Cada época tem os seus mitos.
Quando eu era miúdo, o meu mito no desporto era o Barrigana. Guarda-redes do F.C.P. e da selecção nacional.
Quando jogava aquelas intermináveis futeboladas do "muda aos seis e acaba aos doze", ia sempre para a baliza (lugar que pouca gente queria) porque eu "era" o Barrigana.
Imitava-lhe os gestos, designadamente, aquele jeito de sair às bolas com o joelho em riste. Para pôr os adversários em respeito.
Nessas alturas, quando vivia no Alentejo, onde os portistas eram uma espécie estranha e se contavam pelos dedos, eu não dizia a ninguém que era esse o meu clube e que o Barrigana era o meu ídolo. É que, como todos os mitos, ele despertava admiração mas também ódio. E, naquela zona, não era particularmente querido.
Quando o Porto ia jogar a Évora, eu passava todo o encontro a olhar para o "Mãos de ferro" (o seu nome de guerra na bola).
Morreu recentemente.
A última vez que o vi, foi há mais de trinta anos, num dos poucos restaurantes do Porto que,então, tinha autorização para fechar às quatro da madrugada.
Estava numa mesa, acompanhado de algumas espampanantes "damas da noite" já que, abandonada a profissão de futebolista e tendo iniciado uma pouco relevante carreira de treinador, constava que uma das suas fontes de rendimento, estaria relacionada com "negócios" em que as trabalhadoras seriam personagens desse tipo.
Foi uma sensação estranha ver aquele futebolista que marcou o meu imaginário infantil, ali, a alguns metros de distância, transformado num vulgar "gigolo", bem distante daquela auréola de prestígio que lhe tinha atribuído.
Cada época tem os seus mitos.
Que o tempo se encarrega de desvanecer.
1 comentário:
POis é.
Eu por acaso não conhecia!
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