Não sou grande consumidor de televisão.
Digamos que sou um espectador ocasional e selectivo. Ou seja, apenas me sento a ver, de princípio ao fim, os programas que verdadeiramente cumprem requisitos básicos para me interessarem.
A série "Conta-me como foi" é um desses programas.
Excelentemente realizada e interpretada, é, para além de tudo o mais, um documento sobre tempos que não devem ser esquecidos. O rigor com que todos os ambientes onde se passa a acção foram recriados, conferem à série um grande credibilidade.
No entanto, a RTP, que, não esqueçamos, é considerada estação de serviço público, tem maltratado bastante este programa.
Primeiro começou por remeter o "Conta-me como foi" para um horário pouco nobre, que inviabilizava o seu visionamento pela maioria dos telespectadores. Depois, face ao (apesar disso) êxito do programa, começou a transmiti-la mais cedo, conquistando, com isso, uma maior audiência.
No entanto, a cada passo, e sem dizer "água"vai" a RTP interrompia a transmissão, não se sabendo quando seria retomada.
Há pouco tempo, de novo fomos brindados com nova interrupção. Para agora retomarem a apresentação da série, mas, pasme-se, voltando a emitir episódios antigos.
Ora tal situação é de todo absurda pois a sucessão de episódios é temporalmente marcada, contando um pouco a história da evolução de Portugal desde o salazarismo à democracia. Assim, quando já se estava a caminhar para o final da ditadura, eis que se regressa aos anos sessenta. Ou seja, a história enrola-se e enreda-se de forma absurda.
E não se sabe, porque a RTP nada diz, quando é que o fio histórico se recompõe. Ou será que vamos ter que deixar passar novamente todos os episódios antigos até encontramos de novo "o fio à meada".
Esta série é adaptada de uma homóloga que passa no país vizinho. Diga-se que a Televisão Espanhola apresenta o programa antes do telejornal numa atitude que revela o respeito que lhe dedica. E lá não tem havido hiatos, de modo que os espanhóis já assistem a episódios que se reportam a acontecimentos ocorridos depois do nosso 25 de Abril. E, ao assistirem à versão da TVE, os portugueses irão dar conta da evolução das personagens que integram a história , o que irá prejudicar o interesse dos futuros (espera-se) episódios portugueses.
Ou seja, mais uma vez temos de nos interrogar sobre os estranhos critérios da programação da RTP.
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