domingo, janeiro 16, 2005

ATÉ NA DESGRAÇA É PRECISO TER SORTE!

Por esse mundo fora vai uma grande onda de solidariedade a favor dos povos do sudeste asiático, martirizados pela catástrofe de todos conhecida.
Um pouco por todo lado (inclusivamente na blogosfera), multiplicam-se apelos e iniciativas, mobilizam-se meios e recursos. Individualidades do meio político, artístico, empresarial, aparecem a dar a cara nestas campanhas, que pretendem gerar, nas opiniões públicas, sentimentos de comiseração que as levem a participar nessas campanhas.
Nada tenho contra esses movimentos e até, em alguns casos, para eles contribuo. No entanto, é preciso não esquecer que, no dia- a - dia do mundo em que habitamos, há milhões de seres que vivem tragédias igualmente terríveis. Mas perante as quais, ou porque elas não conseguem o mediatismo de outras situações, ou , então, porque, por serem tão quotidianas, a elas já nos habituámos, reagimos com alguma indiferença, passandos-lhe ao lado .
E poderíamos falar na fome, nos muitos milhões de seres cuja existência se arrasta na mais penosa miséria, no problema da SIDA, por exemplo no continente africano. E poderíamos falar em tantas coisas mais. Como as guerras que, ao contrário do maremoto e onda gigante, não são catástrofes naturais, mas sim catástrofes criadas por homens, deliberada e friamente. Sem falar, por agora em tantos dos nossos compatriotas que vivem abaixo do limiar da pobreza, como agora se diz (ainda hei-de voltar a isto).
E, nestas campanhas, há sempre uma certa dose de hipocrisia. Ouvimos gente importante a pedir aos cidadãos comuns a sua dádiva. Muito bem - se eu ganhar, por exemplo 1000 euros mensais, e der 20 euros, estarei a contribuir com 2% do meu rendimento. Será que essas pessoas importantes e ricas do mundo farão o mesmo tipo de esforço. E todas o farão ? Com quanto, por exemplo, teria de contribuir o Bill Gates? Ou os príncipes árabes donos de parte do petróleo do planeta. Ou o Senhor Abramovitch ? Para só apontar meros exemplos.
É por isso que, para além destas campanhas, que, para muitos que as promovem acabam também por redundar em proveitosas acções de marketing, fica-me sempre uma sensação de injustiça relativa. Pois há muita gente a quem a solidariedade não chega, talvez por não terem a sorte da sua desgraça ser tão exposta como a de outros.

Sem comentários: