DEIXAM UM LUGAR NA HISTÓRIA

Às vezes parece que há desígnios misteriosos que fazem com que se produzam acontecimentos ligados por um nexo propositadamente urdido.
Estou a falar, é claro, do desaparecimento, em tropel, de personagens que deixam um lugar imperecível na nossa História.
Um poeta grande, um político duro e tenaz, em idealísta ingénuo.
Sobre cada um deles, podemos ter as mais diversas opiniões.
No entanto, quer se queira, quer não, nenhum deles passou anonimamente por cá.
E, cada um à sua maneira, foram gente com convicções, coerência, verticalidade.
Bem diferentes de muitos outros que mudam de postura, de verdade e de opinião, como quem muda de camisa.Mas estes, dificilmente ficarão na nossa memória colectiva.

Agora, que desapareceram fisicamente, não faltam os elogios, as palavras simpáticas. Muitas vezes proferidas por quem, em vida, os crucificou, atribuindo-lhes rótulos diversos, desde a loucura à mais demoníaca maldade. Ou, muito simplesmente os desprezou.

Vem a propósito, neste momento, uma memória pessoal sobre um destes vultos agora desaparecidos. Sobre Álvaro Cunhal.

Há muitos anos trás, porque sou profissional dessa área, estive presente numa iniciativa do PCP sobre Educação, por convite de uma amiga, já que nunca fui militante deste partido.

Num dos intervalos, formou-se uma fila para tirar senha para o café. Às tantas, ouvi, atrás de mim, uma voz inconfundível. Era,de facto, o Álvaro Cunhal que, apesar de ser Secretário-Geral, estava, pacientemente, aguardando a sua vez, entre várias dezenas de pessoas..