segunda-feira, abril 16, 2007

Uma hora que não conta...

Que estava a fazer ali?
Deitado na maca, naquele corredor iluminado por mortiças luzes azuis.
Por mim passavam, de vez em quando, batas verdes, com gente que me lançava um olhar indiferente, profissional.
Chegaram mais duas macas, que foram estacionadas na fila.
O anestesista, pegou na minha papelada e fez-me duas ou três perguntas. As do costume, creio eu. Porque é a primeira vez que me vejo nestas andanças.
Que estava ali a fazer?
Por que me ia entregar a alguém que ainda há pouco tempo desconhecia totalmente e que iria remexer nas minhas entranhas, para fazer o que lhe aprouvesse?
Daí a alguns minutos, alguém empurra a minha maca para a sala de operações.
-Passe ali para a mesa!
Por cima de mim, agora só vejo uns holofotes azuis e brancos, ainda apagados.
Quem estava por ali, vai lançando umas frases de conversa de circunstância, relacionada com clubes de futebol.
Sinto então a meu lado, o anestesista, que me diz qualquer coisa que não retenho.
Depois, a hora seguinte, não conta nas minhas memórias. Não estive cá...
Por isso, no passo seguinte, salto para uma outra sala, onde um enfermeiro olha para mim.
Apetece-me dizer: "mas quando é que isto começa?"
Já tinha acabado.Ainda meio adormecido, dou por mim a pensar que a nossa vida está à mercê de acasos que podem ter vários desfechos.
E que, afinal, poderia ter acontecido que, daquela hora, na passada sexta-feira, em que estive ausente, poderia não ter havido retorno.

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