Junta de Salvação Nacional. Que tentámos interpretar nas linhas e entrelinhas. Era, naquele momento, a única informação disponível.
E só, pouco a pouco é que se foram conhecendo os verdadeiros contornos dos acontecimentos.
Mas, mesmo assim, só passados dois ou três dias é que se começou a falar mais abertamente da queda do regime.
Não sem que alguns oficiais, mais comprometidos com a anterior situação, tentassem, o mais possível, retardar a alegria que começou a ser evidente nos soldados e nos oficiais milicianos.
Um desses oficiais, um tenente-coronel irmão de uma alta figura política do regime deposto, chegou mesmo a dizer. " Por enquanto, é melhor bater palmas para os dois lados".
Foi por isso que as instalações da pide em Dili ainda funcionaram, normalmente, até 28 ou 29 de Abril, imaginem!
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