Em 1962, designadamente no dia 24 de Março, ocorreram em Lisboa importantes lutas estudantis, com cargas policiais, prisões de jovens, em massa.
A partir daí essa data passou a ser consagrada como Dia do Estudante, sendo anualmente comemorada, embora sempre alvo de proibições governamentais.Em cada ano era lançado um emblema (actualmente chama-se "pin") do respectivo Dia, que usávamos, como forma de protesto.
Certa vez, houve movimentações na Universidade do Porto, tendo os estudantes protestado (creio que contra a guerra no Vietname). A polícia carregou, e a zona da Praça dos Leões esteve em estado de sítio durante algumas horas.
Entretanto, tive de ir a uma estação de correios que ficava perto, na rua de Ceuta.Estava na fila para ser atendido, quando vi um sujeito, a olhar fixamente para mim, com os olhos a faiscarem ódio.E disse:
-Isso que tem aí no peito, é muito perigoso. Pode mesmo causar a morte!
Eu sabia que trazia no casaco o emblema do Dia do Estudante desse ano.
Secou-se-me a garganta, pois não tinha dúvidas de que aquela personagem pertencia à sinistra polícia política do regime (eles acorriam em bandos, quando "lhes cheirava a esturro").Balbuciei:
-Deixe lá. Não faz mal!
E ele a insistir.
-Isso é mesmo muito perigoso. Tenha cuidado!Veja bem !
E desceu os olhos para a lapela do meu casaco.
Instintivamente, baixei também os olhos. Foi então que vi, junto do emblema, uma grande abelha, que tinha entrado na estação dos correios e pousado perto do meu pescoço, facto que o indivíduo aproveitou para me fazer sentir que eu estava a "transgredir".
Era assim! A gente vivia permanentemente sob o signo do medo, acossado por esses indivíduos que, por todo o lado, vigiavam os nossos passos.
Todos nós,a propósito disto ou daquilo, somos capazes de emitir PECISCAS peciscas = opiniões, bocas, bitaites,dicas,pitaco(termo brasileiro)...
quarta-feira, maio 09, 2007
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Há dias, o PR afirmou que era necessário quebrar a rotina das comemorações do 25 de Abril. Designadamente, para explicar aos jovens quais foram os objectivos e motivações da Revolução.
Pela minha parte, decidi colaborar nessa campanha.
Assim, de vez em quando, aqui contarei algumas histórias verídicas, que aconteceram, nos tempos em que se sonhava com a Liberdade.
Quanto mais não seja, para que não se perca a memória desses tempos e para que, quem os não viveu, possa saber que a opressão e medo que Portugal então vivia, não são invenções históricas.
Aconteceram mesmo!
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