sexta-feira, abril 15, 2005

SOU UM PRIVILEGIADO 2

Há uns tempos, falei aqui sobre um dos comentadores estabelecidos na praça pública nacional, que definia várias classes profissionais como privilegiadas. Os professores estavam lá.
Agora tenho de voltar ao assunto porque outro desses comentadores, Miguel Sousa Tavares,voltou ao ataque contra as tais classes mais favorecidas. Os professores estavam lá outra vez. Estes homens estão a repetir-se. Talvez porque, como têm que produzir prosas e intervenções todas as semanas, às tantas têm que pegar nos temas uns dos outros.
Em artigo saído no "Público" de 8 de Abril, entre outras afirmações peremptórias, bem ao jeito auto-suficiente que lhe é habitual, produziu a espantosa afirmação de que os desalmados dos professores tinham 131 dias de trabalho e 234 dias de folga.
Faz o MST estas contas: 90 dias de férias de Verão;15 de Páscoa, 15 de Natal, 7 de Carnaval, 7 de feriados e (pasmem-se) 104 de fins-de-semana(52 semanas vezes 2 e aqui, o Senhor Tavares volta à argolada, pois conta fins-de-semana que já incluíu na Páscoa, Natal, Carnaval e Verão -chama-se a isto desonestidade intlectual) . Ainda por cima, não sabe somar, pois estes números totalizariam 238 (o que quer dizer que ainda teríamos mais 4 dias de malandrice e só 127 de trabalho).
É claro que quem minimamente conhece a realidade escolar, sabe que estes números são disparatados. Mas o mal é que, muita gente, que já está de pé atrás contra a classe, vai agravar a sua antipatia, com estas aleivosias envinagradas.
MST escreve mentiras, disparates e inverdades.
Mentiras várias: nenhum professor tem 90 dias de férias de Verão. Oficialmente só tem, no melhor dos casos, 32 dias. MST confunde férias de professores com férias de alunos (deliberadamente, ou por ignorância?). E mesmo assim, estaria a disparatar, porque, actualmente, nem os alunos têm 90 dias de férias.Os que não têm exames, terminam as aulas no final de Junho e recomeçam cerca de 15 de Setembro ( Senhor Tavares, isso não dá 90 dias, não é?); nenhum professor pode pedir férias antes de 15 de Julho e tem de as terminar a 31 de Agosto (90 dias, Senhor Tavares?); os professores do ensino básico e secundário, julga MST que, na Páscoa e no Natal, não têm que avaliar os alunos, ou seja, julgará que as classificações são dadas em tempo de actividades lectivas;no Carnaval, há 3 dias de interrupção de aulas (onde é que o Senhor Tavares foi buscar 7 dias ?).
Inverdades: julgará MST que não há professores ocupados, depois do final das aulas, designadamente, com serviço de exames, quase até final de Julho; saberá MST que para além do período oficial de férias, qualquer professor terá de estar disponível para se apresentar na escola, caso o órgão de gestão o convoque?; julgará o MST que os professores apenas trabalham quando dão as aulitas?não têm que as preparar?não têm testes para ver?não têm livros profissionais para ler?não têm reuniões? não têm que efectuar diverso trabalho burocrático, tal com matricular alunos? (o Senhor Tavares só trabalha quando aparece na TVI, ou nos dias em que aparecem escritos seus nos jornais?).
Disparates: então o MST contabiliza, na malandrice dos docentes, 104 fins-de-semana? Deveríamos trabalhar, ao contrário da maioria dos outros profissionais, também aos Sábados e Domingos, mesmo nas férias? (mas saiba o Senhor Tavares que há docentes que, por vezes, trabalham mesmo ao Sábado). Ou será que MST acha que a chamada "semana inglesa" já implantada há tantos anos, terá de ser banida em Portugal.
Devo dizer que já tenho subscrito muitas das opiniões que MST vende em diversos locais.Mas quem tem antenas disponíveis para influenciar a opinião pública, ainda por cima recebendo por isso, terá, no mínimo, de estar bem informado, para não mentir, não insultar, não disparatar.
E já vai havendo falta de pachorra para aturar estas cassetes que alguns insistem em rebobinar a cada passo.
É que tudo isto vai tendo efeitos perversos. Por exemplo na crescente indisciplina que vai ocorrendo nas escolas. Pois que respeito há-de ter um aluno, um encarregado de educação perante profissionais que deste modo tão leviano, são apresentados à sociedade como uma classe parasitária?

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