segunda-feira, outubro 12, 2009

A propósito dos tempos que correm ou Como era a informação nos velhos tempos...

No dia 24 de Agosto de 1957, o Diário de Notícias transcrevia um comunicado da Direcção-Geral de Saúde a tranquilizar a população portuguesa sobre a eventual ameaça de uma epidemia de gripe asiática. “Não há motivo para alarme no nosso país” assegurava o título da primeira página. Todas as providências para enfrentar o perigo tinham sido tomadas pelo Governo, informava o comunicado, e nenhum caso havia sido registado até àquele momento. Não era verdade. Já no início daquele mês alguns doentes passíveis de serem identificados como contaminados pelo vírus H2N2, o causador da doença, tinham ficado internados nos hospitais. Os primeiros casos só foram publicamente reconhecidos cinco dias depois, na primeira página do DN. “A gripe asiática chegou a Portugal, mas não há motivo para alarme".
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Mesmo sendo público, e cientificamente comprovado pelos laboratórios internacionais, que a gripe era causada por um tipo de vírus, o H2N2, até então desconhecido dos humanos, o Diário de Notícias não resistiu à tentação de divulgar uma outra interpretação, mais em sintonia com a atmosfera política internacional: “A gripe asiática terá sido provocada por uma grande potência comunista para enfraquecer o mundo livre?”, questionava o DN em letras gordas em 17 de Agosto daquele ano.
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Durante toda a primeira quinzena de Setembro de 1957 a gripe asiática ausentou-se misteriosamente dos jornais portugueses, para retornar a 19 daquele mês. Um artigo no Diário de Notícias relatava que estava debelado o surto de gripe que chegara a atingir 4 mil soldados no Campo Militar de Santa Margarida, no concelho de Constância.


Excertos do Volume 14 de “Os Anos de Salazar” ed. Planeta DeAgostini

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