Este é um dos edifícios mais antigos de Rio Tinto.
Aqui funciona uma associação de socorros mútuos que, a avaliar pelos dísticos, é mais do que centenária, tendo sido instalada ainda sob a monarquia.
Mas, para mim, este edifício éstá associado a uma memória imperecível.
Com efeito, foi aqui que, nos anos sessenta, exerci pala primera vez o direito de voto.
Em pleno Estado Novo, naqueles arremedos de eleições que o regime encenava.
A Oposição, concorria, sabendo de antemão que tudo aquilo era uma farsa. Desde a censura que impedia a saída de comunicados ou notícias oriundas dessa área, até às provocações e perseguições que a polícia política praticava sobre os activistas das respectivas candidaturas.
Então, aos eleitores não era fornecido o boletim de voto junto da urna, já que era enviado para casa de cada inscrito nos cadernos eleitorais (já de si sabiamente elaborados, cortando-se, com frequência, o nome de "quem não interessava"), ou entregue a cada eleitor. Aos funcionários públicos e militares, por exemplo, eram os chefes que entregavam o papelinho. De realçar que às mulheres, a menos que provassem ser "propietárias", não era concedido o direito de voto.
O facto de o boletim não ser entregue pela "organização" tinha a ver com outra artimanha. Os boletins de voto não tinham, como agora, listados todos os partidos concorrentes, para o cidadão escolher um. Cada concorrente, tinha de imprimir o seu próprio boletim, e fornecê-lo ao votante.Ou seja, era introduzido na urna apenas o voto com os nomes em quem se votava. Ora, um dos segredos que o partido único do regime melhor guardava nessas alturas, era o nome da tipografia onde imprimia os seus boletins bem como a qualidade dos papel utilizado.
Asssim, quando o eleitor do "reviralho" entregava o voto ao chefe da mesa, era possível, desde logo, identificar o sentido da opção do cidadão.O que, era factor dissuasor para muita gente que não se queria arriscar a ser identificado como oposicionista.
Mas, apesar de saber tudo isso, foi, com emoção, que, certo dia, lá fui votar, neste edifício que vos mostro.
E, quando entreguei o papel ao homem, vi-o, claramente, a apalpar, a esfregar, a espreitar. E o comparsa que descarregava o nome na lista de votantes, lá deve ter feito a anotação do costume. Ou seja, mais um para a "lista negra". pois a qualidade do papel, era como o tal algodão. Não enganava...
1 comentário:
Txii!! Que tempos!
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