segunda-feira, novembro 17, 2008

Histórias da tropa 6

Nos quartéis sempre havia cães vadios, em busca de um abrigo e de comida.
Viviam por ali, felizes, entre fardas verdes, às quais se habituavam de tal forma que estranhavam a chamada "roupa civil".
Quando estive no quartel do Lumiar, em Lisboa, entre os vários canídeos que faziam parte dos efectivos, havia o Kropachek.
Este nome tinha sido retirado das velhas, pesadas e obsoletas espingardas que tínhamos de usar na instrução. "Usar" é como quem diz pois nenhuma delas seria capaz de disparar um único tiro. Eram do século XIX e só serviam para "dar nas vistas". Naquele tempo os recursos mais importantes eram canalizados para a guerra colonial,ficando, na rectaguarda, o refugo.
Numa longa noite de marcha ( as chamadas "marchas finais") tivemos de sair do quartel , pelas 21 horas, para fazer um longo percurso por diversas zonas dos arredores de Lisboa.
O bom do Kropachek resolveu ir connosco.
Mas a sessão prolongou-se enormemente, pois não atinámos com o caminho, deambulámos por montes e vales, numa interminável marcha que só terminaria pelas 9 da manhã.
A dada altura, não fazendo a mínima ideia de onde estávamos, subi uma pequena ladeira para espreitar algum ponto de referência que pudesse ajudar. O cão foi comigo.
Às tantas escorreguei e espalhei-me ao comprido.
Pois o cachorro, que já estava exausto de tanto dar à pata, vendo-me deitado e julgando que já era hora de descansar, imediatamente se enroscou ao meu lado e fechou os olhos.
Quando me sentiu levantar de novo, virou para mim um ar bem desconsolado.
Mas aguentou connosco a parte final. Que haveria de passar por algo de absolutamente proibido pelos regulamentos militares. É que, já por volta das 7 horas da matina, e ainda longe do quartel, resolvemos apanhar uma camioneta, que levava já muita gente ali da zona de Benfica para os seus empregos.
O Kropachek, claro que foi connosco. Corremos as cortinas da camioneta, com a conivência dos passageiros, que compreendiam os sacrifícios por que estávamos a passar.
Regressados ao aquartelamento, o cãozito desapareceu. Imagino que dormiu durante dois dias...

2 comentários:

Andreia disse...

Tadinho do cãozinho!!

Anónimo disse...

hehe cão de guerra