quarta-feira, maio 06, 2009

Se calhar nem vou lá pôr os pés...

Pelo que tem vindo a público, a esmagadora maioria da população portuguesa, está-se olimpicamente nas tintas para as Eleições Europeias.
Razões para isso todos, de certo modo as conhecemos. E a principal será a quase nula credibilidade que a chamada "classe política", na sua generalidade, desperta nos cidadãos.
Por isso, não é de estranhar que, em desespero de causa, se procurem acontecimentos que dramatizem a campanha, partindo-se do pressuposto que o povo sempre terá pena das vítimas e as apoiará sem questionar.
Lembram-se os menos jovens das primeiras eleiçõe presidenciais da democracia em que um candidato (Pinheiro de Azevedo), teve uma AVC dias antes do sufrágio. Pois, estando esse senhor hospitalizado e sabendo-se que dificilmente ele poderia retomar a vida política, teve uma votação expressiva (quase 700 mil votos, ou seja mais de 14%). Porquê? Porque muitos eleitores ficaram tocados pelo drama pessoal do candidato e quiseram recompensá-lo (vou votar nele, coitado do senhor...). Lembram-se ?
Pois a estratégia da vitimização continua aí. Os recentes acontecimentos do 1º de Maio em Lisboa, o comprovam. Toda a gente entendeu que enviar o Vital Moreira para uma manifestação em que se sabia que se iria zurzir no governo, era uma forma de procurar um confronto que poderia reverter a favor do partido actualmente maioritário. Ninguém imaginaria, no PS, que Vital seria recebido com beijos e abraços, pois não?
E é claro que alguns militantes do PCP ou apenas simples participantes na marcha, foram tão ingénuos ( ou estavam muito mal esclarecidos e enquadrados) que cairam na esparrela como patinhos. Deram a prova de que o governo necessitava que, para aquelas bandas não se respeita a democracia e o direito de livre expressão (quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele...). Se o candidato Vital tivesse sido ignorado, o golpe não teria resultado e os telejornais não teriam aberto com as imagens da "vítima" de camisa molhada e ar sorridente, como quem diz: Eia, resultou!
Mas há mais razões. O que é que o povo pensa dos deputados europeus? Basicamente que são uns privilegiados, que ganham salários chorudos e que passam a vida a viajar. Sem que da sua actividade resultem particulares benefícios para o país. O que é que o Zé Portuga sente que o "estar na Europa" lhe traz de bem ? Para além de poder usar euros em França ou na Itália? Para além do alcatrão que em dada fase pintou a paisagem?. O Zé lembra-se dessas normas absuradas que querem proibir a alheira de Mirandela ou que obrigam os países a quotas de produção (p.ex, leite, tomate,...).
Eu, cá por mim, que até sou europeísta, estou a ponderar, seriamente, a hipótese de, nestas eleições europeias que decorrerão dentro de um mês, pura e simplesmente nem lá pôr os pés.
Se o fizer, será a primeira vez, em 35 anos de democracia, que me absterei numa eleição.
Mas reparem: nas legislativas, autárquicas ou presidenciais, lá estarei. Porque isso é outra louça!

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