quarta-feira, maio 09, 2007

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Há dias, o PR afirmou que era necessário quebrar a rotina das comemorações do 25 de Abril. Designadamente, para explicar aos jovens quais foram os objectivos e motivações da Revolução.
Pela minha parte, decidi colaborar nessa campanha.
Assim, de vez em quando, aqui contarei algumas histórias verídicas, que aconteceram, nos tempos em que se sonhava com a Liberdade.
Quanto mais não seja, para que não se perca a memória desses tempos e para que, quem os não viveu, possa saber que a opressão e medo que Portugal então vivia, não são invenções históricas.
Aconteceram mesmo!


Em 1962, designadamente no dia 24 de Março, ocorreram em Lisboa importantes lutas estudantis, com cargas policiais, prisões de jovens, em massa.
A partir daí essa data passou a ser consagrada como Dia do Estudante, sendo anualmente comemorada, embora sempre alvo de proibições governamentais.Em cada ano era lançado um emblema (actualmente chama-se "pin") do respectivo Dia, que usávamos, como forma de protesto.
Certa vez, houve movimentações na Universidade do Porto, tendo os estudantes protestado (creio que contra a guerra no Vietname). A polícia carregou, e a zona da Praça dos Leões esteve em estado de sítio durante algumas horas.
Entretanto, tive de ir a uma estação de correios que ficava perto, na rua de Ceuta.Estava na fila para ser atendido, quando vi um sujeito, a olhar fixamente para mim, com os olhos a faiscarem ódio.E disse:
-Isso que tem aí no peito, é muito perigoso. Pode mesmo causar a morte!
Eu sabia que trazia no casaco o emblema do Dia do Estudante desse ano.
Secou-se-me a garganta, pois não tinha dúvidas de que aquela personagem pertencia à sinistra polícia política do regime (eles acorriam em bandos, quando "lhes cheirava a esturro").Balbuciei:
-Deixe lá. Não faz mal!
E ele a insistir.
-Isso é mesmo muito perigoso. Tenha cuidado!Veja bem !
E desceu os olhos para a lapela do meu casaco.
Instintivamente, baixei também os olhos. Foi então que vi, junto do emblema, uma grande abelha, que tinha entrado na estação dos correios e pousado perto do meu pescoço, facto que o indivíduo aproveitou para me fazer sentir que eu estava a "transgredir".
Era assim! A gente vivia permanentemente sob o signo do medo, acossado por esses indivíduos que, por todo o lado, vigiavam os nossos passos.

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