Um destes dias, um relatório da CCDR-N, mostrava que a Galiza suplantava, claramente, a região Norte de Portugal. Assim, o salário médio naquela região de Espanha é de 1240 euros enquanto na sua vizinha lusitana, é de 636 euros. O desemprego para os galegos, atingiu, no ano transacto, a sua menor expressão dos últimos vinte e cinco anos. Por cá, é o que se sabe...
Como as coisas podem mudar...
Outrora, a Galiza era uma terra de emigrantes. Como cantava a poetisa galega Rosalia de Castro:
"Estes partem
aqueles partem
e todos todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão".
Muitos desses emigrantes, vinham para Portugal. Em geral, para ofícios duros e mal remunerados (comércio, restauração, por exemplo). Mas trabalhavam..."como galegos" (a expressão ficou).
O meu avô materno, foi um desses emigrantes.
Natural de Ourense,veio para cá novo e começou, com um pequeno tabuleiro pendurado ao pescoço, por vender pequenas bugigangas aos veraneantes que, então, demandavam a minha aldeia natal, que era afamada pelas suas termas.
Passando fome, poupando o mais que podia, conseguiu, a breve trecho, comprar uma pequena carroça e uma mula.
Começou, então, a vender fazendas, pelas feiras do norte.
Comeu o pão que o diabo amassou.
Andava pelos caminhos perdidos, por serranias íngremes. Ao sol, à chuva, à neve.Por vezes, dormia em estrebarias, ao lado da mula, sua fiel companheira de anos (quando o animal morreu,de velhice, o meu avô teve um desgosto enorme). Foi assaltado uma ou outra vez.
Mas lá foi singrando, de modo que conseguiu, pouco a pouco, comprar alguns terrenos e casas, chegando a uma situação confortável.Costituiu família e por cá ficou.
No entanto, sem nunca assumir uma postura arrogante, de proprietário autoritário e insensível.
Na casa dele, todos os trabalhadores sentavam-se à sua mesa, pois ele dizia:
"Aqui, somos todos trabalhadores".
Por circunstâncias diversas, para o fim da sua vida, as coisas foram correndo menos bem e acabou por perder alguns ds seus haveres.
No entanto, foi sempre um homem norteado pelo dever de trabalhar e de não esbanjar.
Embora ele tivesse morrido tinha eu sete anos, recordo-o com uma enorme admiração.
Tendo em conta a actual realidade, bem poderemos dizer: como as coisas mudam...
Os emigrantes galegos de outros tempos são, agora, os que estão na crista da onda...
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