terça-feira, janeiro 20, 2009

Para que não se percam estas palavras

"Durante décadas, Portugal foi um país singular. Distinguia-se dos outros. Pelo analfabetismo, pela pobreza. pela duração de uma ditadura, pela censura, pela polícia política e por outros feitos de igual calibre. Gradualmente, o país foi-se transformando e foi ficando "um país como os outros". Com cada vez menos "história", que, como terá dito Tolstoi, é o próprio das pessoas felizes. Com bons e maus, excelentes e péssimos. Com estúpidos e inteligentes, como em todo o sítio. Com êxitos e falências, como deve ser. Só se espera que seja sempre assim. Sempre e cada vez mais. Que os portugueses não queiram de novo distinguir-se! Que ambicionem pelo dia em que, sem prémio Nobel, a maior parte dos alunos tenha notas decentes a Matemática e Português. Que lutem pelo dia em que um processo no tribunal não dê, durante anos, notícias em todos os jornais do mundo, mas que, simplesmente, chegue à sentença sem ter história. Que trabalhem o necessário para que não tenham os mais baixos rendimentos da Europa. Que sejam habitualmente recompensados ou punidos quando merecem. Nesse dia, talvez outro Cristiano volte a ganhar. E outros indispensáveis heróis surgirão. Mas o disparate que se seguirá será bem menor".

António Barreto. 18-01-2009
(in jornal "Público", rematando uma crónica em que se manifestava contra a tentativa de socialização do prémio de "Melhor Jogador do Mundo" recentemente atribuído ao futebolista Cristiano Ronaldo).

2 comentários:

Andreia disse...

Ele tem uma certa razão.

SILÊNCIO CULPADO disse...

António

Não deixo de dar razão a A.Barreto. As palavras que escreve adaptam-se a muitas situações algumas delas incompatíveis entre si.
É que a solução das palavras quase nunca coincide com as soluções reais e muitos dos que as preconizam na palavra foram também responsáveis no desvio.

Abraço