terça-feira, outubro 10, 2006

Cavalos-marinhos ?

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A natureza dotou-me com uma acentuada falta de habilidade para o desenho.
Por mais que me esforçe, a minha mão recusa-se a traçar no papel, com um mínimo de qualidade, aquilo que o meu cérebro lhe pretende ordenar.
Quando entrei para o 1º ano do Liceu, a minha professora de Desenho, casada com o grande escritor Vergílio Ferreira, e de nacionalidade polaca, era conhecida pela sua forma algo desabrida como tratava os alunos.
Pois, o primeiro trabalho que a senhora nos mandou fazer foi desenhar uma capoeira com a respectiva criação.
Tentei fazer o meu melhor, embora, olhando de soslaio para os desenhos dos meus colegas, não ficasse muito animado com o produto do meu labor.
Quando acabei de desenhar, a lápis, "a minha capoeira", fui mostrá-la à mestra.
Comentário, seco e definitivo da professora:
-Ouve lá menino! O que é isto que puseste dentro da capoeira? São cavalos-marinhos?
Fiquei destroçado.Eram galinhas, mas, pelos vistos, só para mim...
Já sabia que não era propriamente o Miguel Ãngelo, mas, daí até ser tratado como um analfabeto gráfico, ia uma grande distância.
Cabisbaixo, lá fui para o lugar, acabar, a guache, "aquilo".
A partir daí, depois daquela sentença, interiorizei, ainda mais profundamente, a minha incapacidade para o desenho.
No entanto, ainda hoje penso, que, se a mulher do Vergílio não tivesse disparado aquele impropério, talvez pudesse ter, com muito esforço e empenhamento, conseguido alguma evolução nesse domínio.
Mas, do mal, o menos.
Deste episódio, que nunca esqueci, tentei retirar algo que me pode ter ajudado na minha profissão. Ou seja, a necessidade de tentar não ser impiedosamente destrutivo nas críticas aos trabalhos dos meus alunos.

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